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Luis Antonio Ferreira Bellini

Presidente da GMEC - Grupo de Motomecanização

Op-AA-44

Uma análise de como José (o filho de Jacó) pode nos ajudar

Sem querer filosofar, mas abusando um pouco do meu direito de fazê-lo, por já ter vivido três décadas nesse setor, aprendi que crises fazem parte da nossa realidade e que, apesar delas, chegamos até aqui e vamos, talvez não todos, seguir em frente, mudando formas de pensar, agir e evoluindo para novos patamares. “Agronegócio é para os fortes” e agronegócio baseado na cultura de cana-de-açúcar é para os fortes, teimosos, resilientes, persistentes, pacientes e muitos outros adjetivos que encheriam estas páginas.

Um amigo, ao receber um prêmio de produtividade da empresa que representava em um seminário dedicado ao setor, em seu discurso, afirmou: “procuramos fazer tudo certo, acordamos cedo e vamos trabalhar”. Isso pode parecer simples, mas é a essência da forma de trabalhar daquela empresa e de tantas outras que se mantêm mais ou menos saudáveis e que vão passar por mais essa crise para colher bons frutos no futuro.

Porém só isso não basta, se assim o fosse, não veríamos organizações onde tudo parecia perfeito sucumbindo diante da maior das adversidades já enfrentada pelo setor canavieiro, pelo menos é a maior que já vi desde que nele atuo (1986). Nesse mesmo encontro, pudemos observar também que, apesar das adversidades, as tecnologias estão evoluindo. Fornecedores, fabricantes, pesquisadores, inventores e empreendedores continuam acreditando que, além de acordar cedo e trabalhar, é preciso também investir em novas práticas em todas as fases de produção da cana-de-açúcar.

Novos mercados e possibilidades estão surgindo, nos levando a crer que estamos no caminho certo, como é o caso da geração de energia através do aproveitamento da palha e das novas técnicas de utilização das áreas de lavoura, novos métodos de plantio e de sistematização do solo. Com o tema proposto pela Revista Opiniões “gestão de assuntos agrícolas do setor canavieiro” em mente, fui em busca de algo que pudesse nos inspirar, com um pouco de filosofia, sem virar clichê, e que servisse também como guia para nossas ações de rotina, e encontrei um texto traduzido e adaptado por Ana Maria Castellano do original 7 lessons learned from The Bible`s Joseph, de Robyn Carr.

Diz o texto que José (filho de Jacó), desprezado por seus próprios irmãos, como o setor vem sendo pelo governo, e lançado no ostracismo, fugiu da armadilha da raiva, ressentimento e conformismo e desenvolveu alguns traços de caráter que lhe permitiram sair de suas provações e se tornar uma pessoa melhor. Das “7 lições de José”, escolhi as 5 primeiras e tentei adaptá-las e associá-las com situações que vivenciamos o tempo todo em nossas organizações. E as outras 2 lições? São sublimes demais, falarei um pouco delas no final. Vamos às lições:

1. Aceitação: Quer tenhamos culpa ou não, o cenário que está instalado é real e, agora, inevitável. Reclamar do governo e do clima pode até nos aliviar numa roda de conversa informal, mas não pode servir de desculpa ou motivo para desânimo. Trabalhar e seguir em frente é a única alternativa. É uma circunstância difícil, mas aceitar a situação é uma forma de superar o obstáculo.

2. Trabalho árduo: Acordar cedo e trabalhar arduamente desperta talentos. A “inspiração com transpiração” nos move à frente e nos ajuda a vencer obstáculos. Se debruçar sobre um problema e não se contentar enquanto não resolvê-lo fará com que tenhamos motivação para enfrentar outros que certamente virão. Observem as empresas que continuam seguindo em frente. Elas investem no talento, criam um ambiente propício à criatividade, mas trabalham muito e são obsessivas na busca de seus objetivos.

3. Paciência: Certamente precisamos muito dela. Oito anos em crise sem perspectivas no curto prazo não é para qualquer um. Haja paciência para tanto, mas... que alternativas temos a não ser continuar trabalhando com disciplina e clareza de objetivos? Se acharem que a palavra paciência parece um pouco de comodismo, procurem substituí-la, então, pela palavra “disciplina”, associada a “planejamento”.

4. Integridade: Parece óbvio demais, mas não é. Tenho visto muitas empresas sofrendo por causa da falta de integridade de alguns de seus colaboradores. Como consultor, sou sempre procurado para indicar profissionais para as usinas e, por mais cuidadoso que eu seja, já me enganei também. Noto que muitas empresas não têm o devido cuidado na contratação de seus colaboradores não fazendo uma pesquisa cuidadosa de seus históricos profissionais e pessoais, e isso é uma falha grave que pode custar caro. Uma prática bastante comum no passado era o cuidado que as empresas tinham em buscar referências de candidatos às suas vagas, evitando, assim, descobrir, depois de muito transtorno, que fizeram a escolha errada.

5. Humildade: Mais uma palavra que pode denotar comodismo, mas não se enganem. Uma organização não sobrevive sem suas equipes, e o trabalho em equipe exige humildade. Humildade no sentido de reconhecer limitações e admitir que talvez você não esteja certo o tempo todo e, principalmente, aceitar que alguém teve uma ideia melhor do que a sua, e, se essa ideia for interessante para a empresa, buscar defendê-la também. Costumo comentar, em minhas visitas, que o segredo do sucesso de qualquer profissional da organização está em alinhar seus objetivos pessoais com os objetivos da empresa, as rotas devem estar paralelas. Aquele que cresce profissionalmente numa empresa, sem dúvida, tem os mesmos valores e objetivos da organização.

Quem sucumbe é porque se desviou da rota. As crises sempre fizeram parte de nossas rotinas, eram, porém, mais curtas, menos profundas e menos abrangentes, mas sempre existiram. No cenário atual, vemos governo, clima, mercado, crédito e câmbio nos puxando para o fundo do poço, que parece não ter fundo. Mas, em algum momento, isso vai mudar, e essa certeza tem motivado empresas, técnicos, gestores, pesquisadores e fornecedores a continuarem acordando cedo e a procurarem alternativas.

De grandes catástrofes renascem seres mais fortes que se adaptam com maior velocidade. É quase uma seleção natural, a natureza nos ensina isso. É interessante como, em qualquer cultura ou religião, os ensinamentos de milênios de anos atrás se mantêm atuais. Bem... Os outros 2 talentos são: “abençoar” e “perdoar”.

Confesso que não consegui associar tão sublimes talentos com o que praticamos no dia a dia, porém lembrei que nosso “setor sucroalcooleiro” foi tão enganado no passado por promessas de que valeria a pena plantar muita cana e prejudicado por concorrências, que praticamente eliminaram nossas margens de lucro, que só nos resta pedir a Deus que abençoe os culpados e lhes perdoe e que os mande para bem, bem longe de nossos canaviais.