Gerente de Desenvolvimento Estratégico Industrial do CTC
Op-AA-24
A produção de etanol a partir da fração fibrosa da cana-de-açúcar tem um significado muito especial, de novidade radical, que promoverá significativas mudanças em toda a cadeia agroindustrial da cana-de-açúcar. A introdução da produção de etanol nas usinas de açúcar no início dos anos 70 com o Proálcool promoveu uma evolução significativa dessas usinas.
Houve o prolongamento da safra, a expansão da área de cana, inclusive para novas regiões (como o oeste do estado de São Paulo), exigindo a superação de muitos novos desafios agrícolas e industriais, abrindo ainda a demanda por novas e melhores variedades de cana, adaptadas aos ambientes de produção.
Junto com essas grandes mudanças, veio a desregulamentação do setor, com grandes mudanças na gestão. A introdução de mais um novo produto, a bioeletricidade, tornado possível pela gradual desregulamentação da produção e transmissão de eletricidade no País, ocorreu em conjunto com muitas outras mudanças, como grandes aumentos na eficiência material e energética das usinas, estabilização nos fornecimentos, melhor conhecimento da técnica produtiva e, ainda mais importante, com significativas mudanças no negócio.
As pequenas usinas estão em franco processo de consolidação em grupos, a gestão familiar sendo substituí-da pela gestão profissional, o capital internacional começou a fluir para o setor e ainda há a entrada de novos atores, como as grandes companhias de com-modities e de energia do mundo.
A cana-de-açúcar responde a esses novos desafios, com o foco no desenvolvimento e no uso de variedades especialistas, e, com a utilização das ferramentas modernas da biotecnologia, será possível, por exemplo, a aceleração no processo de seleção e uso de variedades de alta produtividade, necessárias para redução de custo e adaptação aos novos ambientes de produção na nova fronteira agrícola.
Uma série de novos desafios relacionados à sustentabilidade, antes impensáveis, são agora colocados. Discussões como certificação internacional, impactos na produção de alimentos, impactos indiretos no uso da terra, balanço e créditos de carbono, emissões de gases de efeito estufa, preservação dos mananciais aquáticos, produção mais limpa, inclusão social, papel internacional do Brasil, entre outras, todas impactam a cana-de-açúcar no presente e no futuro próximo.
A cana no Brasil já é uma das mais eficientes culturas, não só porque faz a fotossíntese de forma mais eficiente, mas também porque teve e tem tido de responder a todos esses desafios, de forma totalmente transparente e competitiva.
O Brasil já é responsável por mais de 50 % das exportações de açúcar e também é o maior exportador de etanol e substituiu metade do consumo nacional de gasolina, tudo isso ocupando um pouco mais de 10% da área comercial agrícola e competindo no mundo todo com uma agricultura altamente subsidiada.
Como será a cana da Era do etanol celulósico? Assim como tem acontecido na introdução do etanol e da bioeletricidade, a evolução certamente será dramática. A cana responderá e levará a uma ampliação do papel econômico da cultura, de forma muito semelhante àquilo que se espera do pré-sal em relação ao petróleo.
O Brasil já é o campeão mundial na extração de petróleo em águas profundas e agora pretende tirar ainda mais produto indo mais fundo. O Brasil já é o campeão mundial dos biocombustíveis baseados nos açúcares solúveis da cana e agora pretende ir mais fundo usando também os açúcares insolúveis aprisionados nas fibras que, aliás, têm na sua composição o dobro da energia dos açúcares solúveis.
Assim como tirar o petróleo aprisionado no pré-sal não é fácil, mas é necessário e possível e levará a toda uma nova indústria e uma nova posição de liderança mundial do Brasil, o etanol celulósico também não é fácil, mas é possível e já está levando a uma intensa capacitação tecnológica e a novos modelos de negócios. Vide, por exemplo, o interesse das grandes companhias multinacionais de energia nesse assunto no Brasil.