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Paulo Roberto de Camargo e Castro

Professor de Fisiologia Vegetal da Esalq-USP

Op-AA-28

Aspectos fisiológicos e agroquímicos de ação hormonal em cana-de-açúcar

Além de uma série de processos de manejo capazes de melhorar o desempenho e a produtividade da cana-de-açúcar, agroquímicos de ação hormonal têm sido importantes nos sistemas de produção da cultura, para preservar características fisiológicas e estabelecer técnicas adequadas ao cultivo.

A profundidade de plantio dos toletes de cana-de-açúcar variando de 2,5 a 5cm mostra-se ideal para a melhor emergência das plântulas. Um fato nem sempre levado em consideração refere-se ao ângulo da gema do tolete, que deve ficar entre 0° e 45°, para melhor emergência. Alguns trabalhos mostraram que o aminoácido arginina pode incrementar o desenvolvimento inicial e o desempenho da cana-de-açúcar.

Aplicação do bioativador Actara (tiametoxam) nos toletes e após o corte da touceira da cana, além de proteger contra pragas iniciais, possibilita incremento no vigor da cana-de-açúcar. Manter as condições do solo próximas da capacidade de campo evita danos ao sistema radicular causados pelo déficit ou pelo excesso de água no solo.

É evidente a necessidade da disponibilização dos nutrientes essenciais para a cana-de-açúcar, desde a emergência até o maior desenvolvimento, sendo que, sob condições tropicais, as plantas respondem eficientemente aos nutrientes, principalmente sob plena insolação. A radiação solar e altas temperaturas tropicais favorecem o desenvolvimento e a produtividade da cana-de-açúcar, planta C4, adaptada a essas condições.

O número de colmos produzidos se altera de acordo com a variedade, mas pode chegar a 20 colmos por metro quadrado aos 6 meses; após o plantio, decrescendo para 12 colmos, após 12 meses, devido à ocorrência de morte por autossombreamento. Algumas características morfológicas da cana-de-açúcar podem ser associadas a altas produtividades do cultivo.

Após a emergência, consideramos que a formação de numerosos perfilhos verticais possibilitam maior penetração de luz na touceira e melhor desenvolvimento foliar. O biorregulador Ethrel (ethephon) melhora o perfilhamento da cana-de-açúcar, podendo ser aplicado, principalmente, em variedades que produzem poucos perfilhos.

Variedades com folhas espessas, curtas e eretas também possibilitam melhor iluminação do dossel e maiores produções. Os colmos da cana-de-açúcar devem ser firmes para evitar o acamamento e possuir alta força de dreno para açúcar, levando a altas produtividades. Certas variedades de cana-de-açúcar diminuem significativamente o comprimento do entrenó sob as baixas temperaturas do inverno, sendo que podem ser pulverizadas com Pró-Gibb (giberelina) a partir de maio, para manter o crescimento e a força de dreno, de maneira a aumentar a produtividade.

Variedades com baixo florescimento são preferidas, porque os órgãos reprodutivos vão competir e atrair açúcares que não serão disponibilizados nos entrenós, sendo que a inflorescência aumenta a porcentagem de parênquima sem caldo (isopor). Conseguimos inibir o florescimento com aplicação de subdoses de Diquat, sendo que a aplicação de maturadores (Moddus, Curavial e Ethephon) também restringem a floração.

Os maturadores químicos são utilizados para induzir a maturação precoce da cana-de-açúcar, de modo a sistematizar a colheita das diferentes variedades. Os maturadores promovem a síntese de sacarose, causando a senescência e abreviando o tempo para a colheita da cana. Os sistemas de implantação do cultivo e outras técnicas de manejo, estabelecidas a partir do conhecimento da fisiologia da cana-de-açúcar, e a disponibilização de novos agroquímicos tendem a elevar o potencial produtivo da cultura.

Observamos, nesse esquema, que o solo, o clima e os agroquímicos de ação hormonal afetam o cultivo de maneira a alterar sua expressão/repressão gênica, atuando, portanto, na síntese de proteínas e alterando os níveis hormonais. Além disso, notamos que a ação hormonal promove modificações bioquímicas, funcionais e estruturais nas plantas, de modo a alterar sua tolerância/suscetibilidade aos estresses e à produtividade.