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Marcelo Mancini Stella

Vice-presidente da ETH Bioenergia (Grupo Odebrecht)

Op-AA-26

O crescimento exige disciplina

A primeira década do século XXI consolida a tendência de os principais países do mundo buscarem novas fontes de matéria-prima e uma diversificação da matriz energética, quer por uma demanda ecológica de sustentabilidade, quer pela iminência dos altos custos de petróleo. Isso se traduz numa grande oportunidade de aumento de demanda de etanol no mundo, como combustível ou como uma fonte alternativa de matéria-prima para os plásticos verdes e para o próprio ETBE.

Quando observamos o cenário mundial do potencial de demanda de etanol, considerando as novas normas americanas de combustíveis renováveis, as normas de baixas emissões da Califórnia, as metas de adição de etanol à gasolina na Europa, os movimentos na China, no Japão, vislumbramos um potencial de aumento de até 40 bilhões de litros de etanol no mundo até 2015, sem considerar o Brasil.

A liderança do Brasil é inconteste. Há mais de trinta anos que se usa etanol no nosso país. As vantagens competitivas que nós temos em relação a outros países produtores e outras culturas são realmente expressivas. No entanto, há muito mais competitividade por vir, como a mecanização de 100% de colheita e de plantio, as operações totalmente integradas, a otimização do uso de água, novas variedades de cana com muito mais produtividade, flexibilidade de matéria-prima com o etanol celulósico, a transgenia, que ainda nem começamos a explorar, as novas tecnologias de ruptura em fermentação.

Todo esse conjunto de oportunidades, tanto através de tecnologias evolutivas como de tecnologias de ruptura, trará muito mais competitividade e produtividade ao etanol brasileiro. Com relação à projeção de demanda de etanol no Brasil, temos em 2010 uma frota de 25,8 milhões de veículos com aproximadamente 50% de veículos flex.

Devemos chegar a 2016 com mais de 50 milhões de veículos, dos quais 80% deverão ser flex. Em 2016, a demanda potencial de etanol combustível deverá ser de 60 bilhões de litros. No que se refere às oportunidades para o uso do etanol em outras aplicações, como plásticos verdes, o polietileno, PVC, PET e outros e também como matéria-prima para o ETBE, partimos de um consumo de menos de 500 mil m3, em 2010, para  mais de 2 bilhões de litros, a partir de 2015 e 2016.

Considerando apenas as projeções de demanda que o Brasil deverá ter até 2016, sem levar em conta o potencial internacional, podemos afirmar que será exigido um acréscimo de cerca de 5 milhões de hectares plantados, com investimentos de mais de US$ 50 bilhões. O Brasil vai atender a essa demanda com produtividade, mas, sobretudo, com sustentabilidade. O Brasil tem  851 milhões de hectares, dos quais 330 milhões são terras agricultáveis.

Destas, temos, atualmente, 18% cultivadas, ou seja, 60 milhões de hectares. A cana ocupa 2,4%, ou seja, 8 milhões de hectares, enquanto as pastagens chegam a quase 50%, e as pastagens degradadas, a quase 10%. Temos 111 milhões de hectares de potencial de crescimento, sem contar os disponibilizados em pastagens.

Portanto, o Brasil tem condições de atender a essa demanda sem diminuir a produção de alimentos, sem fazer desmatamento ou avançar em áreas ambientalmente sensíveis. Tudo isso nos leva a um cenário de macroestratégias com grandes oportunidades. Primeiro, existe uma crescente preocupação internacional com a segurança energética e com os índices de emissões de CO2.

Segundo, o etanol faz parte da agenda estratégica brasileira,  já é assunto de Estado e não mais de Governo. O forte crescimento da demanda interna acompanhada pela expansão internacional, o potencial crescimento do uso de eletricidade de biomassa, a profunda evolução do setor, a entrada de novos atores, a viabilização de importantes sistemas logísticos com dutovias, hidrovias, terminais, o aumento dos custos de produção do petróleo  e, ao contrário, a redução de custo que se projeta para o etanol, com um potencial de inovação e de ruptura tecnológica muito grandes, abrem  um potencial muito significativo no futuro.

E foi a partir daí que a Odebrecht decidiu, em 2007, entrar no setor sucroenergético com a criação da ETH Bioenergia, que se iniciou com a aquisição de duas usinas existentes, em São Paulo e Mato Grosso do Sul. A ETH tem a sua estratégia competitiva pautada por quatro pilares. O primeiro é produção em polos que garantam escala e que permitam a exploração intensiva de tecnologia.

O segundo é estabelecer 100% de mecanização no plantio e na colheita. O terceiro é a produção de energia a partir da biomassa que permita estabelecer uma equação financeira complementar muito importante para o negócio. E por final, um foco muito grande em integração comercial, buscando soluções logísticas competitivas.

A ETH está organizada por polos. Um polo em São Paulo – com Alídia e UCP; um no Mato Grosso do Sul – com Eldorado e Santa Luzia; outro formado pela Morro Vermelho-GO (recém-inaugurada), Alto Taquari-MT (a ser inaugurada em 2010), Água Emendada-GO e Costa Rica-MS (a serem inauguradas em 2011) e o quarto pela Rio Claro-GO. Com essas nove usinas, a ETH chegará, em 2012, com mais de 3 bilhões de litros de etanol produzidos e mais de 2,7 GWh produzidos. E, na visão da ETH, a sustentabilidade tem que ser completa.

Ela transcende a visão da sustentabilidade ambiental. Na nossa visão, a sustentabilidade tem seis vetores. Não em ordem de importância, o primeiro é disciplina financeira – uma empresa que vem num ritmo de crescimento tão acelerado tem que ter uma disciplina financeira muito grande. O segundo é saúde e segurança nas áreas industrial e agrícola – nós temos a ambição de ter os índices de SSMA (Saúde, Segurança e Meio Ambiente) nos níveis das indústrias química e petroquímica mundiais.

O terceiro é um foco muito grande em sustentabilidade ambiental – a ETH tem programas de responsabilidade ambiental em todas as áreas em que opera. O quarto é a governança corporativa – a ETH já se prepara para uma oferta inicial de ações em um ou dois anos e, portanto, toda sua governança corporativa já se adapta a esse novo modelo que se avizinha. O quinto é a relação com os integrantes – as pessoas estão no centro da cultura da Odebrecht, gerando oportunidades de envolvimento pessoal e profissional.

E o sexto, a responsabilidade social – em todas as áreas em que a ETH atua, ela tem um programa social com as comunidades, envolvendo as autoridades, os moradores e suas associações. Assim, com esses seis vetores, acreditamos que a ETH será uma empresa sustentável, produzindo e comercializando energia sustentável.