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Jaime Lacerda de Almeida

Consultor especialista no sistema sucroalcooleiro

Op-AA-06

A evolução da qualidade do álcool no Brasil

Até o final da década de 1930 e o início da década de 1940, todos os aparelhos de destilação existentes no Brasil eram importados e o material utilizado era o cobre. Não havia, até então, uma exigência por parte do mercado brasileiro de álcoois de boa qualidade, pois não existiam fábricas de bebidas de qualidade refinada e a indústria de cosméticos praticamente não consumia álcoois finos.

Produzíamos álcool hidratado e já naquela época também produzíamos álcool anidro com os seguintes processos: processos azeotrópicos (benzol e tricloetileno); processo de destilação extrativa (glicerina); processo pelos sais (Hiag), destacando-se que estes dois últimos produziam álcoois de muito boa qualidade. Não havia demanda para o álcool fino, em função disso, o mesmo não era produzido.

Então, na década de 1950, estimulou-se em nosso país o pensamento na produção de um álcool com qualidade superior. A usina Maringá, em Araraquara, SP, foi, sem dúvida, uma pioneira. Seu proprietário, Sr. Graciano Afonso, era um apaixonado por álcool neutro, a ponto de deixar de fumar para poder avaliar melhor a qualidade organoléticas do álcool que produzia em sua unidade.

Durante alguns anos, sua destilaria foi evoluindo em qualidade e chegou a produzir um excelente álcool, contudo, os custos de instalação eram muito elevados. Para alcançar seu intento, foi construída uma instalação com várias colunas: Coluna de epuração de vinho, coluna de esgotamento do vinho, coluna de epuração de flegma, coluna de concentração de flegma, coluna de produtos pesados, coluna demetiladora ou final.

Com todas essas colunas e a eliminação dos produtos secundários em todas elas, a produção de álcool neutro não devia passar de 60 a 70% de todo álcool entrado na instalação. Na mesma ocasião, em Recife, PE, a Bacardi montava a primeira instalação na produção de álcool neutro, utilizando processos modernos e com alta recuperação de álcool.

Na década de 1960, foi instalada a primeira destilaria de álcool neutro em Piracicaba, SP, pelo processo de hidrosseleção, processo desenvolvido nas Usines de Melle, na França, pelo engenheiro M. Mainçon. O sistema desenvolvido é realmente revolucionário, pois permite produzir álcool da melhor qualidade em apenas três colunas, com uma extração de produtos secundários extremamente baixos. A recuperação de álcool neutro é superior a 95% do álcool entrado.

A qualidade do produto obtido é bem superior aos produtos elaborados nas décadas passadas. O Brasil é hoje um produtor de álcool da melhor qualidade. No Nordeste, mais precisamente nos estados de Pernambuco e Paraíba, há muitos anos, exporta-se para o mercado europeu, um grande contingente de álcool neutro, e no estado da Paraíba, a destilaria Tabu produz álcool anidro neutro, com elevada graduação alcoólica (99,95 mínimo) para a Suíça.

São Paulo hoje também é um grande produtor de álcool neutro, abastecendo o mercado interno e também exportando. A usina Ester, em Cosmópolis, SP, e a usina Santa Elisa, Sertãozinho, SP, produzem um álcool de altíssima qualidade. Comentaremos a seguir sobre como produzir álcool de qualidade, utilizando o sistema Mainçon. O engenheiro Mainçon desenvolveu seu processo baseado no fato simples, porém muito eficiente, de que, quando fazemos uma lavagem com água quase na fervura do álcool ou flegma a ser purificado, provocamos uma auto-evaporação violenta, pois enquanto a água ferve a 100ºC, o álcool ferve a 78ºC, e as flegmas mais pobres a 80-81ºC.

Nessa auto-evaporação, as impurezas com ponto de ebulição menor que a do álcool abandonam a coluna seguindo para os condensadores e as do ponto de ebulição maior, como os álcoois superiores do tipo butanol e amílico, sobem por arraste de vapor. No entanto, para que a hidrosseleção funcione bem, alguns preceitos devem ser seguidos rigorosamente.

A taxa de refluxo da coluna de hidrosseleção deve ser de aproximadamente 1 para 60, calculada sobre o álcool de segunda extraído. Geralmente, se a matéria prima não for de qualidade muito ruim, a extração em torno de 1,5% seria suficiente. Ainda na hidrosseleção, devemos proceder a lavagem com água quente, numa tal proporção que, na base da mesma, se tenha um flegma em torno de 15%.

Com essa graduação, todos os componentes secundários que acompanham o álcool e que vieram dos mostos fermentados comportam-se como produtos de cabeça a flegma muito pura. Com relação à coluna de concentração, deve ter um número de pratos maior do que as convencionais, pois a graduação desejada deverá ser acima de 94% peso. Geralmente opera-se com 94,3%.

Esse álcool já tem um grau de pureza muito bom, contudo, devemos encaminhá-lo para a última coluna chamada de coluna demetiladora ou coluna final, com o objetivo de eliminarmos os traços de produtos leves e sobretudo o metanol (nome da coluna), opera com uma taxa de refluxo bem alta e a extração de álcool de segunda gira em torno de 1,5%, como na hidrosseleção e na concentradora. Operando desse modo, teremos um álcool de qualidade superior, ou seja, álcool extra-neutro ou surfin - terminologia adotada pelos franceses. O processo M. Mainçon (Usines de Melle) prima pela simplicidade e altos rendimentos de produto final. A coluna hidrosseletora foi realmente uma idéia grandiosa.