Diretor Agrícola da Açúcar Guarani - Grupo Tereos
Op-AA-28
Desde 1992, a Guarani faz experiências com o sistema mecanizado de plantio, tendo, inclusive, projetado, produzido e utilizado, por quatro anos, seu próprio protótipo. Depois de uma visita à Austrália, em 1999, voltamos convencidos de que o plantio mecanizado seria a melhor solução.
Na época, os fornecedores de equipamentos não demonstraram muito interesse pelo sistema, forçando-nos a implementar as melhorias de performance que desenvolvíamos. Hoje, 50% da área plantada na Guarani são feitos pelo sistema mecanizado, e temos como meta atingir 90% até a safra de 2015.
O sistema de plantio mecanizado da cana vem se aperfeiçoando a cada ano, e o cenário econômico e social do setor sucroalcooleiro confirma que essa é uma opção sem volta, devido à sensível redução de custos da mecanização, além do significativo ganho na eficiência operacional.
Todas as etapas envolvidas no sistema de plantio podem ser mecanizadas, dentre as quais a sulcação, a adubação, a distribuição das mudas, a cobertura dos sulcos com aplicação simultânea de inseticida e fungicida. O plantio mecânico inicia-se, de fato, com a colheita da muda de cana na área de viveiro.
Essa operação deve ser realizada por uma colhedora equipada com acessórios que preservem a qualidade da gema. A mesma atenção deve se ter no transporte da cana até a área de plantio e no abastecimento das plantadoras. Os cuidados adotados na colheita da muda para proteger as gemas reduzem os danos em até 50%.
O plantio mecânico deve ser entendido como um sistema e não como uma atividade: a falta de atenção para esse quesito foi uma das principais razões para seu insucesso no passado. Deve-se também apontar a limitação de uso de algumas variedades no corte mecânico das mudas, em função da suscetibilidade a danos, como é o caso de materiais genéticos com gemas salientes.
A escassez por mão de obra é um dos principais fatores responsáveis pela previsão do aumento da utilização do plantio mecanizado nos próximos anos. O plantio mecanizado reduz a necessidade de mão de obra em até 80%, refletindo diretamente nos custos finais da operação. Considerando apenas os custos operacionais, sem envolver os custos anteriores – com o corte, carregamento e transporte de mudas até a área de plantio –, a mecanização do plantio é altamente vantajosa.
Porém, nas operações que envolvem o corte da muda, residem os maiores custos do sistema mecanizado, que, dependendo da distância da área de plantio, podem superar os custos do plantio manual, principalmente em função do maior consumo de muda por hectare – que ainda não foi possível reduzir.
Desde a sua introdução, o plantio mecanizado apresentou um custo inferior em relação ao plantio manual. Com o passar dos anos, essa vantagem foi aumentando, principalmente em função do aumento do custo da mão de obra, que subiu, em média, nos últimos dez anos, cerca de 20% ao ano.
Alguns fatores críticos devem ser levados em conta para se obter sucesso nesse tipo de plantio, tais como planejamento e sistematização do terreno, planejamento de viveiros e idades das mudas, preparação dos equipamentos, estrutura de apoio e treinamento da mão de obra.
Entre os principais desafios do plantio mecanizado, estão a dosagem dos toletes e a sua distribuição no sulco, o plantio no final da linha, os danos nas gemas e toletes e o controle das operações.
Os três pontos mais importantes são:
1. operadores bem treinados e comprometidos, pois são os responsáveis pela distribuição de cana no sulco;
2. a escolha da muda;
3. o corte da muda – hoje realizada com a mesma colhedora de cana utilizada na safra, com algumas modificações, porém ainda longe do ideal.
Um outro ponto de destaque diz respeito ao baixo tempo de aproveitamento na época do plantio – concentrado nos meses de fevereiro a maio, normalmente chuvosos. Esse baixo rendimento ocorre por se tratar de equipamentos pesados, tanto para colher como para plantar a muda.
Em 2011, esse aspecto foi marcante, pois as operações foram muito prejudicadas devido ao excesso de chuvas, principalmente no mês de março. Uma nova tecnologia desenvolvida pela Syngenta, denominada Plene, poderá, na minha opinião, contribuir para eliminar ou minimizar algumas das limitações apontadas.
Trata-se de uma técnica sobre a qual ainda existem dúvidas e ajustes, mas a expectativa é muito otimista, no sentido de um benefício enorme, o que deixa o setor eufórico e confiante. Atualmente, o setor dispõe de uma alternativa ao uso de plantadoras: são as chamadas distribuidoras de cana. Esse implemento não realiza a operação de sulcação e cobrição dos toletes, apenas os distribui no sulco.
A desvantagem fica por conta da necessidade de se utilizar outros implementos para essas operações, mas, mesmo assim, com custo menor que o plantio manual, principalmente pela redução do uso de mão de obra. A grande vantagem em relação ao plantio mecânico realizado com plantadoras é a possibilidade de avaliação das gemas no sulco, antes de ser coberto. O Grupo Guarani já está fazendo uso dessas distribuidoras.
Diante desse cenário, podemos confirmar a necessidade de se migrar rapidamente para o plantio mecanizado, em quase 100% da área. A preocupação que fica é se todos os pontos e ajustes que ainda precisam ser feitos, em todas as etapas do plantio mecanizado, serão resolvidos em tempo breve, para que não seja necessário pagar altos custos pela morosa correção.