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Suleiman José Hassuani

Gerente de Pesquisa Tecnológica

Op-AA-32

As duas rotas da gaseificação

A gaseificação é, hoje, um grande desafio, não só pelo aspecto técnico-operacional relacionado ao aproveitamento de biomassa da qual se pode extrair o gás, mas também por outros aspectos, principalmente o que se relaciona aos custos e ainda tendo de se considerar a regulamentação de uso e a cultura de substituição de produtos de origem fóssil. É um grande desafio, em escala mundial, para o CTC, que tem trabalhado nessa área.

Historicamente, a gaseificação começou com o uso de gás nos carros (já desde os tempos da Segunda Guerra Mundial) e passou, depois, pelo processo de transformação desse produto em energia elétrica, com a constatação de uma solução eficiente, porém cara, daí não ter tido aceitação maior no mercado.

Alternativamente, podemos também recorrer a outras formas de energia elétrica renovável, como a solar e a eólica. Apareceram outras alternativas para a gaseificação, com destaque para o projeto de transformar a biomassa em produtos químicos verdes, porque a biomassa contém carbono que pode ser útil na construção de outros produtos. Várias empresas e instituições no mundo têm buscado essa destinação mais nobre.

Na última década, a possibilidade de gerar produtos químicos verdes a partir da gaseificação tornou-se um atrativo, mesmo com a barreira do alto custo de produção que tem inibido o avanço dessa tecnologia. Há necessidade de se descobrirem nichos onde esses produtos sejam valorizados, ou, então, que tenhamos algum tipo de apoio do governo a fundo perdido, para que essa tecnologia chegue a um custo acessível.


O CTC trabalhou bastante em pesquisas de gaseificação na década de 1990 e no início dos anos 2000, em parceria com empresas da Europa, focando na produção de energia elétrica em ciclos mais eficientes. 

Mais recentemente, o CTC iniciou a participação em projeto coordenado pelo IPT, num grande consórcio que vai atuar nas duas linhas, tanto na produção de energia elétrica mais eficiente com gaseificação, quanto no objetivo de produtos nobres. São duas rotas paralelas, visando atender a interesses de empresas incluídas no consórcio. 

No caso da cana-de-açúcar, a gaseificação pode ocorrer a partir do bagaço ou da palha, ou de ambos. Na energia elétrica proveniente do bagaço, poder-se-ia, num processo único, gerar excedente e o vapor que são necessários para operação das usinas.

Quanto a produtos químicos, seria um processo quase independente, em que se usaria parte da biomassa para atender às necessidades de energia da usina e a outra parte excedente destinada a produtos mais nobres. A geração de energia elétrica pode-se tornar mais eficiente, obtendo-se quase o dobro do que se obtém hoje.

Mas aí cabe a pergunta: se é assim, por que a usina não faz isso? Não faz porque, além de existirem ainda algumas barreiras tecnológicas, essa geração seria mais cara. Mesmo gerando o dobro, o custo por unidade de energia produzida seria mais alto do que é hoje.

Outra opção que a usina teria: em vez de usar biomassa para exportar energia elétrica, cujo valor econômico hoje está baixo, ela poderia chegar a outros produtos com valor agregado maior, como produtos químicos e fertilizantes, nos quais o ganho poderia ser consideravelmente maior.

O Brasil não trabalhou muito nessa área, se comparado a outros países, embora estes também, regra geral, não trabalhem no nível ideal, restringindo-se as pesquisas a algumas poucas empresas. No caso brasileiro, para nos situarmos em rota contrária, temos, agora, por exemplo, as perspectivas muito positivas com o pré-sal, o que faz com que a energia renovável fique em plano muito abaixo, sem o impulso de que gostaríamos.

Com algumas poucas parcerias e pesquisas baseadas no conhecimento de alguns importantes pesquisadores mundiais, com os quais temos contato, o Brasil poderia logo ter condição de estar muito próximo do atual nível tecnológico mundial. É um desafio, mas, realmente, do lado tecnológico, não é muito difícil levar a condição do Brasil à condição mundial.

O que precisamos é um ambiente adequado de motivação de empresas e do próprio governo para chegarmos à tecnologia avançada. Hoje, em escala mundial, tem existido uma conscientização muito grande em relação às tecnologias verdes, porque alguns países se defrontam com fontes energéticas em situações difíceis. O maior exemplo é o Japão que, por conta da crise com a energia nuclear, provavelmente vai buscar fontes verdes renováveis para tentar substituir, pelo menos parcialmente, sua atual base de energia.