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Jairo Menesis Balbo

Diretor Industrial das Usinas Santo Antônio e São Francisco

Op-AA-53

Organizações são movidas por pessoas
O etanol é o mais brasileiro, limpo e barato dos combustíveis. No entanto, é o que mais enfrenta desafios para se firmar em sua própria terra – terra essa que dedica à sua matéria-prima uma grande área de cultivo e divide o mesmo espaço com outras culturas –, para fornecer alimentos com menores custos de produção e exportar recordes de excedentes.  
 
Lembramos que, há pouco mais de quarenta anos, o Brasil lançou o Proálcool, como a mais eficaz e rápida resposta à crise do petróleo, que havia colocado o mundo à beira de uma guerra. Até hoje, o País não conseguiu vencer nem o primeiro desafio: não existe um motor projetado e construído especificamente para receber o combustível verde.

Mais uma gambiarra que dá certo no país do “jeitinho”. Temos carros movidos a álcool, mas motores a álcool, não. Seu protótipo deve estar em algum lugar do Centro Técnico Aeroespacial, em São José dos Campos, onde começou a ser pesquisado em 1951. Com seu motor, o cientista urbano Stefano Stumpf viajou e convenceu vários países. Menos o seu. Faleceu no dia 17 de maio último.
 
Depois dele, quase tudo foi ensinado mais pelo próprio uso do etanol, nas usinas, nos canaviais, nas universidades e nas bombas dos postos, do que pelo Poder Público, que jamais moveu uma “palha” (nem de cana) para consolidá-lo como a solução que (ainda) pode nos livrar da dependência do petróleo. É que o álcool vai bem sempre. Sem ninguém esperar, o anidro tirou o venenoso chumbo tetraetila da gasolina e, misturado ao diesel, acabou com o poluente particulado que sai na fumaça preta. 
 
O Brasil não é mais o maior produtor nem o maior consumidor de etanol, e continua esperando definições para planejar avanços tecnológicos, só alcançados pelo esforço abnegado dos empresários, cientistas e trabalhadores ligados ao setor.
 
Jamais um programa de governo, baseado na iniciativa particular, foi tão produtivo e deu ao País tanto conhecimento tecnológico advindo da dedicação e da formação de técnicos especializados. Graças ao investimento empresarial, resultante do Proálcool, o Brasil reúne hoje o maior e mais importante patrimônio de pesquisas nessa área da biomassa. 
 
Exemplo? Este resume e está na origem de quase todas essas dificuldades: o etanol nos proporciona um ganho de produtividade com custos descendentes, enquanto os custos dos derivados de petróleo serão sempre ascendentes. O que se reivindica não se baseia em competição com nenhum deles.

Como o petróleo e seus subprodutos poluem muito, cabe à Petrobrás compensar essa diferença em favor do etanol, para que haja recursos destinados à pesquisa e desenvolvimento de produtos brasileiros, com inigualável soma de vantagens comprovadas em benefício da qualidade de vida e da sustentabilidade da nossa economia. O que a Nação ganhou até hoje com gastos na redução da emissão de gases das fontes fósseis é, certamente, muito menos do que os benefícios conquistados com o uso do etanol. 
 
Isso ficou tão corriqueiro, que a imprensa nem se ocupa mais em registrar a queda do número de mortes e casos de doenças respiratórias nas grandes cidades, notadamente no inverno, desde a adesão dos modelos movidos a etanol mais o advento do carro flex.
 
Neste ano – e este é outro exemplo – celebramos os trinta anos da entrada do Brasil na era da energia da biomassa a partir da queima do bagaço da cana. 
 
Feito pioneiro, conquistado em nossa região. Não foi fácil romper as barreiras estatais das concessionárias de energia elétrica. Conseguimos. Em seguida, dezenas de usinas adotaram o sistema. Terminamos 2016 com a cana como responsável por 17,5% de toda energia consumida no Brasil; já superamos a meta do País para 2030, estabelecida no NDC em 16%. Estaríamos muito mais à frente, não fosse o preço baixíssimo que o governo paga pela energia do bagaço, o que nos impede de investirmos o que é necessário no etanol celulósico, de alta produtividade. Não por acaso, vários projetos com essa fonte estão paralisados.
 
Pensavam que ela fosse apenas a cana do açúcar, do álcool e da cachaça, mas seu corpo destila eletricidade, plásticos, medicamentos, papel, ração, cera, levedura, fertilizantes, tecidos, proteína, próteses, alimentos, combustível e substitui quase todos os derivados do petróleo. Polui muito menos, até limpa o ar. E conserva o solo.
 
