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Marco Antonio da Fonseca Viana

Presidente da GIFC - Grupo de Irrigantes e Fertirrigantes

Op-AA-36

Um grupo de estudo que nasce grande

O Grupo de Irrigação e Fertirrigação de Cana-de-Açúcar (GIFC) surgiu por iniciativa de um grupo de fornecedores de equipamentos para irrigação e de uma empresa de consultoria, interessados em difundir o uso da irrigação em cana-de-açúcar, por entender que essa prática poderia contribuir para a recuperação da produtividade agrícola e da quantidade de sacarose de nossos canaviais, índices que têm sofrido quedas históricas nos últimos anos, principalmente na região Centro-Sul do Brasil.

Num primeiro movimento, foi formado um grupo de estudo denominado a Cana Pede Água. Após um ano de existência, baseados nas muitas reuniões realizadas, esse grupo sintetizou toda a massa de informação recolhida sobre os diversos temas ligados à pratica da irrigação de cana no Brasil, evidenciando, de forma clara, as dificuldades que o produtor encontra para iniciar ou aprimorar a prática racional e economicamente viável da irrigação e/ou da fertirrigação de cana.

Essas reflexões geraram uma série de questionamentos que culminaram em uma lista de perguntas, ainda sem respostas, que precisavam ser elucidadas para que a irrigação conseguisse ser um diferencial de produção e produtividade no País, contribuindo de forma efetiva para se recuperar os níveis de produtividade de cana anteriormente apurados, considerando as condições edafoclimáticas regionais. As questões de destaque foram:

01. Como deve ser o manejo da cana irrigada para gerar mais sacarose? Cortar a irrigação 30 dias (ou mais) antes da colheita é o melhor caminho? E como usar os maturadores? Quais os maturadores que dão melhor resposta à cana irrigada?
02. Cana irrigada é mais suscetível a pragas? Os controles de pragas a serem feitos são os mesmos para cana de sequeiro?
03. Cana irrigada é mais suscetível a doenças? Há diferenças quanto à cana de sequeiro?
04. O fato de a cana irrigada fechar mais rápido e se poder controlar a umidade para uso dos herbicidas reduz o custo de controle de daninhas?
05. Há vantagens adicionais da quimigação (levar químicos ao canavial com a irrigação) frente ao manejo tratorizado da cana de sequeiro?
06. A colheita mecanizada impacta mais ou menos o canavial irrigado? Há mais perdas? E impurezas vegetais e minerais? A velocidade de trabalho da colhedora será menor?
07. Há vantagem na partição da nutrição nitrogenada da cana irrigada? Pode-se reduzir o custo com adubação através da maior eficiência de sua distribuição?
08. Quais são as variedades de cana mais responsivas à
irrigação? Os ambientes de produção interferem na escolha das variedades de cana a serem irrigadas?
09. Quanto uma cana que não enfrenta a restrição de falta de água pode produzir a mais que uma cana de se-
queiro? Quais fatores tornam-se as principais restrições com a água atendida?
10. O cálculo do déficit hídrico muda significativamente, considerando dados médios decendiais em comparação com os dados mensais?
11. Cana irrigada apresenta mais ou menos ATR do que a cana de sequeiro?
12. O comportamento de queda de produtividade corte a corte da cana de sequeiro é igual ao da cana irrigada ou é menor?
13. Se a soca da cana irrigada apresenta sua maior taxa de crescimento pouco antes de ser cortada com 12 meses, por que ela não é cortada com 13 meses ou até mais?
14. A definição do espaçamento de cana para ganho de produtividade é relevante para canaviais irrigados? Quais os melhores espaçamentos para a cana irrigada?
15. A cana irrigada minimiza a diferença entre diferentes ambientes de produção, ou seja, é uma solução para os ambientes D e E?
16. A cana irrigada produz mais palha do que a cana de sequeiro? Se sim, quanto?
17. A cana irrigada é mais apta para projetos de cogeração via bagaço e palha?
18. Para se atingir o potencial produtivo da cana irrigada é necessário que o solo esteja sempre úmido, ou seja, que a Evapotranspiração Potencial da Cana (ETpc) esteja sempre 100% atendida?
19. Caso a cana não necessite ter sempre sua ETpc em 100% para atingir sua produtividade potencial, quanto abaixo dos 100% seria o limite técnico-econômico (ou seja, qual a efi-
ciência ideal de atendimento da ETpc)?
20. Pode-se traçar um paralelo entre a eficiência de atendimento da ETpc e a eficiência de funcionamento do sistema de irrigação escolhido?
21. No caso da cana, além de se irrigar o canavial ao longo de todo o seu ciclo produtivo, há outras alternativas econômicas a serem consideradas, tais como: a. irrigar o canavial no último mês antes de colher; b. irrigar o canavial a ser colhido no final da safra; c. irrigar o canavial colhido no meio da safra para acelerar sua brotação; d. irrigar o viveiro de mudas para ter 2 colheitas por ano; e. irrigar o canavial a ser reformado para se obter mais um corte no início da safra seguinte e reformá-lo logo em seguida.

