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Merquisson Sanches

Gerente de Operações Brasil da TT do Brasil

OpAA80

O plantio mecanizado versus a mão de obra
A agricultura atual vive uma etapa já além da automação. O monitoramento de dados de todas as operações agrícolas visando não só repetibilidade, que sempre foi uma função básica da automação, porém agora se autoajustando, identificando alteração do ambiente, o modo de operar e as variáveis diversas que servem para tomada de decisão trazem cada vez mais rendimento, redução de desperdício e controle do tempo real de trabalho versus tempos ociosos, tornando o ambiente agrícola um dos mais tecnológicos.

Toda essa mudança benéfica hoje já vemos sendo aplicada na cultura da cana-de-açúcar, porém num ritmo ainda mais lento que em outras culturas como grãos, por exemplo. Vem também ao encontro dos desafios da disponibilidade de pessoas (mão de obra). 
 
Uma frase que já ouvimos bastante no meio é “a mecanização na cana é um caminho sem volta”. Pessoalmente concordo. Hoje, diferentemente de uns 8 ou 10 anos atrás, vejo um envolvimento muito grande dos usuários da tecnologia (máquinas, implementos, softwares, etc.) com os fabricantes. Essa junção tem feito acelerar os desenvolvimentos dos equipamentos que suprem essa lacuna antes utilizada fortemente por mão de obra braçal.
 
Os relatos em qualquer parte do país, seja no Centro-Oeste, no Centro, ou Nordeste, em sua maioria, são os mesmos – está muito difícil ampliar o número de funcionários ou ainda repor os que se aposentam. Tive oportunidade de falar sobre isso com muitas usinas em locais diferentes do mundo, e o problema é o mesmo. Em uma conversa com uma usina da Guatemala, por exemplo, dias atrás, citou-se que o problema imigratório é gigante, além das dificuldades com a legislação local.

Quando olhamos para cana-de-açúcar e dividimos as operações agrícolas basicamente em 4 fatias (preparo de solo, plantio, tratos e colheita), três delas já são implícitas que serão feitas de forma mecanizada, porém uma delas, o plantio, é a que vemos viver em ondas. Ora aumentando seu percentual mecanizado ou semimecanizado, ora retraindo se utilizando de mão de obra para essa tarefa.

Hoje, existem diversos fabricantes de implementos para essa função que podem ajudar o setor a mitigar esse receio de plantar mecanicamente, porém as pessoas que vão operar esses equipamentos, bem como todos que rodeiam essa atividade, devem estar sempre buscando uma melhor qualificação, seja ela formação interna, treinamento ou até uso de formação externa, seja nível técnico ou superior para operar equipamentos que têm um valor econômico importante.
 
Um ponto de destaque a ser analisado é a viabilidade econômica de uma plantadora frente ao tamanho da área da propriedade. Muitos pequenos produtores somente realizam parte de sua operação agrícola, deixando a colheita principalmente sob responsabilidade da usina para a qual entregam a cana produzida. 

Dessa forma, a introdução de plantio mecanizado nessas áreas trafega por três caminhos: a própria usina planta para eles, utilização de prestadores de serviço ou uso de máquinas de pequeno porte que demandam tratores menores para essa operação. Existem opções de máquinas mais compactas que ainda necessitam de pessoas operando e máquinas de uma linha totalmente automatizada que necessitam de tratores em média de 140cv. 

Tenho visto uma grande quantidade de produtores que têm buscado plantadoras no mercado para atender à sua demanda, porém atuando fortemente em prestação de serviço, com isso gerando um negócio paralelo que facilita muito viabilizar o custo de introdução dessa tecnologia.

Fazendo um paralelo entre o passado e a atualidade e olhando um pouco a frente, a mecanização no plantio de cana vai chegar a todos. Seja como hoje com plantio de tolete, seja algum dia com plantio de semente, o que vai diferir os resultados do passado e dos hoje alcançados é o usuário entender o sistema. 

Para o plantio de cana de forma mecanizada não basta simplesmente ter uma plantadora. Os projetos passam por sistematização da área de forma adequada ao plantio, preparo de solo adequado, utilização de canterizadores onde é tecnicamente favorável e assim por diante. Uma das atividades mais importantes para sucesso é a colheita de muda, e ainda hoje vemos baixa qualidade nessa atividade com índices elevados de danos em gemas. E um dos pontos principais é a não existência de colhedora específica para muda. Todas são adequadas internamente com alguns artifícios para melhorar a operação.
 
Mas e a tão falada plantadora? Como ela pode nos ajudar? Existem alguns fabricantes no mercado, com diferentes conceitos de projeto de máquina e naturalmente modelos distintos, que entregam um bom trabalho quando se cuida dos pontos mencionados acima do artigo, porém alguns quesitos são sempre muito questionados como:
• alto consumo de mudas;
• pelas falhas durante a plantação e sobretudo 
   pela falta de uniformidade na distribuição;
• falta de paralelismo na plantação – as plantadoras muitas vezes não circulam por onde o trator está circulando. 

Esses pontos oscilam seu nível de importância ao longo do tempo.

Esses problemas vêm sendo cada vez mais minimizados com os avanços das plantadoras que estão constantemente em evolução, através do uso de novas tecnologias. 

Mas aqui faço uma ressalva: tecnologia não é somente a utilização de eletrônica e software, a mecânica necessita acompanhar toda essa evolução. Imaginemos pegar um veículo antigo e querer colocar recursos eletrônicos e ferramentas de software. Efetivamente não funcionaria. Todos os dispositivos mecânicos, hidráulicos, etc. devem estar alinhados com as funcionalidades que se deseja. Aonde quero chegar? Dificilmente, pegar um equipamento antigo e dar um “banho” de eletrônica nele transformará significativamente o resultado.
 
Quem entendeu esse caminho, hoje pode se beneficiar dos avanços tecnológicos, obtendo acesso em tempo real a informações, registros de todas as operações, registros de alarmes, poder interpolar essas informações e relacioná-las para melhoria dos processos. A Internet das Coisas é uma realidade, a conectividade gerada por algumas plataformas de dados, como John Deere com o Operantion Center ou Solinfitec, já possuem interface com plantadoras do mercado.

Para finalizar, deixo como mensagem a seguinte opinião: as oportunidades de melhoria tanto em equipamentos ou processos são enormes, seja para expandir os limites operacionais das plantadoras (exemplo: áreas de declives), seja para melhorar o plantio em bordaduras ou ainda se pudéssemos começar a pensar em micro renovação planificada com máquinas que pudessem realizar em larga escala replantio eficiente de áreas com falhas após operação de colheita, gerando maior longevidade de canavial. Mas só esse ponto daria uma nova matéria para ser discorrida.

Nos vemos nos canaviais Brasil a fora.