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Marcos Fava Neves

Professor da FEA-USP-RP e da EAESP/FGV-SP e especialista em planejamento do agronegócio

OpAA71

Bioinsumos: o uso dos biológicos permitindo a agricultura regenerativa
Coautoria: Vinícius Cambaúva, Engenheiro Agrônomo pela UNESP e Mestrando em Administração pela FEARP/USP

A alta na demanda por alimentos e o crescimento populacional trazem inúmeros desafios e oportunidades para a produção agrícola. Tornar as práticas agropecuárias mais eficientes ao mesmo tempo em que se preserva e, inclusive, se recupera o meio ambiente é o principal anseio da sociedade atual. As mudanças climáticas, a degradação dos solos e a perda da biodiversidade têm sido alguns dos danos ocasionados pelo mau uso da terra, o que torna imprescindível a restauração e a preservação do ambiente para enfrentar possíveis crises no ecossistema. 
 
Técnicas de manejo utilizadas sem discriminação podem impactar a fertilidade do solo e a resiliência das atividades agrícolas. Nesse sentido, a perda de solos produtivos traz grande prejuízo para a produção de alimentos e a segurança alimentar. Segundo a Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, existem cerca de 130 milhões de hectares de pastagens degradadas que precisam de restauração. Além disso, o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) calcula que a temperatura média global do planeta pode sofrer um aumento entre 1,8 °C e 4,0 °C nos próximos 100 anos, configurando um impacto significativo para o meio ambiente e para a sociedade.
 
Isso significa que os esforços de conservação por si só não são suficientes para evitar o uso indiscriminado de recursos naturais e a perda da biodiversidade. Para tanto, temos visto, com certa frequência, a adoção de práticas agrícolas de regeneração, que são adotadas para se produzir mais com menos, ou seja, incrementar a produtividade e, ao mesmo tempo, utilizar menos recursos do nosso planeta – menos terra, água e energia; menos produtos químicos; menor emissão de gases de efeito estufa e menor risco de degradação do solo.
 
Trazendo para um contexto mais recente, apesar de o agronegócio brasileiro ter alcançado recorde histórico nas exportações em 2021, movimentando mais de US$ 120 bilhões, os custos de produção nesse período configuraram aumento significativo. O balanço apertado de oferta e demanda global dos insumos agrícolas, a taxa de câmbio e  o aumento dos preços do petróleo e gás natural foram alguns dos entraves de grande impacto nesse cenário. 

Os principais países produtores de defensivos agrícolas e fertilizantes reduziram a oferta e o produtor agrícola brasileiro sentiu as consequências na pele. Vale lembrar que o nosso país importa cerca de 70% dos fertilizantes e 60% dos defensivos agrícolas que consome anualmente. 

Além disso, a continuidade da pandemia da Covid-19, com o surgimento de novas variantes em diversos países, intensificou ainda mais essa situação, limitando a distribuição de alguns produtos e afetando, de forma direta, diversas cadeias de suprimentos. Como resultado, os custos dos insumos chegaram a dobrar em alguns casos; destaque para a categoria de fertilizantes. 

Em relatório divulgado pelo Rabobank, os preços da ureia cresceram 150% entre janeiro e outubro do último ano, enquanto os do cloreto de potássio registraram alta de 206%. Esses números refletem uma piora na relação de troca entre insumos e produtos agrícolas, considerando que, quanto maior o índice, menor é o poder de compra do produtor brasileiro – e maiores terão que ser os preços pagos pela produção, para poder compensar o investimento. 

A alta demanda por insumos em virtude da expansão de área plantada, problemas logísticos pela falta de embarcações e contêineres e fatores geopolíticos também foram empecilhos que contribuíram para tal condição. Diante dessa instabilidade no mercado de insumos, uma boa estratégia a ser utilizada pelo produtor, para equilibrar os custos e ajustar o fluxo de caixa, é a diversificação no manejo. Novas tecnologias estão ganhando espaço rapidamente na produção agrícola para a mitigação desses riscos e a ampliação das práticas sustentáveis. 
 
O mercado de bioinsumos, chamados a serem protagonistas da agricultura do futuro, atingiu R$ 1,7 bilhão em negócios na safra 20/21, configurando aumento de 37% em relação ao volume comercializado na safra anterior, segundo pesquisa divulgada pela Spark Inteligência Estratégica. 

Tal crescimento apenas reforça a consolidação desses produtos como importantes ferramentas de manejo nas principais culturas agrícolas. Os insumos biológicos podem ser compostos e/ou fabricados com microrganismos, materiais vegetais, naturais e utilizados nos sistemas de cultivo agrícola para combater pragas e doenças, além de melhorar a fertilidade do solo e a disponibilidade de nutrientes para as plantas. Esses produtos são caracterizados por otimizar o desenvolvimento, o  crescimento e o mecanismo de resposta de animais, plantas e microrganismos.

Os bioinsumos são complementares ao manejo convencional e possuem um grande diferencial de reduzir a exposição do trabalhador e consumidor a compostos químicos. Se baseia em um método de controle racional e sadio, por fazer uso de inimigos naturais que não deixam resíduos em alimentos, e também preservam o ecossistema, proporcionando o desenvolvimento de sistemas de produção cada vez mais sustentáveis.
 
A tecnologia de alto padrão empregada pelos bioinsumos é importante aliada nos sistemas de produção com o nosso clima tropical, pois os microrganismos são capazes de otimizar o aproveitamento dos fertilizantes. Dessa forma, auxiliam o produtor a obter alta produtividade e rentabilidade, extraindo ao máximo o potencial dos insumos, ao mesmo tempo em que favorece a margem de lucro do negócio rural.

Esse assunto estará em grande evidência nos próximos anos em todo o planeta, uma vez que os agricultores têm percebido a importância de conciliar a produção agrícola com a preservação do meio ambiente. Já é possível observar o avanço na adesão de produtos de base biológica para controle de pragas e doenças, além do aumento significativo da adoção de práticas de agricultura regenerativa, como o sistema de plantio direto na palha (SPDP). 

A agricultura regenerativa caminha em conjunto com a demanda mundial por tecnologias mais sustentáveis e que atendam às necessidades de produção alimentar com redução de impactos. Considerando o contexto atual de problemas com a disponibilidade e os altos preços de insumos tradicionais, da crise energética global, do aumento nos custos de produção dos alimentos e do não menos importante apelo por práticas de preservação do meio ambiente cada vez maiores, os bioinsumos devem ser um grande aliado da nossa agricultura. Sou um torcedor desse mercado, porque sei que ele tem muito a somar para o desenvolvimento sustentável do agronegócio  brasileiro.