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Karine Miranda Oliveira

Pesquisadora do CTC

Op-AA-32

Seleção assistida por marcadores moleculares

O projeto de seleção assistida de variedades por marcadores moleculares, desenvolvido pelo CTC - Centro de Tecnologia Canavieira, leva à perspectiva de que, brevemente, será possível reduzir pela metade o prazo de obtenção de novas variedades de cana-de-açúcar com melhoramento genético. Hoje, um programa de melhoramento genético de cana leva 10 anos, em média, para chegar a uma nova variedade, partindo do cruzamento de variedades já existentes.

A tecnologia, já aplicada em outras culturas, como o milho e a soja, enfrenta obstáculo maior em relação à cana, devido à complexidade genética dessa cultura, que resulta em impacto direto na descoberta e desenvolvimento de marcadores moleculares.

Essa complexidade, aliada à forma de propagação vegetativa da cana, é uma das causas do longo tempo que leva o melhoramento genético da cultura para  o lançamento comercial de uma nova variedade.

A cana-de-açúcar tem uma complexidade genética muito grande. É um organismo poliploide com muitos cromossomos repetidos em seu genoma. Essa característica acrescenta dificuldade a qualquer desenvolvimento genético em cana. Por outro lado, desafia os cientistas a encontrar soluções para esse problema, e isso é muito estimulante.

O CTC se equipou para vencer essas barreiras e está no caminho de redução do tempo e do custo para obtenção de novas variedades, com o projeto que desenvolve desde o final de 2007. Recentemente, o Centro de Tecnologia Canavieira investiu em uma plataforma de última geração, baseada em espectrometria de massa, uma das mais modernas do mundo, para análise de marcadores moleculares em cana-de-açúcar.

A partir daí, os avanços alcançados são muito animadores. Foi desenvolvida uma tecnologia de identificação genética de variedades (fingerprinting), que permite conhecer uma variedade de cana com segurança, a partir de qualquer parte da planta, por exemplo, pela análise em laboratório de uma simples folha trazida do campo. É uma importante ferramenta para garantir a qualidade do germoplasma e para a rastreabilidade de variedades.

Para se chegar a esse tipo de informação, é preciso conhecer o DNA da planta, como se estivéssemos descobrindo a impressão digital da variedade. É um processo bastante semelhante ao teste de paternidade realizado em humanos.

Uma variedade de cana tem algumas características no DNA que são únicas e não existem em outra variedade. Se conhecermos a marca de cada uma delas, seremos capazes de identificá-las posteriormente. O trabalho envolve a construção de um banco de dados com os dados do DNA de cada uma das variedades, tanto as desenvolvidas pelo CTC como as de outros institutos, sendo isso essencial para efeito de comparação.

O marcador molecular pode assegurar se está sendo utilizada a variedade correta no início de um projeto de pesquisa, assim como contribui para o programa de melhoramento se tornar mais eficiente na obtenção de novas variedades.

O CTC investe em marcadores moleculares desde a década de 90, mas a estratégia anterior baseava-se no desenvolvimento de projetos de pesquisa em parceria com universidades ou através do consórcio internacional, International Consortium for Sugarcane Biotechnology (ICSB), do qual o CTC foi fundador e participa desde então.

De 2007 para cá, o CTC internalizou a pesquisa, e daí os progressos começaram a ser mais evidentes e direcionados. Trata-se de um estudo bem embasado, cujo conhecimento foi sendo acumulado durante os anos de pesquisa acadêmica. Hoje, temos condições de entender o que estamos observando e direcionar o desenvolvimento para aplicação comercial.

A tecnologia na qual se baseia o estudo é bastante sofisticada e tem custo elevado, por isso os esforços devem ser focados. Além disso, a tecnologia ainda necessita de alguns anos de desenvolvimento, estimados em cerca de dois a três, mas, certamente, vai gerar aumentos expressivos de produtividade, antecipando o lançamento de variedades e os ganhos que o produtor espera.

A boa perspectiva leva em conta que o marcador molecular, sendo utilizado no processo de obtenção de novas variedades, agrega vantagem de aumento da eficiência na seleção genética da cana-de-açúcar. A ideia é antecipar a seleção de características através da observação do material genético da variedade, permitindo que se possa ter acesso a determinada característica – por exemplo, nível de produtividade ou teor de açúcar, antes de a planta estar apta para produção. Isso confere ganho em seleção, e daí se derivam os ganhos em eficiência.

O CTC já está aplicando marcadores moleculares em seu Programa de Melhoramento de Variedades, e, em breve, teremos variedades liberadas com o uso dessa tecnologia. Essa ferramenta agrega valor ao que o CTC já vem realizando em inovação no melhoramento de cana-de-açúcar, desenvolvendo variedades adaptadas a diferentes condições climáticas, pelo processo de regionalização que está sendo realizado há alguns anos.

Dessa forma, é possível oferecer ao produtor variedades com maior produtividade, adaptadas a cada região. Todas as inovações aplicadas ao desenvolvimento de variedades CTC contribuem para a redução pela metade do tempo que normalmente seria consumido com melhoramento, gerando vantagem para o produtor e antecipação dos ganhos de produção.