Coordenadora dos Programas de Sustentabilidade Global e Consumo Sustentável do Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV
Op-AA-13
A produção brasileira do etanol ganhou espaço de destaque na mídia internacional, no contexto do combate ao agravamento do efeito estufa e da conseqüente necessidade de “descarbonização” da matriz energética do planeta, decorrente de dois séculos de intenso consumo de combustíveis fósseis e de práticas insustentáveis de uso do solo.
A busca por energias renováveis tornou-se imperativa num planeta que busca a evolução de sua economia, sem comprometimento da sustentabilidade das diferentes formas de vida. A experiência brasileira com o etanol tornou-se alvo de intensa especulação, dado seu potencial de contribuir para o equilíbrio climático planetário e desenvolvimento econômico em países menos desenvolvidos ou em desenvolvimento, e oferecimento de energia renovável para países desenvolvidos.
Os comentários deste artigo pretendem contribuir para a reflexão sobre a necessidade de critérios para a produção sustentável do etanol, com enfoque no respeito aos limites do planeta e aos direitos humanos, em particular, das populações menos beneficiadas pelo modelo de desenvolvimento atual. O consumidor dos países desenvolvidos é atento e exigente quanto aos critérios de sustentabilidade socioambiental, fruto de anos de pesquisa e educação.
Esse consumidor-cidadão exige cada vez mais garantias, não só da qualidade dos produtos, mas também da sustentabilidade na cadeia produtiva dos bens ou serviços. Há sistemas de certificação e reporting de sustentabilidade empresarial que orientam consumidores e investidores. É fundamental que o setor produtivo brasileiro acompanhe essas tendências.
Alguns desses critérios são citados a seguir, a título de reflexão sobre a importância da minimização dos impactos nocivos da cadeia produtiva do etanol, numa abordagem de ciclo de vida do produto, ACV, que considera desde a retirada da matéria-prima da natureza, até o consumo do produto e descarte final de rejeitos. Essa ferramenta já está sendo incorporada em sistemas de certificação e é fundamental aumentar o investimento na pesquisa e na capacitação dos técnicos brasileiros para sua utilização, sob pena de comprometer nossa competitividade no mercado externo.
Questões ambientais: Os problemas ambientais mais relevantes da atualidade são a escassez de água potável, a degradação de ecossistemas e da biodiversidade, degradação dos solos, arenização e desertificação, contaminação de oceanos, e a mudança global do clima. Nesse contexto, todos os atores sociais são convidados ou obrigados, a agirem. Governo e sociedade têm sido cada vez mais exigentes.
O setor produtivo também vem se organizando, debatendo, e aderindo a ações voluntárias. A proteção ambiental torna-se necessária para a sobrevivência e progresso das atividades econômicas. O setor sucroalcooleiro, como outros segmentos, está sujeito a normas que regulamentam o uso dos recursos ambientais e o descarte de rejeitos.
As leis ambientais brasileiras, dentre as mais exigentes do mundo, limitam o uso do solo e a produção agrícola, em vários aspectos. E, o cumprimento da lei deve ser considerado como patamar mínimo de responsabilidade para as empresas. Espera-se que se antecipem aos problemas ambientais e trabalhem além do que ditam as leis de cada país. É por isso que existem vários sistemas voluntários de certificação ou auditoria de sistemas produtivos, que cobram essa adicionalidade.
Muitas vezes, a legalidade é suficiente, mas em muitos países – para onde muitas empresas brasileiras pretendem exportar a tecnologia de produção do etanol – as normas ambientais são frouxas, e o desrespeito a padrões mínimos poderá comprometer os ecossistemas e formas de vida nesses países. O mercado internacional estará atento a isto.
Dentre os aspectos relevantes, em termos de proteção ambiental, aplicáveis ao setor sucroalcooleiro, constam:
Questões sociais: Dentre as questões sociais mais prementes, que devem orientar a ação responsável e ética do setor sob o aspecto social, destacamos algumas: