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Paulo Antonio Skaf

Presidente da Fiesp, do Ciesp, do Sesi-SP e do Senai-SP

Op-AA-39

O momento decisivo da infraestrutura

Acabar com o atraso de mais de 30 anos na infraestrutura logística é um dos maiores desafios do Brasil nos próximos anos. Não será nada fácil. É uma tarefa complexa que, além de depender de vontade política, confiança, credibilidade, grandes investimentos, parcerias sólidas com a iniciativa privada e regras muito claras – além de muita paciência, porque grandes obras levam tempo para se concretizar –, requer visão de futuro.

É importante vislumbrar um novo modelo que elimine os gargalos atuais, resgate a competitividade e proporcione utilização sustentável dos recursos do País. Não dá mais para continuar do jeito que está, com estradas esburacadas, mal sinalizadas, inseguras, com suporte de apoio precário e congestionadas; com ferrovias sucateadas, mal integradas, subutilizadas e tecnologicamente defasadas; com portos que, além de mal geridos, estão com equipamentos superados e se veem às voltas com uma burocracia irracional para desembaraçar os embarques; e com aeroportos mal geridos, mal operados e tecnologicamente defasados.

Todo esse cenário reforça o que venho dizendo há muito tempo: que, da porta para dentro das suas indústrias, o Brasil é um país pronto para competir em igualdade de condições com qualquer concorrente internacional, mas isso se torna completamente inviável quando saímos das fábricas e encontramos tanto atraso e descaso em relação às estradas, às ferrovias, aos portos e aos aeroportos. Junto com a carga tributária elevada, juros que poderiam ser reduzidos à metade, burocracia para pagar impostos, inflação fora da meta e câmbio mal calibrado, a logística constitui um custo implacável, que tem deixado marcas profundas numa economia que cresce muito abaixo de suas possibilidades.

Não cabem mais medidas paliativas ou improvisadas para tentar contornar essa situação. Se quiser, de fato, vencer o atraso, resgatar a competitividade e se tornar um grande player global, o Brasil terá de planejar, criar sinergias, focar em estratégias – e nisso pode contar com todo o apoio da indústria. O País possui profissionais e técnicos competentes para elaborar estudos e projetos – na verdade, o governo já sabe o que precisa ser feito, mas terá de superar velhos preconceitos ideológicos e hesitações nos contratos e marcos regulatórios, que vêm despertando desconfiança e dificultando a vinda de investimentos.
     
É verdade que o Governo Federal tem boas intenções e já sinalizou que pretende priorizar essa missão – que não é impossível. Lançou um ambicioso programa de concessões, o maior da história do País, que, só em rodovias e ferrovias, prevê investimentos de mais de R$ 130 bilhões nos próximos anos. Tem realizado road shows, em grandes capitais mundiais, para divulgar os projetos; já tirou do papel as primeiras concessões de rodovias e aeroportos; a modernização dos portos está caminhando – apesar da insatisfação de operadores de terminais marítimos, que pretendem manter as suas atuais concessões sob ameaça de ações judiciais; e, agora, é preciso destravar as ferrovias, que estão paradas no TCU.

Apesar dos primeiros passos, as ações governamentais ainda são tímidas e estão demorando para deslanchar. Sinal de que os grandes investidores internacionais são exigentes, querem ter mais certezas, tudo com os devidos pingos nos "is", não apenas com relação à solidez dos contratos, das regras e dos retornos que serão garantidos ao capital investido, mas também quanto ao futuro da logística no Brasil. Como será o País daqui a dez, vinte ou trinta anos? Será sustentável? Os seus meios de transporte serão integrados? Que novas frentes serão abertas no País?

Quem pretende investir no Brasil certamente quer respostas para essas perguntas. Afinal, as rodovias continuarão transportando seis de cada 10 toneladas de tudo o que é produzido no Brasil – um modelo insustentável para o crescimento econômico do País? As ferrovias, que podem transportar maiores volumes de cargas a custos mais baixos, vão deslanchar e eliminar os gargalos nos portos? E as hidrovias, o meio de transporte mais sustentável e barato, importantes para o escoamento da produção interna do agronegócio, vão sair dos projetos? Isso é o que também precisamos saber.   

E tem mais uma questão relevante para o Brasil se ocupar desde já. Quando todos esses projetos saírem do papel e as concessões começarem a deslanchar, o País precisará de muita gente qualificada para construir, operar e dirigir rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e hidrovias. O grande salto na geração de empregos virá acompanhado da necessidade de profissionais integrados às mais avançadas tecnologias, seja para operar as máquinas que irão erguer as obras, seja para operar sofisticados sistemas de controle de tráfego e embarques de cargas e passageiros – para citar apenas alguns exemplos. 

Vivemos um momento decisivo para o futuro do Brasil. O atraso de mais de trinta anos na infraestrutura logística impõe grandes desafios. Mas a missão não é impossível. Se o governo tiver vontade política e arregaçar as mangas, a indústria vai participar e ajudar no que for preciso.