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Celso Procknor

Presidente da Procknor Engenharia

Op-AA-37

Implantação de projetos greenfield

Este texto pretende discutir vantagens e desvantagens das modalidades que têm sido praticadas para a implantação de projetos greenfield no setor canavieiro do Brasil. Naturalmente, os conceitos aqui emitidos podem também ser aplicados para projetos menos complexos, tais como ampliações de usinas existentes, implantação de sistemas de cogeração, etc.

A escolha do modelo de implantação deve levar em conta os aspectos referentes ao investimento inicial (Capital Expenditure ou Capex), ao custo operacional (Operational Expenditure ou Opex), à garantia do desempenho da instalação (Performance Bond Guarantee ou PBG) e à disponibilidade de equipe técnica própria do cliente.

Como o Capex costuma ser o aspecto que mais sensibiliza os investidores na fase inicial dos projetos, decidimos listar as modalidades pela sua ordem crescente de valor de Capex. Seguindo esse critério, vamos comentar as modalidades Chave em Mãos (CEM), Integração de Pacotes e de Ilhas (IPI), Gerenciamento Global (EPCM) e Fornecimento Global (EPC). Como a modalidade IPI é a que tem sido mais utilizada no Brasil, adotamos, para efeitos comparativos, Capex e Opex com valores de 100% para essa modalidade.

A modalidade CEM (turn-key) costuma apresentar o menor Capex e, geralmente, é proposta pelos grandes fabricantes de equipamentos ou por um consórcio formado entre fabricantes. O gerenciamento da implantação é executado pelo proponente. Nessa modalidade, o cliente apresenta as suas necessidades de uma forma geralmente simples, no máximo com um Projeto Conceitual, e o proponente desenvolve o Projeto de Implantação da planta industrial. Trata-se de uma modalidade na qual, geralmente, o proponente sabe o que está vendendo, mas o cliente não sabe o que está comprando.

As vantagens da CEM são o Capex mais baixo, na faixa entre 80% e 90% da IPI, e a possibilidade de se obter um PBG que pode ser necessário para a obtenção do financiamento junto aos bancos. As desvantagens da CEM são o Opex mais alto e a credibilidade do PBG oferecido. Capex e Opex são parâmetros conflitantes. Opex mais baixo sempre vai exigir Capex mais alto. O proponente da modalidade CEM não está interessado, por exemplo, em projetos preparados para futuras expansões e com baixos custos de manutenção e de operação, pois seu maior interesse é maximizar seu lucro no curto prazo.

Por outro lado, sem um Projeto Básico na época da contratação é mais difícil definir criteriosamente as premissas para a emissão do PBG, e a prática tem demonstrado que essa garantia costuma ter pouco valor para o cliente. Embora seja inaceitável, é comum propostas de projetos na modalidade CEM sem a existência, por exemplo, de uma lista de subfornecedores aprovados (Vendor List), situação que permite ao proponente utilizar materiais e subfornecedores de segunda linha na implantação do projeto.

A modalidade IPI costuma apresentar um Capex intermediário e necessita a contratação de uma empresa de consultoria e engenharia especializada para desenvolver o Projeto Conceitual da planta e para emitir as especificações técnicas para a compra dos grandes pacotes de equipamentos e de serviços.

O gerenciamento da implantação é executado pela equipe do cliente, que, posteriormente, vai operar a planta, com ou sem o auxílio de profissionais terceirizados. A compra dos equipamentos e dos serviços é feita diretamente pelo cliente com o apoio técnico da empresa de consultoria.

Quando os fornecedores dos pacotes são definidos, a empresa de engenharia desenvolve o Projeto de Implantação a partir do Projeto Conceitual. As vantagens da IPI são permitir ao cliente decidir sobre o balanceamento entre Capex e Opex e contar, durante a implantação do projeto, com o comprometimento da mesma equipe técnica que, posteriormente, será responsável pela operação e pela manutenção da planta.

A experiência mostra que a seleção de equipes de implantação e de operação totalmente independentes não costuma apresentar bons resultados. As desvantagens da IPI são a falta de um PBG para os bancos financiadores e o custo do cliente para a contratação, de três a dois anos antes da posta em marcha, dos profissionais especializados que ficarão encarregados da operação e da manutenção da planta.

