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Otávio Lage de Siqueira Filho

Presidente da Jalles Machado

Op-AA-44

Transformando a crise

O setor sucroenergético tem enfrentado, nos últimos 7 anos, a maior crise de sua história, seja pela falta de políticas do governo, condições climáticas, questões de mercado e mudanças na economia mundial. Diante desse triste cenário, em que vemos várias unidades produtoras fechando ou em recuperação judicial, o que fazer para sobreviver e se manter competitivo?

Para Darwin, “as espécies que sobrevivem não são as mais fortes, e sim as que mais rapidamente se adaptam às novas condições”. Então, temos que adaptar a empresa a esse novo cenário. É preciso encarar a crise como uma oportunidade para se reinventar, adotando soluções criativas de curto, médio e longo prazo, que irão fazer com que o negócio se mantenha sustentável e que a empresa consiga até se fortalecer após o período difícil.

Um vento forte pode afundar o seu barco ou impulsioná-lo para mais longe. O segredo é saber ajustar as velas. Assim, por meio de uma boa gestão, é possível fazer os ajustes necessários para que a empresa possa rever o seu planejamento estratégico, focar em alta produtividade e redução de custos, envolvendo a equipe e alocando recursos em alternativas que forneçam retornos mais rápidos, como a cogeração de energia. A produção de energia elétrica tem sido uma saída viável para as empresas do setor.

Com a crise hídrica, os preços ficaram competitivos e proporcionam uma maior rentabilidade para as usinas, frente ao etanol e ao açúcar. Além da cogeração, as empresas do setor têm procurado outras alternativas para se driblar a crise, como a produção de levedura, o etanol de segunda geração, o aproveitamento do biogás de vinhaça para substituir o diesel utilizado na frota agrícola e o recolhimento da palha para incrementar a produção de energia.

Além disso, a indústria alcoolquímica, apesar de pouco explorada, apresenta um grande potencial, principalmente para atender a uma demanda crescente por produtos sustentáveis. É no período de crise que paramos para rever as práticas de gestão e de manejo adotadas e, na maioria das vezes, descobrimos que podemos fazer de forma mais eficiente e alcançar melhores resultados.

A tecnologia e a pesquisa também podem ser grandes aliadas para reduzir custos e aumentar a produtividade, principalmente na área agrícola, onde acontecem as maiores despesas das usinas. O uso de agricultura de precisão, máquinas e equipamentos de última geração, tecnologias de irrigação e um moderno plantel varietal, aliados a melhores práticas de manejo, são fundamentais para garantir uma boa produtividade do canavial.

Essas medidas envolvem uso de capital, financiamento de longo prazo, qualificação de pessoas, assessorias competentes e, principalmente, o envolvimento da equipe. Uma empresa é feita, em primeiro lugar, por pessoas. É necessário agir de forma transparente com os colaboradores e procurar envolver a equipe para que, com o engajamento de todos, os resultados sejam alcançados. É fundamental que cada colaborador tenha consciência do seu papel na empresa e se esforce, de modo a desempenhá-lo da melhor maneira possível.

A implantação de políticas de recursos humanos que envolvam e motivem os colaboradores, com remuneração adequada, aliada a benefícios sociais e gratificações por metas desafiadoras, proporciona à empresa um aumento de produtividade importante nos momentos de crise. Dessa forma, acredito que as usinas estão fazendo a sua parte para sair da crise, mas é preciso lembrar que há fatores de interferência importantes que dependem do governo, como a definição, com regras claras, do papel do setor na política energética nacional. Nos Estados Unidos, a produção de etanol é duas vezes maior que a do Brasil.

O principal fator é que as políticas americanas para o combustível não se alteram, as regras são firmes, diferentemente do que aconteceu em nosso país, onde o governo, após a descoberta do pré-sal, mudou a postura e deixou o setor em segundo plano. O que os órgãos representativos das usinas têm feito é buscar um diálogo com as lideranças do governo para que possa ocorrer a retomada do setor.

Períodos de crise sempre irão existir. O que irá fazer diferença é a estratégia de enfrentar esse momento difícil. Uma boa gestão sempre irá enxergá-lo como uma oportunidade para mudanças, um momento para reduzir custos e aumentar a produtividade com soluções criativas. Portanto, como uma tempestade de areia no deserto passa, esse período de crise também irá passar. Acredito que o setor sairá mais fortalecido pelas iniciativas e ajustes que todas as usinas estão fazendo para se manter competitivas.