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Pedro Isamu Mizutani

Vice-presidente de Etanol, Açúcar e Bioenergia da Raizen

Op-AA-40

A cana como melhor alternativa

O setor sucroenergético, iniciativa sinônimo de progresso e sustentabilidade no Brasil, está buscando mais oportunidades para contribuir para o País. O mercado está em um momento que pode ser considerado crucial para os produtos derivados da cana-de-açúcar. Não basta apenas a boa vontade e o investimento dos players do segmento, é preciso uma conscientização, do consumidor ao governo, de apostar na cadeia.

Os participantes desse mercado trabalham em prol de que o Brasil ocupe um espaço de destaque no mercado internacional, em especial com o etanol, e também que o biocombustível passe a ser oficialmente reconhecido como alternativa ambiental. No entanto é preciso somar mais peso ao time. O Brasil figura entre os países que subsidiam os combustíveis fósseis. Com a alta do dólar, a importação dos derivados do petróleo passa a pesar ainda mais na balança comercial desses países.

Portanto o etanol é uma alternativa no contrapeso: segundo a Unica, em 10 anos, o mundo demandará 26 milhões de toneladas de açúcar, e o Brasil precisará de 62% a mais de etanol. Para isso, o País terá que elevar sua moagem em 200 milhões de toneladas de cana por ano. É o momento de transformar o etanol em uma commodity. O fato é que o etanol ainda caminha para ter um maior reconhecimento de sua capacidade energética e de seu processo produtivo sustentável.

Os holofotes estão voltados para o preço, ainda o principal fator de escolha do consumidor, que, em raríssimas situações, leva em conta o fator ambiental no momento do abastecimento de seu veículo. No entanto o setor segue apostando no combustível. Um exemplo é o investimento em novas tecnologias, como o etanol de segunda geração – produto feito a partir do bagaço, folhas, cascas e outros resíduos da produção da cana-de-açúcar.

É uma alternativa para driblar os altos custos das terras e, em especial, de novas unidades de produção (greenfileds). A primeira unidade da Raízen do novo tipo de etanol entrará em produção ainda em 2014. Com a planta, serão produzidos aproximadamente 40 milhões de litros de etanol de segunda geração por ano.

A fábrica será construída anexa à unidade Costa Pinto, em Piracicaba (SP). Para a produção do biocombustível, a Raízen já possui um estoque de matéria-prima: a biomassa existente na unidade poderá ser aproveitada tanto para a geração de energia elétrica quanto para a produção do novo etanol.

Toda a expertise do setor com a criação de um novo combustível se deve à experiência de décadas do Brasil com a produção do etanol extraído da cana-de-açúcar. Em 1975, após a primeira crise do preço do petróleo, foi iniciado o programa Proálcool, que tinha o objetivo de diminuir a dependência das importações de petróleo.

Antes disso, por volta da década de 1920, o País já saía na frente ao utilizar o etanol como alternativa ao impacto de conflitos e crises mundiais. Dos anos 1970 para cá, o País desenvolveu um interesse em ampliar a produção de etanol. Tal incentivo também esteve relacionado à grande discussão internacional sobre as mudanças do clima e a importância da diminuição de emissão de CO2 na atmosfera.
Vale ressaltar que o Brasil apresenta condições naturais extremamente favoráveis para a produção da cana, fator determinante para firmar seu lugar como futuro líder do etanol no mercado internacional.

E não são somente clima e terras favoráveis que fazem do Brasil um destaque sucroenergético. O País tem tecnologia e profissionais altamente especializados, e ano a ano, vem investindo em agricultura de precisão e na melhoria do manejo, com a finalidade de elevar a produtividade da cana e, em especial, a eficiência do setor. A melhoria dos processos no campo é benéfica tanto para a sociedade quanto para o meio ambiente.

Há um melhor aproveitamento da terra, redução no uso de substâncias químicas para controle de pragas e a evolução do plantio e colheita mecanizadas. Além da importância para a evolução da produção de biocombustíveis, o setor sucroenergético contribui, consideravelmente, para a cogeração de energia elétrica.

Na Raízen, por exemplo, 13 das 24 unidades da empresa possuem infraestrutura para produzir energia a partir da queima da biomassa. Juntas, as unidades termelétricas têm capacidade de geração de 940 MW por ano. E o setor sucroenergético tem um potencial de produção ainda maior.

No início do ano, a Unica projetou que, até o fim de 2014, as usinas de cana-de-açúcar do Centro-Sul poderiam gerar até 14.000 MW por ano, o equivalente a uma usina de Itaipu. Outra vantagem da energia gerada a partir do processo produtivo da cana-de-açúcar é a localidade das unidades de produção.

Tendo como base que 60% da energia consumida no Brasil vem do Centro-Sul do País, a mesma região onde estão concentradas as unidades sucroalcooleiras, há um ganho logístico nas linhas de transmissão, diferentemente do que ocorre com as fontes eólicas, concentradas na região Nordeste.

Se o fator da proximidade fosse levado em conta, os preços em leilões de energia baixariam e, com isso, poderiam atrair mais investidores. Por enquanto as ações de contingência dos contratempos das hidrelétricas, que acabam sendo usadas quase constantemente, são as usinas a gás e a óleo (mais caras e mais poluentes). Sem contar que, nem sempre, a oferta desses combustíveis está disponível no mercado.

É importante ressaltar que há espaço para o crescimento do setor sucroenergético. O Brasil é um dos principais produtores mundiais de açúcar – a maior parte da produção nacional é escoada para outros países, como China e Indonésia. Porém é preciso que, tanto a iniciativa pública quanto a privada, acreditem que esse seja o caminho.

As oportunidades positivas, como o retorno da CIDE (Contribuições de Intervenção no Domínio Econômico) da gasolina, ou seja, o fim do subsídio ao combustível fóssil, e a valorização da bioeletricidade, devem ser mais exploradas.  

Seja no etanol, açúcar ou na cogeração de energia, a cadeia produtiva do setor é limpa e com um alto valor agregado. Ela traz desenvolvimento para o Brasil e, principalmente, para as localidades onde está inserida.