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Humberto César Carrara Neto

Consultor especialista no sistema sucroenergético

OpAA71

O desafio da recuperação da produtividade
Desnecessário discorrer sobre a recuperação dos preços e, consequentemente, da remuneração advinda dele ao setor sucroenergético, mas o assunto em questão precisa ter esse cenário como pano de fundo. Os bons ventos comerciais sopraram sobre todos os produtos da cadeia, açúcar, etanol e energia, ventos que se originaram de diferentes fontes, porém e afortunadamente sopraram para cima e tudo indica que continuarão nessa direção na próxima safra.
 
Desafortunadamente, os mesmos ventos também sopraram para o setor de insumos, fazendo com que os custos de produção e as dificuldades de reposição de ativos se contrapusessem ao vetor de alta das remunerações dos produtos, porém a resultante desses vetores alavancou nossa já sofrida cadeia e nos fizeram “respirar e sonhar” com safras melhores.

Houve, porém, dois “elementos”, na verdade “maus elementos”, que, apesar de terem contribuído um pouco para os resultados comerciais desta safra, podem trazer dissabores consideráveis para a safra 22/23. Eles são a seca e a geada, que assolaram os canaviais na safra 21/22.
 
A seca dificultou enormemente o desenvolvimento das soqueiras e dos plantios de inverno; as geadas, na sequência, praticamente zeraram o pequeno desenvolvimento que a cultura conseguiu até julho e agosto e trouxeram uma soqueira já debilitada pela seca a uma mesma idade fenológica, ou seja, os canaviais reiniciaram seu desenvolvimento a partir das primeiras chuvas de verão.

O que temos diante desse cenário não é um desafio operacional, comercial ou de suprimentos e originação. O desafio que nós temos agora é: como fazer esse canavial se desenvolver o máximo possível em poucos meses de chuvas e potencializar os resultados comerciais que ainda se mantêm no horizonte?
 
Ponderando que o clima é imponderável e considerando que, apesar dos preços dos insumos, me parece ser consenso que os produtores irão nutrir adequadamente seus canaviais, só nos resta um vetor a ser “turbinado”, o da fisiologia, ou seja, descobrir como “abrir o apetite” dos canaviais, fazer com que as raízes e folhas absorvam os nutrientes oferecidos, fazer com que as células metabolizem o máximo dos elementos e, de forma mais eficiente, transformando-os em massa vegetal, carbono e energia.

Como fazer esse canavial aproveitar ao máximo os parâmetros edafoclimáticos no menor tempo que terá para se desenvolver? A exemplo do que fazemos com equipamentos mecanizados, quando avaliamos o seu potencial de produção máximo, eliminando todos os tempos perdidos para que, comparado com o rendimento operacional prático obtido, saibamos a que distância estamos do potencial máximo (capacidade técnica X capacidade operacional), diversos estudos de desenvolvimento vegetativo já nos indicaram que estamos muito longe do aproveitamento máximo dessa gramínea chamada cana-de-açúcar.
 
Portanto entendo que a equação está montada: como proporcionar um crescimento diferenciado para os canaviais que vêm debilitados por seca prolongada, depois tiveram suas folhas queimadas pelo frio, anulando todo o desenvolvimento vegetativo que conseguiram até ali, obrigando à nova rebrota e ainda disputando comida com as ervas daninhas?

Para isso, temos que consultar e ouvir os fisiologistas, entender o papel dos aminoácidos, dos ácidos orgânicos, dos hormônios de crescimento, sua forma de ação na planta, saber o que e em que momento oferecer para que consigam “turbinar” o crescimento vegetativo dos canaviais, buscar informações sobre metabolismo vegetal e como potencializá-lo.
 
Parece-me que, diante de um cenário desafiador e diferente, não podemos continuar a fazer o mesmo, oferecer nutrição de uma só vez, através de uma única fonte e por uma única forma de absorção. 
 
Temos que rever o tempo da nutrição, rever a oferta de micronutrientes, suas fontes e formas de absorção (radicular/foliar), potencializar metabolismo da planta; buscar rapidamente informações sobre formas de atuação e impactos de ácidos húmicos e fúlvicos, aminoácidos e hormônios, pode ser uma rota a ser explorada e, quem sabe, a partir de uma dificuldade implementada por fatores climáticos, aprendamos a explorar melhor o potencial dessa planta.

Bem, meus amigos, nesta jornada, eu só consigo chegar até aqui, na montagem do cenário, na equalização do problema e no levantamento das questões... Passo, agora, a ser “ouvinte”. Com a palavra, os fisiologistas e os nutricionistas. Microfones abertos a eles.