Temos passado por um momento de transição na produtividade da cana-de-açúcar no Centro-Sul do Brasil. Percebe-se que muitas usinas e produtores têm consolidado recentemente rendimentos crescentes anualmente, depois de preocupante declínio e de uma década de paralisação, em que a produção média por área ficou em torno de 70 a 75 toneladas de colmos por hectare (TCH) e os níveis de ATR, de 128 a 134 Kg/t de cana.
São vários os motivos que ocasionaram essa estagnação:
• clima desfavorável em vários anos subsequentes, com veranicos mais intenso e secas prolongadas;
• adaptação à mecanização, com aumento das perdas e das impurezas vegetais na colheita e falhas e elevado consumo de mudas no plantio;
• expansão para ambientes edafoclimáticos desfavoráveis;
• alongamento do período de moagem, antecipando o início para o outono e postergando o final para dezembro, em ambos os períodos os teores de sacarose são menores, sendo que a produtividade de colmos das canas colhidas em dezembro invariavelmente é menor na safra seguinte;
• envelhecimento do canavial, aumentando a idade média, com redução da porcentagem de renovação e plantio;
• pouca renovação do plantel varietal;
• aumento de pragas e doenças, entre outros.
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A figura 1, ilustra pontualmente os gaps de produtividade da cana-de-açúcar no Centro-Sul do Brasil. Entre esses diversos fatores bióticos e abióticos, sem dúvida podemos elencar o clima – englobando principalmente a seca, mas também geada e florescimento –, como o mais impactante. Tem sido grande o dano causado por pragas, dentre elas o sphenophorus levis e a ocorrência de plantas daninhas como a grama-seda, entre outras; mas também são significativos os prejuízos causados por manejos inadequados.
Mas o que de fato é o manejo agrícola? Ele pode ser definido como a ação dos técnicos e produtores em promover modificação, adequação e interferência nos diversos processos agrícolas; influenciando a produção. Nesse conceito, os manejos adequados ou corretos podem consequentemente colaborar para o aumento da produtividade.
O Manejo Varietal poderia ser o primeiro item a ser discutido. Do elenco disponível, saber em que tipo de solo tais variedades devem ser cultivadas (pelas exigências em fertilidade e disponibilidade hídrica inerente a cada uma delas) e qual o período de safra a serem colhidas (pelas suas características de maturação precoce, média ou tardia) é fundamento básico na área agronômica.
Nesse quesito se enquadram também algumas outras ferramentas como o uso de maturadores químicos e/ou fisiológicos, visando
antecipar a maturação das variedades no início da safra, o que pode gerar um aumento proporcional no ATR médio final e o uso de inibidores de florescimento em anos favoráveis, ou mesmo visando aumentar o PUI de algumas variedades.
Estrategicamente temos também o manejo das fases cronológicas e fisiológicas do canavial, consistindo no planejamento de colheita de maneira a aumentar a idade (em meses) das canas colhidas, trazendo um impacto notório no aumento de TCH e ATR; assim como a destinação de colheita dos piores ambientes para o início e meio da safra.
O próximo item seria o Manejo Nutricional. Houve uma mudança recente na abordagem desse assunto, passou-se a usar a adubação não só pensando em a repor o extraído pela cana; mas também em fazer um "condicionamento do solo" de maneira a racionalizar o aproveitamento dos nutrientes e formar um estoque dos mesmos.
A figura 2 mostra de forma esquemática que podemos manejar melhor o N usando o parcelamento da adubação na soca, assim como a suplementação de dose via aérea a partir do início do verão no boom de desenvolvimento vegetativo e produtos para aumentar a fixação biológica.
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Quanto ao K, um grande avanço foi a implementação na soca da aplicação localizada de vinhaça, quer seja in natura ou concentrada, adicionada ou não a outros insumos como inseticidas, promotores de crescimento e produtos biológicos.
Acreditamos que essa modalidade de aplicação é uma ferramenta que melhora muito a qualidade da operação, agregando outros benefícios como a expansão da área aplicada, a diminuição das perdas por lixiviação e até mesmo a diminuição da proliferação da mosca dos estábulos.
Mas, aparentemente, é no P que teremos grandes impactos de um manejo adequado, quando aumentarmos a sua disponibilidade, compensando a adsorção (Legacy P) inerente dos nossos solos.
A elevação desses teores de P2O5 nos nossos solos para níveis superiores a 15ppm, quer seja através do uso de solubilizadores, ou com a fosfatagem corretiva por meio do uso de fertilizantes fosfatados ou rochas naturais; esse é um dos exemplos que ocorreu na área de grãos que devemos seguir agora também na cana.
Outra importante prática é o Manejo de Pragas e Doenças. O conceito de MIP – Manejo Integrado de Pragas – se consolidou no setor, associando o uso de agentes biológicos, como as vespinhas cotesia e trichogramma (atualmente liberados na lavoura via drones) ao fungo beauveria e a inseticidas para o controle da broca.
Aliás, o uso de agentes biológicos tem aumentado muito no setor, e tem se tornado um campo que vai muito ao encontro dos valores de sustentabilidade e ESG. No controle de doenças, tem havido também uma mudança significativa de abordagem, quando se passa a usar fungicidas em pulverizações aéreas para controle de ferrugens, num manejo que proporciona uma maior área foliar fotossinteticamente ativa, pela limpeza inclusive de outras doenças foliares secundárias.
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Tais fungicidas sistêmicos, como benzimidazois, triazois e estrobilurinas, proporcionam adicionalmente o conhecido efeito fitotônico de aumentar a produtividade, enquandrando-se no que podemos chamar de Manejo Fisiológico.
Nessa modalidade pode ser citado o uso de ácidos húmicos e fúlvicos, promotores de crescimento e de enraizamento, fungos e bactérias solubilizadores de N e de P, e uma grande gama de novos agentes que atuam na fisiologia e processos metabólicos da planta, numa interação interessante que pode proporcionar uma mitigação de efeitos de estresse hídrico e nutricional.
Concluindo nossa opinião, na figura 3 sugerimos a magnitude que cada um dos manejos adequados discutidos pode potencialmente proporcionar em aumento de produtividade nos nossos canaviais.
Inserimos também outras ferramentas, como a automação e uso de novos produtos e insumos. Notem que, nessa estimativa, na média é possível passar, em pouco tempo, de um nível atual de cerca de 10 para 13 toneladas de açúcar por hectare.
Difícil, mas não impossível. Já existem algumas usinas e produtores com essas marcas.
“Quem viver verá.”