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Jairo Menesis Balbo

Diretor Industrial da Usina São Francisco

Op-AA-18

A mundialização do etanol aumenta a oferta da bioeletricidade

Anualmente, no Brasil, entram no mercado de trabalho 3,2 milhões de jovens. O ganho de produtividade e as inovações tecnológicas colocam nesta mesma fila da procura de emprego 460 mil brasileiros. Para atender a esse contingente seria necessário gerar 3,6 milhões de vagas a cada ano. O PIB, para atender a essa demanda, tem que ser igual ou maior do que 5%; e sabemos que com a nossa infra-estrutura, o risco de apagão total ou de apagão em nível de energia elétrica está em torno de 4% desse crescimento.

Energia e geração de empregos: Para cada 1% do PIB, precisamos de 1,2% de energia. Na Europa, esse valor já é de 0,9%, devido ao estágio de equilíbrio que eles atingiram. Observamos que no Brasil o consumo por pessoa é 2.121 kWh/ano, na França 6.797 kWh/ano, na Austrália 9.666 kWh/ano, nos Estados Unidos 12.643 kWh/ano e, no Canadá, cerca de 7,5 vezes mais que o Brasil, com 15.815 kWh/ano.

Temos, no Brasil, uma qualidade de vida inferior a desses países. Doze milhões de brasileiros vivem sem energia. A taxa média de desemprego no Brasil é de 12%, com picos, como é o caso da Grande São Paulo, de 17%. Para a geração dos 3.660.000 novos empregos necessários a cada ano, o PIB teria que crescer 5% ao ano. Para que isto pudesse ser realizado, teríamos que gerar, a cada ano, 6% a mais de energia. Ou seja, precisaríamos gerar 3 mil MW a mais de energia a cada ano - 12 mil MW a cada 4 anos, o equivalente a construir uma Itaipu neste período, se quiséssemos garantir o pleno emprego.

Desenvolvimento: Nos últimos 25 anos, crescemos em média 3% ao ano. Qualquer valor abaixo de 5% representa que muita gente não foi atendida com o emprego necessário.Isso é sinônimo de subdesenvolvimento. Na época do apagão, de 2001 a 2003, o PIB cresceu, em média, 1,1% ao ano, abaixo do crescimento da população, de 1,4%. É fundamental que se invista em infra-estrutura - portos, estradas, aeroportos, energia, etc, para que consigamos voltar a crescer nos percentuais que temos necessidade.

Um dos poucos negócios auto-suficientes em energia elétrica é o sucroalcooleiro, pois a usina, além de não precisar de energia, gera um significativo excedente na rede. O setor, que cresce 1% do PIB a cada ano, precisa de zero de energia. O desenvolvimento poderá ser limitado à energia elétrica disponível e um menor desenvolvimento piora a qualidade de vida da população, gerando queda de produção de bens e, conseqüentemente, desemprego. Sem energia não cresceremos e ficaremos mais pobres.

Parque Gerador: A capacidade geradora instalada no Brasil é de 96,5 mil MW médios e a capacidade para suprir a carga de eletricidade é de 58,5 mil MW médios. Em 2030, precisaremos ter 130 mil MW instalados, e, segundo a Empresa de Pesquisa Energética – EPE, 88 mil MW virão das usinas hidroelétricas, 12 mil MW das termoelétricas - queimando gás natural, 5 mil MW das usinas termonucleares, 7 mil MW das PCHs, 1 mil MW do lixo, 5 mil MW dos ganhos de produtividade, e, destaco: 7 mil da biomassa da cana, através da colheita de 1,4 bilhão de toneladas de cana. O setor sucroalcooleiro tem, aproximadamente, 400 unidades, das quais 10% com excedentes e capacidade total atual de 2.810 MW de geração, com cerca de 600 MW excedentes.

Investimentos necessários: Para que não tenhamos racionamento de energia elétrica, o Brasil requer o investimento em geração-transmissão-distribuição de US$ 15 bilhões anuais, a partir de 2004, e destinados a operações de US$ 40 bilhões nos próximos 10 anos. Como conhecemos as dificuldades dos recursos públicos, a iniciativa privada é a melhor saída.

O racionamento é aceito pelo sistema em 5%. Em 2007, foi estimado 25% no Sudeste, e acabou havendo; só que passou despercebido, através de um menor crescimento e de todo o problema que aconteceu com o gás. E, para 2008, em 50%, que, com o regime de chuvas, foi amenizado, mas a situação já está começando a se complicar novamente.

Outro grande problema são os projetos de hidroelétricas que estão dependendo de licença do Ibama, envolvendo a geração de cerca de 7.600 MW de energia. O custo do déficit energético no Brasil é de, aproximadamente, R$ 3.000 por 1 MW, ou seja, é muito mais barato investir em infra-estrutura do que pagar o custo pelo déficit.

Em 2001, durante o racionamento, o custo foi de R$ 640 por MW - em valores não corrigidos. No racionamento via preço, quem pode pagar, leva. Quem não pode, diminui o consumo. Podemos concluir que a energia mais cara é a que não temos. O racionamento e a falta de energia têm como conseqüência a redução de competitividade de produtos brasileiros no exterior, a redução do ritmo de desenvolvimento econômico, o aumento do preço das mercadorias e de serviços e a piora do Índice de Desenvolvimento Humano - IDH.

