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Godofredo Cesar Vitti

Professor de Fertilidade do Solo, Adubos e Adubação da Esalq-USP

Op-AA-24

Nutrição e adubação da cana-de-açúcar

A adubação da cana-de-açúcar é definida pela necessidade nutricional da cultura (planta), subtraindo os nutrientes fornecidos pelo solo e multiplicando por um fator de eficiência da adubação (f).

Adubação= (Planta-Solo)xf

O fator (f) é decorrente da “competição” entre o sistema (solo-planta-atmosfera) com a planta de cana-de-açúcar pelo fertilizante aplicado. Essa competição, traduzida em perdas, pode ocorrer devido a: erosão, lixiviação, fixação, volatilização e desnitrificação  biológica do NO3-.  Admite-se aproveitamento para N, P2O5 e K2O de 50 a 60, 20 a 30 e 70%, correspondendo, portanto, ao fator (f) de 2; 3 a 5 e 1,5, respectivamente, num sistema convencional. Para o dimensionamento do fator planta, é preciso responder: o quê, quanto, quando e como aplicar os nutrientes necessários para máxima produção da cultura, enquanto o fator solo é avaliado preferencialmente pela análise do solo.

1. Manejo químico do solo:

1.1. Calagem:
a. Cana-planta: Proceder ao cálculo da necessidade de calagem pelo critério de saturação por bases, através da seguinte fórmula NC em t ha-1=[(60-V1)x CTC(1)]+[(60-V1) x CTC(2)]/(PRNTx10), onde:
NC = necessidade de calcário, em t ha-1; V1 = saturação por bases encontrada na análise de solo;
CTC = capacidade de troca de cátions, em mmolc dm-3; PRNT = poder relativo de neutralização do calcário, em %;
(1) = camada de 0 a 25 cm;
(2) = camada de 25 a 50 cm.

b. Soqueira: Utilizar a fórmula NC em t ha-1 = [(60-V1)xCTC]/(PRNTx10), levando em consideração somente camada de 0 a 25 cm, devido à incorporação superficial com o cultivador, ou sem incorporação. Não é aconselhável aplicar mais que 3 t ha-1 por ano.

1.2. Gessagem: Utilizar os critérios a seguir para recomendação de gesso, tanto em cana-planta como em soqueira, considerando o resultado de análise da camada de 25 a 50 cm.
a. Condicionador de subsuperfície: NG em t ha-1 = [(50-V1)xCTC]/500, onde:
NG = necessidade de gesso, em t ha-1;
V1 = saturação por bases encontrada na análise de solo de 25 a 50 cm;
CTC = capacidade de troca de cátions da camada 25 a 50 cm, em mmolc dm-3.

b. Fonte de enxofre: Aplicar 1 t ha-1 de gesso, para fornecer 150 kg ha-1 de S, sendo este suficiente para cerca de 3 cortes (50 kg ha-1 de S por corte), quando não for necessária a aplicação de gesso, como condicionador de subsuperfície.

1.3. Fosfatagem: Essa prática é mais importante em solos arenosos (baixa CTC) com baixos teores de fósforo (P resina ≤ 15 mg dm-3). A dose é de 5,0 kg de P2O5 por porcentagem de argila do solo, correspondente à faixa de 100 (argila ≤ 20%) a 150 kg ha-1 de P2O5 (argila 25 a 30%), sendo utilizada em área total, após a calagem e gessagem, antes da grade de nivelamento (incorporação superficial).

1.4. Adubação verde: A adubação verde na reforma do canavial é prática obrigatória por proporcionar diversos efeitos, como a proteção da camada superficial do solo, e atuar na solubilização mais rápida de nutrientes contidos nos corretivos, sugerindo-se o plantio de Crotalarias junceae ou spectabilis, soja ou amendoim.

1.5. Adubação orgânica: Os coprodutos mais utilizados são a torta de filtro, vinhaça, cinza, utilizadas in natura, “condicionada” ou “enriquecida”, principalmente com fontes de P2O5, tendo sua principal utilização em cana-planta, visando fornecer todo N e P2O5, complementando com K2O.

2. Adubação Mineral:
2.1. Adubação de plantio: A adubação básica no sulco de plantio é de 40 a 60 kg ha-1 de N; no mínimo 150 kg ha-1 de P2O5, 120 kg ha-1 K2O (complementando no quebra-lombo, se necessário), 2 kg ha-1 de Zn e 1 kg ha-1 de B.

2.2. Adubação de cana-soca:
a. Cana-queimada: Utiliza-se cerca de 1,0 kg de N t-1 de cana colhida e de 1,3 (K do solo > 1,5 mmolc dm-3) a 1,5 (K do solo < 1,5 mmolc dm-3) kg de K2O t-1 de cana, mantendo-se relação N/K2O na faixa de 1,0 para 1,3 a 1,5.

b. Cana crua: Aumentar a dose de N em cerca de 30%, ou seja, 1,3 kg t-1 de N de cana produzida, e, quanto à fonte de N, o uso da ureia em superfície deve ser mediante uso de inibidores da urease ou ureia misturada com sulfato de amônio para diminuir as perdas de N por volatilização. Com relação à adubação potássica, observa-se que a palhada libera cerca de 40 a 50 kg ha-1 de K, o qual deverá ser abatido da adubação mineral. Assim, a dose de K2O em cana crua poderá ser de 0,8 a 1,0 kg de K2O t-1 de cana colhida.

Além da aplicação de gesso como fonte de S, este pode ser fornecido através de Superfosfato Simples, Termofosfato, Multifosfato Magnesiano, Sulfato de Amônio, através da vinhaça, Ajifer ou Sulfuran.

 

3. Adubação Mineral com Micronutrientes:
A aplicação de micronutrientes pode ser realizada, via solo, incorporado ao grão de P2O5 ou revestindo todos os grânulos de N, P2O5 e K2O, nas doses de 3 a 5 kg ha-1 de Zn, de 2 a 3 kg ha-1 de Cu e de 1 a 2 kg ha-1 de B, sendo as menores doses para solos arenosos e as maiores para argilosos; via herbicida, especificamente para B na forma de ácido bórico na dose de 750 g ha-1 de B, ou via tolete, na dose de 300 a 350 g ha-1 de B (ácido bórico), 400 (Cu) e 750 (Zn) g ha-1 (sais, quelatizados, fosfitos ou ácidos húmicos e fúvicos).

4. Conclusão:
O manejo químico do solo para altas produtividades da cana-de-açúcar inicia-se com a amostragem e análise do solo, continua com as práticas corretivas (calagem, gessagem e fosfatagem), práticas conservacionistas (adubação verde e colheita de cana sem queima), adubação orgânica e termina com a utilização da adubação mineral com macro e micronutrientes.