A modalidade Gerenciamento Global (Engineering, Procurement and Construction Management ou EPCM) costuma apresentar um Capex na faixa de 105% a 110% da IPI. Eventualmente mais, dependendo das condições do PBG exigido pelo cliente. É recomendável a contratação de uma empresa de consultoria e de engenharia para desenvolver o Projeto Básico da planta e para emitir as especificações técnicas para a compra dos grandes pacotes de equipamentos. O gerenciamento da implantação é executado pela equipe de uma empresa especializada em gerenciamento de projetos, que cuida da engenharia, dos suprimentos e da obra.

A compra dos equipamentos e dos serviços principais é feita diretamente pelo cliente, com o apoio técnico da empresa de gerenciamento. A compra dos itens que representam grandes quantidades e valores relativamente baixos é feita diretamente pela empresa de gerenciamento, em nome do cliente. A modalidade EPCM é relativamente flexível, permitindo várias combinações entre o cliente e a empresa de gerenciamento no que diz respeito às responsabilidades e às garantias de cada parte.

As vantagens da EPCM são permitir ao cliente decidir sobre o balanceamento entre Capex e Opex e dispor, durante a implantação do projeto, de uma equipe especializada em gerenciamento de projetos. Dependendo do contrato estabelecido entre as partes, um PBG pode ser negociado para auxiliar na obtenção do financiamento.

As desvantagens da EPCM são o Capex mais elevado e a necessidade de se obter uma boa integração entre a empresa de gerenciamento de projetos e a futura equipe de operação e de manutenção da planta. Mas se trata de modalidade interessante quando o cliente não dispõe de equipe experiente para acompanhar o Projeto Básico e a implantação da planta.

A modalidade Fornecimento Global (Engineering, Procurement and Construction ou EPC) costuma apresentar um Capex na faixa de 120% a 130% da IPI. É absolutamente indispensável a contratação de uma empresa de consultoria e de engenharia para desenvolver o Projeto Básico da planta e para emitir as especificações técnicas detalhadas para a cotação do contrato EPC. Nessa modalidade, o desenvolvimento de um Projeto Básico adequado é importante para que as cotações sejam homogêneas.

O gerenciamento da implantação é executado pela equipe da empresa selecionada (“Epecista”), a qual será responsável pela engenharia de implantação, pelos suprimentos e pela obra. A compra de todos os equipamentos e de todos os serviços é feita diretamente pelo Epecista, que fornece o PBG, e todo o projeto pode ser implantado com assinatura de apenas um contrato entre o cliente e o Epecista.

As vantagens da EPC são permitir ao cliente decidir sobre o balanceamento entre Capex e Opex, pois, com o Projeto Básico, o cliente sabe exatamente o que está comprando, e dispor de um PBG para auxiliar na obtenção do financiamento. O cliente não necessita dispor de uma equipe para o gerenciamento de implantação do projeto. O cliente praticamente não tem trabalho, necessitando apenas contratar e capacitar, no devido momento, as equipes de operação e de manutenção.

A desvantagem da EPC é o Capex mais elevado, pois o “Epecista” precisa cobrar pelas garantias de desempenho e de funcionamento de todos os equipamentos e instalações da planta, o que, naturalmente, custa caro. Dessa maneira, a EPC é, geralmente, mais utilizada nos setores da indústria que são menos intensivos em capital ou em setores em que a margem de lucro é alta.

A tabela em destaque apresenta uma comparação entre as modalidades de implantação mencionadas. A escolha da modalidade a ser adotada vai depender, naturalmente, dos recursos técnicos disponíveis e das decisões estratégicas de cada cliente em particular. No caso específico do Brasil, a modalidade IPI tem sido a mais usada, porque o processamento da cana-de-açúcar é relativamente intensivo em capital (afinal, 70% da cana é água!) e porque os produtos finais são commodities que apresentam baixa margem de lucro. É importante mencionar que, na modalidade IPI, apenas resultaram em casos de sucesso os projetos nos quais o cliente dispunha de uma equipe técnica experiente e competente.