A partir desse momento, o grupo entendeu que o trabalho de estudo, análise e divulgação das melhores práticas de irrigação deveria contar com a participação de produtores de cana e técnicos da área de irrigação. Assim, convidou alguns dos participantes das muitas discussões havidas para formalizar a montagem de um grupo que tivesse por meta discutir de maneira profunda esse polêmico e importante tema, o que culminou na formação do GIFC, atualmente com 29 participantes, dentre consultores, fornecedores de cana e representantes de 83 usinas, aproximadamente 20% das usinas do País.

O GIFC é uma associação sem fins lucrativos, que reúne representantes das empresas fabricantes de produtos e subprodutos derivados da cana-de-açúcar, produtores de cana-de-açúcar, além de profissionais liberais, consultores, instituições de pesquisa e prestadores de serviço ligados à irrigação e fertirrigação de cana-de-açúcar sem vínculo com fabricantes de sistemas, peças e acessórios de irrigação e/ou fertirrigação. Seu principal objetivo é promover, incentivar e fomentar a evolução dos conhecimentos de toda e qualquer forma de irrigação e fertirrigação de cana-de-açúcar.

O grupo de estudo do GIFC entende que irrigação da cana, observando as condições edafoclimáticas regionais por meio da definição dos ambientes de produção e seus respectivos manejos de épocas de plantio e colheita, associada às práticas de adubação e, em especial, de demais tratos culturais e do manejo varietal adequado, certamente resultará em benefícios acima dos já conseguidos até agora em regiões já tradicionalmente usuárias de irrigação e fertirrigação. Temos como premissa que precisamos aprender como usar toda água disponível na natureza, oriundo do  solo, chuvas e/ou transferida dos mananciais para o solo e/ou para as plantas, de acordo, principalmente, com a evapotranspiração potencial regional e, inclusive, microrregional.

Os resultados desses experimentos poderão responder  ao questionamento inicialmente listado, bem como direcionarão as boas práticas nas operações da irrigação de canaviais e ajudarão a entender melhor a importância e a influência da irrigação de cana para a sociedade brasileira de forma geral. A primeira reunião do GIFC, realizada em fevereiro de 2013, na sede do IAC de Ribeirão Preto, teve a intenção de dar sustentação aos trabalhos da nossa equipe técnica, que começa a se formar.

Profundos estudos sobre irrigação e fertirrigação, desenvolvidos no Brasil e no exterior, tem sido apresentados nestas reuniões mensais, com a participação de cientistas como Marcos Landell, Hélio do Prado, do indiano Soman Padmanabhan, bem como de representantes do Governo Federal, expondo informações efetivamente práticas sobre o regime de isenção de impostos federais na aquisição de sistemas de irrigação.

Com ações dirigidas como essas, o GIFC busca conduzir seus trabalhos de forma a orientar os futuros experimentos de campo e direcionar, de forma prática, os investimentos em tais sistemas. No site "www.gifc.agr.br", está sendo disponibilizada uma biblioteca virtual, com as produções desse grupo de estudo.  O GIFC não deseja ser um mero promotor de palestras, mas sim de divulgação do aproveitamento desse recurso, que entendemos ainda não ter sido devidamente explorado de forma agronomicamente correta, economicamente viável e ambientalmente responsável na produção de cana-de-açúcar: a água!