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Manoel Carlos de Azevedo Ortolan

Canaoeste e Orplana

Op-AA-03

Da fronteira para dentro

Depois de baixada a poeira sobre as animadas previsões para o desempenho do agro-negócio brasileiro, vêm as preocupações. De fato, as exportações do setor são hoje responsáveis pela recuperação da balança comercial, representando 42% dos embarques totais e as expectativas são positivas no que se refere ao aumento de produção, o Brasil é líder no mercado mundial de algumas das mais importantes commodities e tem todas as condições de ampliar essa sua participação.

No entanto, para isso, é preciso resolver um problema dentro de suas próprias fronteiras: o esgotamento logístico e a falta de investimentos em infra-estrutura. É um gargalo conhecido, que deve ser encarado com celeridade, sob o risco de o Brasil colocar a perder todo seu potencial no mercado externo. Não adianta produzir mais e mais se não se consegue colocar a carga de forma e em tempo adequados nos portos.

O fato é que a produção brasileira cresceu num ritmo muito maior do que os investimentos na modernização da infra-estrutura. A safra brasileira de grãos, por exemplo, mais que dobrou nos últimos 13 anos e a estrutura logística só deteriorou. As exportações do setor batem recordes sucessivos: nos dez primeiros meses de 2004, os embarques brasileiros do agronegócio somaram US$ 33 bilhões, o maior valor acumulado nos últimos 15 anos, superando até o desempenho registrado em 2003, que foi de US$ 30 bilhões.

O Brasil detém a liderança nas exportações mundiais de café em grão e solúvel, soja, conquistou a liderança no ranking dos embarques de carne bovina e de carne de frango, detém 80% do mercado internacional de suco de laranja e é o maior exportador mundial de açúcar, com ampliação no volume de álcool embarcado.

Isso demonstra que a produção dentro das fronteiras está a todo vapor, mas há um descompasso entre o crescimento da atividade agropecuária, da economia e os investimentos em infra-estrutura. De acordo com a Associação Brasileira de Infra-estrutura e Indústrias de Base, os recursos aplicados na modernização da infra-estrutura têm decaído nos últimos anos.

Foram US$ 18 bilhões em 2000, atingiram US$ 20 bilhões em 2001 e começaram a despencar a partir de então. Em 2003 esses recursos ficaram em US$ 6,6 bilhões e em US$ 8 bilhões, em 2004. O reflexo pode ser sentido em estatísticas como as da Confederação Nacional dos Transportes, que apontam que 76% das rodovias analisadas apresentam algum grau de imperfeição.

Segundo a CNT, 60,5% das cargas e 96,6% dos passageiros são transportados pelas estradas e a situação precária das rodovias acaba elevando o chamado “custo Brasil” em cerca de 30%. Essa deficiência compromete a integração com as demais modalidades, gerando restrições operacionais e dificultando o crescimento da intermodalidade.

Além disso, a deficiência na estrutura logística acaba reduzindo a competitividade do produto brasileiro. Em 2003, estudo encomendado pela Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais) mostrou que o preço médio pago pela tonelada de soja nos portos dos Estados Unidos, do Brasil e da Argentina foi de US$ 216.

Mas, enquanto o custo do frete até o porto e as despesas portuárias correspondem a US$ 18 por tonelada nos Estados Unidos e a US$ 17, na Argentina, o precário sistema de escoamento brasileiro retira do preço de venda US$ 41 por tonelada. Segundo o estudo, o custo logístico adicional no Brasil naquele ano correspondeu a US$ 864 milhões.

O governo federal aposta nas PPP´s (Parcerias Público-Privadas), para poder minimizar os gargalos da logística. A lei deverá agilizar os investimentos e, com ele, o governo federal espera poder cumprir o previsto no Plano Plurianual 2004-2007 para o setor, que são recursos de R$ 191 bilhões. Assim como todas as outras cadeias de produção do agronegócio, o setor sucroalcooleiro também depende de um melhor sistema de escoamento da produção.

A Petrobras anunciou que pretende investir na instalação de dutos, tanques para o escoamento e armazenamento do álcool produzido no Estado. O setor produtivo também tem investido em estrutura portuária para agilizar as exportações. Mas depende também dos modais rodoviários e ferroviários. As perspectivas para o açúcar e o álcool brasileiros são animadoras. No ano passado, o Brasil exportou 2,47 bilhões de litros de álcool, três vezes mais do que em 2003. No caso do açúcar, os embarques brasileiros somaram 15,76 milhões de toneladas.

Em tempos de Protocolo de Kyoto, que entra em vigor em fevereiro deste ano e que prevê a redução das emissões de gases causadores do aquecimento global, as atenções mundiais sobre o álcool brasileiro devem ser ampliadas significativamente e as exportações de açúcar devem ser incrementadas por conta da decisão da OMC contra os subsídios praticados na Europa.

E as estimativas são positivas para outros setores do agronegócio. A triste constatação é que o Brasil não vai conseguir sustentar seu crescimento econômico se não resolver esses gargalos. Temos capacidade para ampliar a produção, com qualidade reconhecida no cenário internacional. Mas, para chegar ao mercado externo temos de vencer as barreiras impostas pelas deficiências da nossa infra-estrutura.