A Argentina é um exemplo do que não devemos fazer no Brasil. Ela estava crescendo de 8% a 9% ao ano. Com o racionamento, as grandes empresas foram limitadas a consumir o mesmo valor da energia consumida em 2005 e o baixo valor das tarifas desestimulou completamente os investimentos no setor de energia elétrica no país. Desde 2001, não há investimentos. Os últimos grandes projetos em energia, na Argentina, foram feitos em 1990 e, para se ter uma idéia, a conta de luz média da família argentina é de US$ 10 por kW, o que afugenta qualquer investidor.

A energia do mundo: Temos duas questões em relação à energia no mundo: Como é possível aumentar a oferta de fontes e como fazer isto sem colocar em risco o planeta? Hoje, no mundo, 1,5 bilhão de pessoas estão sem acesso à energia e terão que entrar no mercado. Grande parte dessa demanda está na China, que usa a fonte mais poluente de energia, o carvão.

Na África, em grandes regiões, apenas entre 10% e 35% da população tem acesso à energia, fazendo com que o consumo per capita equivalha a 1/15 do consumo dos Estados Unidos. Já na Europa, 50% dos suprimentos vêm de países estrangeiros, principalmente da Rússia. França e Alemanha são menos dependentes, mas utilizam muita energia nuclear.

O crescimento estimado da demanda global por energia, entre 2005 e 2030, será de 55%. Desse aumento, 84% virá dos combustíveis fósseis. Para estabilizar a concentração de CO2 na atmosfera em 450 partes por milhão - nível considerado seguro pelos cientistas, seria necessário cortar 19 bilhões de toneladas do gás, o que é mais do que as emissões de todos os países industrializados somados em 2005.

O carvão mineral terá um salto de 73% na demanda, passando a responder por 28% da energia mundial em 2030, contra 25%, em 2005. O aumento estimado nas emissões de gases de efeito estufa no mesmo período é de 57%. Estados Unidos, China, Rússia e Índia responderão por dois terços das emissões globais. Já em 2015, 50% de toda emissão de CO2virá da China, dos Estados Unidos e da Índia. O uso da energia nuclear é muito mais forte do que imaginamos. O grau de dependência da França é de 78%, da Bélgica de 60%, do Japão de 34% e da Alemanha 33%, enquanto no Brasil, representa apenas 3% da nossa matriz.

A energia no Brasil: Os produtos da cana-de-açúcar já passaram a energia hidráulica, com 16,0% contra 14,7%. Na energia elétrica, a representação do setor sucroalcooleiro está crescendo, com investimentos no desenvolvimento de novas tecnologias e, dependendo do preço a ser pago pela geração de excedentes, as usinas entrarão de forma definitiva nesse mercado.

As usinas já fazem cogeração de energia, há mais de cem anos, e o que fizemos na Usina São Francisco, em 1987, foi interligar nosso sistema ao sistema nacional, trabalhando juntamente com a CPFL. A cana é uma alternativa energética limpa, renovável e brasileira. É também uma das máquinas mais eficientes da natureza para estocar a energia do sol.

A energia da cana é dividida em três partes: 1/3 da energia está no caldo, que fabrica açúcar e álcool; 1/3 da energia são folhas e pontas - que estudamos como utilizá-las melhor, mas ainda há muito o que fazer, e 1/3 da energia é bagaço. Uma tonelada de cana tem de 250 a 275 kg de bagaço, sendo que 1 kg de bagaço gera 2 kg de vapor e 1 kW precisa de 10 kg de vapor.

Vantagens da cana: Uma das principais vantagens da geração de energia elétrica com resíduos de cana é permitir a correção da oferta sazonal de hidroeletricidade, uma vez que a safra do setor sucroalcooleiro coincide com o período de seca, no qual há escassez de geração de energia das hidrelétricas.

Hoje, o sistema vende energia pela energia firme, e a safra de cana coincide com a seca, quando as represas diminuem seus volumes e, então, entramos com a nossa energia. Essa é a importância da energia cogerada da biomassa. Cada 1.000 MW de bioenergia permite elevar em 4% o nível dos reservatórios, onde a energia da biomassa substitui a energia hidráulica.

Já existe amplo domínio da tecnologia para cogeração e interligação dos sistemas de fornecimento. É uma tecnologia brasileira e: oferece emprego em todo o interior do país e a manutenção dos atuais postos de trabalho, com o fornecimento de energia; o custo dessa energia não depende do risco cambial e do preço internacional do petróleo; promove o desenvolvimento das indústrias de base brasileiras; oferece a perspectiva de preços decrescentes, diretos e indiretos, para outros energéticos como o etanol, agregando valor à cana-de-açúcar; tem um efeito ambiental positivo, com a redução do nível de emissão de CO2; para seu suprimento, a unidade cogeradora passa a ter menores perdas elétricas.

A geração de energia térmica é mais confiável que a linha elétrica, porque sofre menores intervenções das condições atmosféricas, dando equilíbrio ao Sistema Energético Brasileiro, que é 95% hidráulico. O investimento para cada kWh instalado a partir do bagaço de cana é de, aproximadamente, US$ 1.000,00, além de não necessitar investir em linhas de transmissão, pois a cana está, geograficamente, distribuída ao longo do consumo.

Esse valor oscila muito, pois cada projeto tem suas peculiaridades. De toda forma, para comparar, o investimento na energia nuclear chega a US$ 8.000,00. Concluindo, com a internacionalização do etanol, podemos aumentar a oferta de fontes de energia elétrica da biomassa (bagaço), aumentando a participação da bioeletricidade na matriz energética e, o melhor, sem colocar o planeta em risco.