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José Carlos Toledo

Presidente da UDOP

Op-AA-15

Nova janela de oportunidades

Depois de vivermos um período de ajuste da demanda e consumo de energia no país, com os investimentos feitos desde o governo militar, em 2000, o Brasil acordou para um problema até então desconhecido: a falta de energia elétrica, que brecou o crescimento da indústria e gerou racionamento de energia em todo o território nacional.

Este problema foi, justamente, a abertura de uma porta de oportunidades para o setor sucroalcooleiro, que até então produzia energia apenas para seu consumo próprio. Com mercado estagnado, tanto de açúcar e de álcool, interno e externamente, a nova janela de oportunidades foi abraçada por algumas usinas, que aproveitaram os preços ainda adequados pagos na época e os valores baixos dos equipamentos necessários para esta produção mais eficaz.


Os custos de implantação eram 50% menores do que os atuais custos para a implantação de maior geração de bioeletricidade nas unidades produtoras, um negócio atrativo. Com a volta do crescimento do setor, em 2002, e já passado o racionamento de energia, o mercado de açúcar e álcool voltou a crescer e os investimentos em energia elétrica passaram a ser feitos apenas nos novos projetos, o que impediu que as usinas existentes fossem readaptadas para a produção de energia elétrica.

A capacidade de financiamento e os esforços estavam no aumento da produção de cana-de-açúcar, açúcar e álcool. Porém, acordamos em 2008, com uma nova ameaça de apagão elétrico. Nova oportunidade e desafios a serem enfrentados.

Manter o crescimento sustentável do setor na ordem de 14% ao ano, exige maiores investimentos, o que é aguardado com expectativa pelo mercado, uma vez que a demanda de combustíveis renováveis, leia-se etanol, deve crescer na mesma proporção, ou mais, que o crescimento da produção de veículos flex, os bicombustíveis, cuja estimativa de produção em 2008 será de 3 milhões de automóveis.

No bojo, está a oportunidade de novos investimentos, que tenham remuneração adequada, melhor que a própria remuneração do produto açúcar e álcool. E mais: o próprio governo, hoje, vê o setor como um potencial energético interessante, o que é constatado pelo leilão de abril, já agendado. O próprio presidente da EPE, Maurício Tolmasquim, está se dedicando muito, para que os velhos problemas tenham solução.

Agora, chegou a vez de discutirmos estes antigos e importantes problemas, como conexão, financiamentos, preços, impostos e licença ambiental, na esperança de que estes desafios sejam vencidos, para que seja bom para o Brasil e viável para as usinas. O setor passa, atualmente, por problemas internos, como a não remuneração adequada para sustentar o crescimento de 14% ao ano.

Assim, vai haver consolidação nos próximos anos, o que deve gerar equacionamento de novos investimentos, para o que o governo está atento, abrindo, inclusive, oportunidades melhores de financiamentos, via BNDES, que deverão fomentar uma maior participação nos leilões.

Outro grande desafio do setor é melhorar o aproveitamento energético da cana, e o primeiro passo já foi dado em São Paulo, com o Protocolo Agroambiental, onde as usinas comprometeram-se, dentre outras ações, a extinguirem, nos próximos anos, a queima da palha da cana-de-açúcar, que, se levada para a indústria, poderá aumentar em 33% a geração de energia da cana. Precisamos de melhorias tecnológicas, que permitam um melhor aproveitamento dessa palha e ponta. Assim, poderemos, de uma vez por todas, inserir a energia da cana-de-açúcar na matriz energética brasileira.

Tendo a bioeletricidade - energia limpa, que se utiliza do seqüestro de gás carbônico da atmosfera, do sol e da água - como alternativa para a escassez mundial de energia, com um detalhe importante: essa mesma energia é produzida no período de seca de nossos reservatórios, principal fonte energética nacional, o que deve trazer ainda um valor agregado mais promissor.

Nossa esperança é de que o leilão de abril seja um sucesso e que o setor possa aproveitar esta oportunidade para entrar na nova década gerando o potencial de energia que a cana pode oferecer e, com isso, ganhar mais competitividade do que nunca. Isto é o que mais precisamos.