Presidente do Conselho do ISSCT - International Society of Sugar Cane Technologists e Diretor do Cincae
No Equador, a produção de açúcar ocorre nas regiões entre as latitudes 03°S e 00°30'N, da linha do Equador, e longitude 78°30' W. A maior parte da produção se concentra na área inferior do rio Guayas, próximo de Guayaquil, nas províncias de Guayas, Los Ríos e Cañar, onde apenas 2,5 horas médias por dia de radiação líquida (sol) são registradas durante o ano.
As usinas têm período de colheita de seis meses, entre junho e dezembro, quando se colhem canas com idade de 12 a 13 meses, com média de moagem de aproximadamente 10 mil toneladas por dia. Outras pequenas áreas de produção estão localizadas nos vales interandinos, das províncias de Imbabura e Loja, em altitudes mais elevadas, de cerca de 800 a 1200m de altitude, com moagem média de cerca de 800 toneladas por dia.
A indústria açucareira equatoriana é uma das mais modernas da América Latina. Atualmente, abrange uma área de cerca de 80.000 hectares de cultivo de cana-de-açúcar, produzindo, em média, 550.000 toneladas de açúcar e 30 milhões de litros de etanol. Essa indústria apoia mais de 40.000 trabalhadores e suas famílias. Melhorias no campo e na indústria são constantemente obtidas por meio da incorporação de novas tecnologias e equipamentos que permitem maior eficiência, tanto na produção da cana quanto na extração do açúcar. Além disso, produz-se energia por meio de cogeração e bioetanol, para apoiar grandes projetos ambientais do Equador.
O Centro de Pesquisa em Cana-de-Açúcar do Equador – CINCAE, foi criado pelas três maiores usinas do país, La Troncal, San Carlos e Valdez, com o objetivo de intensificar os recursos em pesquisa científica. Esse centro alcançou melhorias significativas em diversas áreas, como no controle biológico de pragas e manejo de doenças, estabelecimento de viveiros e fornecimento de mudas sadias, manejo de solos e recomendações de adubação, entre outras tecnologias.
O objetivo principal do centro de pesquisa é a obtenção de novas variedades e o desenvolvimento de novas tecnologias. Desde o início das atividades, em 24 anos, o investimento em pesquisa científica realizado pelas três usinas rendeu diversos frutos, sendo muito importantes as contribuições tecnológicas no manejo integrado de pragas, diagnóstico e manejo de doenças, manejo de viveiros saudáveis, avaliação da resposta de clones e variedades à adubação com macro e micronutrientes, assim como atividades relacionadas à formação e ao treinamento de profissionais, por meio de seminários, dias de campo e publicações técnicas e científicas.
Sem dúvida, a contribuição mais importante dos últimos anos foi a entrega de nove variedades de cana obtidas no Equador: ECU-01, EC-02, EC-03, EC-04, EC-05, EC-06, EC-07, EC-08 e EC-09. Até dezembro de 2021, mais de 26.000 hectares de cana foram colhidos com essas variedades, com produções superiores às variedades importadas de outros países, como Ragnar, CC85-92, B76-78, entre outras.
Desafios na produção de cana-de-açúcar no cenário de mudanças climáticas: As atividades humanas contínuas estão aumentando as emissões de gases do efeito estufa, aumentando a temperatura a uma taxa que resulta no derretimento das geleiras, nos padrões de chuva imprevisíveis e nos eventos climáticos extremos. O ritmo acelerado das mudanças climáticas combinado com a população global e o esgotamento dos recursos agrícolas ameaçam não apenas a safra de cana-de-açúcar, mas também a segurança alimentar global.
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas – IPCC, em 2007, definiu os seguintes impactos principais das mudanças climáticas:
• Aumentos na temperatura média resultarão em: 1) aumento da produtividade das culturas em regiões temperadas de alta latitude, devido ao prolongamento do período de cultivo (safra); 2) redução da produtividade das culturas em regiões tropicais e subtropicais de baixa latitude, onde o calor do verão já está sendo um fator limitante; e 3) redução da produtividade devido ao aumento das taxas de evaporação do solo.
• Mudanças na quantidade e distribuição de chuva afetarão as taxas de erosão e a umidade dos solos, fatores esses que afetam negativamente a produtividade das culturas agrícolas. A precipitação aumentará em regiões de altas latitudes e diminuirá na maioria das regiões subtropicais de baixa latitude – algumas em cerca de 20%, levando a longos períodos de seca.
• O aumento das concentrações atmosféricas de CO2 aumentará o potencial de algumas culturas, mas outros aspectos da mudança climática (por exemplo, temperaturas mais altas e mudanças de precipitação) podem compensar qualquer efeito benéfico de aumento dos níveis de CO2.
• Os níveis de poluição do ozônio troposférico (ou ozônio ruim que pode danificar tecidos vivos e quebrar certos materiais) podem aumentar devido ao aumento das emissões de CO2. Isso pode acarretar temperaturas mais altas que compensarão o aumento do potencial das culturas resultante de níveis mais altos de CO2.
• Mudanças na frequência e gravidade das ondas de calor, secas, inundações e furacões continuam sendo um fator-chave de incerteza que pode afetar potencialmente a agricultura.
• As mudanças climáticas afetarão os sistemas agrícolas e podem levar ao surgimento de novas pragas e doenças.
O desafio é aplicar ferramentas tradicionais de melhoramento e biotecnologia para o desenvolvimento de cultivares adaptadas às mudanças climáticas. As culturas agrícolas podem ser modificadas mais rapidamente através da biotecnologia do que das técnicas convencionais, acelerando, assim, a implementação de estratégias para enfrentar as mudanças climáticas rápidas e severas.
Cultivares biotecnológicas modernas, resistentes a pragas e doenças, têm se desenvolvido continuamente à medida que novas pragas e doenças surgem com as mudanças no clima. Variedades resistentes também reduzirão a aplicação de pesticidas e, portanto, a emissão de CO2.
Tolerância a vários estresses precisa ser desenvolvida em resposta às mudanças climáticas: cultivares tolerantes à salinidade, à seca, ao frio, ao estresse por calor. A melhoria da resiliência da cana-de-açúcar a ambientes extremos causados pelas mudanças climáticas é esperada nos próximos anos. Portanto, a produção de açúcar, bioetanol e eletricidade a partir da cana-de-açúcar deve ser priorizada para atender às demandas crescentes da população mundial.
A pesquisa em tecnologia tradicional e biotecnológica para mitigar o aquecimento global também deve ser iniciada para sustentar a utilização de novos produtos. Entre elas, está a indução de estruturas nodulares nas raízes de cereais não leguminosas para fixação de nitrogênio.
Isso reduzirá a dependência dos agricultores de fertilizantes inorgânicos. Outra é a utilização do excesso de CO2 no ar por culturas modelos, como a cana-de-açúcar e o milho. Nessas culturas, as vias C4 podem assimilar e converter CO2 eficientemente em produtos de carbono durante a fotossíntese e produzir alimentos e energia.
Ambas as culturas podem fornecer biocombustíveis para reduzir as emissões de carburantes fósseis, que estão aumentando a poluição na terra. No que se refere às pesquisas, os pesquisadores devem, com o apoio de indústrias e governos, buscar e desafiar uma produção sustentável da cana-de-açúcar.
A direção-chave das pesquisas científicas será levar em conta o genótipo, que precisa ter condições ou ambiente favorável para crescer, com o menor impacto possível, para evitar efeitos sobre o meio ambiente.