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Eduardo Leão de Sousa

Diretor executivo da Unica

OpAA75

Índia: a hora é agora
“No que se refere a etanol na Índia, a hora é agora!”. Foi com essas palavras que o influente ministro de Petróleo e Gás indiano, Hardeep Puri, encerrou seu discurso na inauguração oficial do “Pavilhão do Etanol” no Salão do Automóvel indiano, o Auto Expo Motor Show, um dos maiores eventos dessa natureza na Ásia.
 
Com mais de 3 mil metros quadrados dedicados ao combustível mais limpo do mundo, o pavilhão apresentou, a mais de um milhão de indianos que visitaram a feira no início de janeiro deste ano, os primeiros modelos de motos e carros flex produzidos no país, uma novidade na região. 

Apesar de tardiamente, a Índia reúne todos os motivos que justificam a adoção dessa tecnologia com o uso do etanol, a começar pela sua significativa dependência de petróleo importado, que representa 85% do seu consumo, além de outros desafios que podem ser endereçados diretamente pelo uso do etanol: é o terceiro país que mais emite gases de efeito estufa, tendo ainda 63 de suas cidades dentre as 100 mais poluídas do mundo, segundo o site IQAir, no ano de 2021. Além disso, é o segundo maior produtor de cana-de-açúcar, matéria-prima mais utilizada no planeta para a produção do etanol.
 
Cabe destacar que essa transformação vai muito além das palavras do ministro. De fato, em 2014, o nível de mistura do etanol na gasolina era de apenas 1,5%. Em 2022, essa mistura atingiu os 10%, e o governo já anunciou que a mistura deverá atingir 20% até 2025. Ou, colocando essa evolução em valores absolutos, a aquisição de etanol pelas distribuidoras de combustíveis indianas saiu de 380 milhões de litros na safra 2013-14, para impressionantes 4,5 bilhões de litros em 2021-22; ou seja, um aumento de quase 12 vezes em apenas 8 anos! E, de acordo com dados do NITI Aayog, uma think thank de políticas públicas do governo indiano, a necessidade estimada de etanol para mistura de 20% de etanol na gasolina será de 10 bilhões de litros por ano para o período entre 2024 e 2026. Como se vê, há um mercado promissor, que irá gerar emprego e renda, ao mesmo tempo que reduzir emissões.

Para complementar, o E20 já começou a ser oferecido, ainda de forma experimental, em postos de combustíveis em 15 cidades do país, com expansão progressiva para toda a região nos próximos dois anos. Inicialmente, o E20 estará disponível em 84 bombas de gasolina de três varejistas de combustível estatais, em 11 estados/territórios da União. 

O compromisso com que a Índia abraçou o Programa do Etanol, colocando em marcha cada etapa, antes mesmo do prazo planejado, é um caso de sucesso de como governo, setor privado e instituições públicas, olhando estrategicamente para o mesmo objetivo, podem alavancar transformações significativas no país.

Em relação ao futuro, a expectativa é a de que possamos fortalecer cada vez mais essa cooperação, engajando países produtores e consumidores do biocombustível. Brasil e Índia são duas grandes economias em desenvolvimento, onde a agricultura forma a espinha dorsal de suas respectivas economias. Sendo países tropicais, os dois maiores produtores de cana-de-açúcar do mundo estão, portanto, bem posicionados para liderar, juntos, o etanol como uma commodity global e preparar o caminho para um novo mercado internacional que favoreça, em primeiro lugar, os países em desenvolvimento. Particularmente, o protagonismo geopolítico da Índia na Ásia deverá ser chave para estimular o seu uso nessa que se configura como a região mais dinâmica do planeta e, portanto, com demanda crescente por energia. 

Nesse sentido, é importante lembrar que, em 2023, a Índia irá sediar a reunião do G20 (grupo que reúne as 20 maiores economias globais) e já sinalizou que o etanol deverá ser uma das estrelas nas discussões referente à mudança climática. No próximo ano, caberá ao Brasil presidir o G20, e será uma excelente oportunidade de dar continuidade a esse processo, formando uma “dobradinha” eficaz nessa agenda.

O mundo clama por energia, e a atual guerra na Europa nos mostra os riscos da dependência da concentração de fontes energéticas (gás) e de origem do fornecimento (Rússia). Sabemos que a transição energética por meio dos biocombustíveis é uma grande oportunidade para criar e modernizar indústrias, impulsionar a inovação tecnológica, atrair investimentos e gerar empregos de alta qualidade – tudo isso contribuindo para o desenvolvimento sustentável e para a qualidade de vida das futuras gerações ao redor do mundo. 

Por ser um produto renovável, o etanol pode ser produzido, de forma sustentável e competitiva, em mais de 100 países ao redor do mundo, principalmente nas regiões tropicais e subtropicais, e ser uma efetiva alternativa de descarbonização, um dos maiores desafios deste século.