Isolado e carente de bases para planejar, o setor sucroalcooleiro é uma orquestra dos melhores músicos, mas sem instrumentos. E isso é visível em cada unidade de produção. Não há no mundo funcionários mais especializados e tão bem preparados do que os brasileiros nessa área. Faz tempo, um cientista atuante e respeitado no campo da preservação ambiental, nos envaideceu muito após um dia de visita: “Seus funcionários vivem na Bélgica e não sabem.”. Isso, fruto do investimento na qualificação dos trabalhadores.

Boa parte, desde a adolescência. Aqui, criam raízes porque gostam do que fazem, sabem o que fazem e têm liberdade para fazer e experimentar sempre. Confirmam a tese de que a riqueza do homem não está nos bancos nem nos poços de petróleo, mas no conhecimento que adquirem estudando e trabalhando. Como evitar que os sonhos desses jovens não se transformem em desilusão? Essa responsabilidade fundamental fica quase toda com os empresários, as famílias e a sociedade. 
 
A situação se agrava quando faltam meios e condições para aprimorar a tecnologia, e a ameaça da obsolescência e do sucateamento mostra para o recém-formado que o sonhado diploma pouco ou nada serve, desvalorizado pela modernização que não chega e pela indiferença do Poder. Muitos deixam o País atrás de reconhecimento. Apesar do momento, temos investido, expandido e preservado nosso patrimônio: nossos colaboradores.
 
Imagine a grandeza do investimento humano para tornar uma usina produtora de cana, açúcar e álcool um centro de excelência profissional e de pesquisa, que emprega mais de meia centena de pessoas formadas nas universidades, mas que chegam ao mercado de trabalho sem preparo algum.  Nosso contexto de trabalho muda com incrível rapidez e hoje vemos a competição nacional e internacional por mercados e empregos, cada vez mais crescente. 
 
Com o passar dos anos e das crises históricas, organizações estáveis desapareceram, outras surgiram, outras se fundiram. As coisas não param de se transformar, mas uma é imutável: organizações são movidas por pessoas! 
 
Aí está o nosso foco do crescimento e desenvolvimento, no ser humano que está atrás das máquinas e das estratégias de produção. Investimos em tecnologia e novos processos, mas, se observarmos o cenário da usina quando acaba o expediente ou se olharmos para trás quando todos foram para suas casas, o que ficou, são apenas prédios e equipamentos “frios”, que nada significam por si só.

Portanto, o maior potencial de desenvolvimento dos negócios está no talento de nossos colaboradores. Uma empresa de sucesso depende de colaboradores produtivos, dinâmicos e que se sentem parte dela. Hoje, sabemos que, através de pesquisas, só 20% das pessoas usam todo o conhecimento e potencial que têm, ou seja, a maioria não apresenta seus resultados com base em toda a sua capacidade produtiva. 
 
Por isso, o maior desafio está na escolha das ferramentas certas, para extrair das pessoas o que elas têm de melhor, a mais alta performance, adquirida com o investimento da própria empresa ou fruto do auto investimento, quando a busca do colaborador vai além dos limites da companhia.
 
Pessoas produtivas estão sempre aliadas a missões de vida e o “querer fazer” e o “fazer com prazer” nos movem para a produtividade, além de influir na qualidade do que produzimos.
 
O que fazemos para ter resultados satisfatórios e visarmos sempre o caminho da evolução operacional da nossa área? Valorizamos as pessoas, sem distinção de cargo ou salário. O treinamento e a educação são ferramentas essenciais para manter nosso time qualificado e atualizado.
 
Penso que pessoas altamente produtivas são as que têm capacidade de aprender e assimilar novos conhecimentos ao mesmo tempo em que produzem, ou seja, aprendem fazendo. No entanto, ressalto que, às vezes, o que falta não é conhecimento, mas atitude.
 
Exemplo disso, constatamos nos últimos anos com os resultados da performance de nossos colaboradores. Percebemos que, na constante capacitação, além do valor agregado ao conhecimento, o que mais nos chama a atenção é o comprometimento enraizado com as metas do setor. Antes, quando os operadores perguntavam da produção, pensavam em quantidade.

Hoje, questionam sobre a recuperação do processo, mostram-se preocupados com o cliente, com o atendimento às especificações do produto e voltam-se inteiramente para o alcance das metas estabelecidas. Esse ambiente de trabalho leva ao aumento da produtividade e ao desenvolvimento do ser humano, individualmente e em equipe. A redução de custos é consequência.
 
O segredo?  Fazer coisas simples, excepcionalmente bem feitas!
 
Concluo citando Bertold Brecht, que expressa a dedicação genuína como essência da produtividade: “Há homens que lutam um dia e são bons; outros lutam um ano e são melhores, há os que lutam muitos anos e são muito bons, porém, há os que lutam toda vida – são os imprescindíveis”.