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Barsanulfo Jacinto Xavier Filho

Gestor de empreendimentos na União Energia

Op-AA-15

A energia mais cara é aquela que não se tem

A Energia é uma questão crítica no mundo inteiro. Esse setor de atividade econômica ocupa, hoje, uma posição relevante e estratégica em relação a outros setores da infra-estrutura. Pode-se afirmar que sem energia não há, entre outros, nem finanças e nem comunicação. O suprimento energético sustentável e confiável de energia é uma das principais condições para atingir objetivos para todos os países do mundo: se houver falha na sustentabilidade e na segurança energética, os objetivos principais do desenvolvimento brasileiro não serão atingidos.

O segmento energético brasileiro está estruturado em geração, distribuição/transmissão, comercialização e consumo. Ressaltando que os mesmos são concatenados e dependentes entre si. O cenário energético atual passa por uma crise inigualável em termos de planejamento e estratégia; seguidos de modelos insustentáveis, alternando entre planejamentos determinísticos e probabilísticos; sendo este último o mais praticado e revelando a fragilidade do sistema.

As informações energéticas disponibilizadas entre os agentes de governo estão cada vez mais contraditórias, proporcionando ainda mais dúvidas sobre o que é real e virtual. O balanço energético aponta cenário de estabilidade, enquanto que a realidade da entrada de geração em operação comercial é bastante precária. Considerando que o país necessita em torno de quatro mil mega Watts de efetiva geração por ano e a previsão otimista para aumento da oferta de energia para os próximos três anos está em torno de três mil por ano, não é necessário muito esforço para constatar um déficit energético, acompanhado de graves restrições para entrada em operação.

Este déficit será ainda maior, caso o produto interno bruto ultrapasse três por cento. Notadamente, nos empreendimentos de geração, há um longo caminho entre estudos, projetos aprovados, licenças ambientais e a conclusão dos mesmos. Sendo o fator principal a falta de programas governamentais que demonstrem o real interesse em se ter os empreendimentos na condição de operação comercial.

A maioria das Geradoras está com seus projetos engavetados, aguardando uma política energética que justifique o investimento; permanecendo na fila para conseguir rigorosas documentações e não conseguem sair do papel. Na área de Distribuição de energia, podemos verificar o desleixo com as redes de distribuição e transmissão, observando que para o gerador conectar-se ao Sistema, passa por uma “caixinha da maldade” imposta pelas distribuidoras, contrariando o princípio do “livre acesso”.

As mesmas não levam em conta que a geração no seu sistema produz inúmeros benefícios elétricos, financeiros e além do que postergam investimentos na área de concessão. A “queda de braço” entre Geradores e Distribuidores fica cada vez mais acirrada, sendo sempre privilegiado o interesse dos Distribuidores; que ainda se posicionam contrariamente e dificultam a conexão, principalmente quando a mesma se trata de cogeração produzida a partir do bagaço de cana.

A maioria dos pontos de conexão indicados pelas Distribuidoras levam os cogeradores a uma inviabilidade econômica do projeto. Vale citar que os Procedimentos da Distribuição, que têm por funcionalidade estabelecer os parâmetros isonômicos de conexão, ainda encontram dificuldades para aprovação, referindo-se a uma avaliação preliminar e não oficial. Enquanto não ocorre a finalização do Prodist, os cogeradores ficam a mercê das diferenciadas regras das Distribuidoras.  

Com relação à matriz energética, constata-se que a mesma está desequilibrada, em havendo uma pequena variação na série hidrológica, o que implica em um violento impacto nos custos marginais de operação. A diferença entre a energia assegurada e a carga própria é significativamente grande. Muito se tem falado sobre a diversidade da Matriz e pouco se tem implementado.

A conseqüência é traduzida em um Risco de Déficit muito além do esperado e que inevitavelmente aumentará, provocando ainda mais o desequilíbrio entre a oferta e a demanda, comprometendo o gerenciamento do risco. Diante de tal constatação, torna-se inevitável o questionamento sobre a atual situação da matriz e infra-estrutura energética brasileira.

Como forma de garantir uma futura oferta, o governo vem promovendo leilões reversos de energia no ambiente regulado. Um dos objetivos finais é promover a modicidade tarifária, estabelecendo um preço teto para geração hidráulica e térmica. Pois bem, essa atitude é muito válida, desde que se considere um empreendimento de grande porte, que tenha economia de escala e se viabilize com um preço de energia menor.

No entanto, grande parte dos empreendedores necessita participar destes leiloes, para ter um contrato de venda de energia e obter o dificultado financiamento. O que tem ocorrido é uma falta de valorização para a geração à biomassa, pois colocam na vala comum uma energia diferenciada e gerada no momento em que o sistema mais precisa de energia.

Ainda não vislumbraram que esta energia pode aumentar e melhorar a energia assegurada do sistema e que merece uma valoração diferenciada, considerando que a energia mais cara é aquela que não se tem. As mudanças necessárias para se atingir o nível de segurança energética admissível têm o seu principal foco nas atitudes governamentais, no sentido de rever a política e os conceitos energéticos e identificar, sem miopias, a importância das energias renováveis, não somente no papel, mas ofertando condições adequadas para a operacionalização dos projetos. Portanto, não haverá um equilíbrio na cadeia produtiva da energia, com a prática da atual política energética, considerando que em tempo real existe o par perfeito geração-carga.