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Alexandre Enrico Silva Figliolino

Consultor-sócio da MB Agro e Consultor da XP para agronegócio

OpAA77

O futuro
O setor sucroenergético vive seguramente um momento muito rico. Ao mesmo tempo que não faltam incertezas, estão se abrindo avenidas de oportunidades extremamente interessantes e promissoras. Ser um país de vasto território, em grande parte tropical, com abundância de água e luminosidade, aliado à tecnologia, possibilita ao setor o desenvolvimento de uma série de alternativas no campo energético, competitiva e bem alinhada  ao cenário de descarbonização pelo qual passará o mundo nos próximos 30 anos.
 
As incertezas passam pela competitividade do etanol de cana-de-açúcar em relação à gasolina, num governo claramente populista e preocupado apenas com seu desempenho nas próximas eleições presidenciais em 2026, o qual abandonou por completo a paridade de preços internacionais e passou a adotar uma política muito pouco transparente. Já estamos sentindo os primeiros efeitos disso que estão tornando as destilarias autônomas, que não tem açúcar em seu mix de produtos, totalmente inviáveis e operando no vermelho.
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Dada à atual situação de preços do etanol, pela não manutenção de critérios de reajustes pela Petrobras, estamos prevendo que já neste final de ano, naquelas empresas em que o nível de alavancagem financeira seja elevado haverá uma situação de insolvência devido ao nível de preços hoje observado no mercado estar bem abaixo dos custos de produção. Além disso, a concorrência com etanol de milho, atualmente, é muito mais competitiva, situação que provavelmente deve perdurar face às extraordinárias safras desse cereal que estão por vir.

Graças a Deus, o Brasil é muito competitivo na produção de açúcar, commodity cujo consumo deve crescer por volta de 2 MM de toneladas por ano, graças a expansão do mercado na África e Ásia, dá ao Brasil toda condição de manter seu elevado share atual no trade mundial entre 45 e 50%. 

Falando de novas perspectivas, vamos abordá-las abaixo em ordem decrescente de maturidade.
1. Eficiência no balanço energético da unidade para propiciar uma boa sobra de bagaço. Temos assistido à valorização da biomassa em geral, devido ao seu uso nas mais diversas indústrias, como gerador de energia, uso na indústria de suco de laranja, na secagem de grãos, na indústria de etanol de milho, na produção de etanol 2G, na geração de eletricidade – hoje o pior uso. Se não houver contratos de longo prazo com preços satisfatórios, e devido ao uso do eucalipto na crescente indústria de celulose, tornam os investimentos que proporcionam economia de bagaço muito bem-vindos.
 
2. Investimento que provoque aumento do mix açucareiro está muito presente atual-
mente na indústria, seja na montagem de novas fábricas, seja na otimização da unidade de açúcar existente. Tudo isso para aumentar a capacidade de cristalização e aumentar o mix açucareiro, uma vez que as commodities estão menos afetadas pela intervenção do governo no Brasil e ter forte comércio mundial.
 
3. Temos assistido a um crescente interesse das empresas para estudar a implantação de unidades de produção de biogás e biometano, com a utilização de torta de filtro e vinhaça. Os projetos têm mostrado crescentes índices de rendimento, apontando para um crescimento  da taxa de retorno dada às perspectivas de utilização do biogás e biometano em diferentes segmentos, desde a produção de energia, hoje o de menor retorno, até a venda no mercado para diferentes segmentos industriais, mais a promissora substituição de diesel na frota interna de veículos das usinas. Isso tende a melhorar significativamente a pegada de carbono das empresas, além dos resíduos estarem se mostrando excelentes biofertilizantes, não obstante a perda de matéria orgânica. Isso vai muito em linha com a valorização que se dá hoje à economia circular.
 
4. Implantação de unidade de produção de etanol de milho anexa a unidade esmagadora de cana-de-açúcar também tem sido alvo de muitos estudos, principalmente no Centro- Oeste, mais perto da região onde mais se produz milho de segunda safra no Brasil.  Devido à sinergia entre as duas fábricas, principalmente na questão da biomassa da cana, fonte de vapor e energia, e com perspectivas de safras abundantes nos próximos anos, essa alternativa tem sido estudada com grande carinho, não obstante o pessimismo com o comportamento dos preços do etanol no curto prazo. O etanol de milho tem se mostrado muito competitivo em relação ao etanol de cana-de-açúcar e todo o crescimento, pelo menos no curto prazo da produção de etanol, virá do milho.

5. Etanol 2G. Temos visto um grande grupo do setor colocar pesadas fichas nessa alternativa, mas acreditamos que para os pobres mortais essa opção ainda está um pouco distante, face aos elevados custos de investimento vis-à-vis aos volumes de produção alcançados, bem como algumas incertezas em relação à rota tecnológica adotada. Tudo isso leva a um elevado custo de produção, criando uma grande dependência da obtenção de contratos de longo prazo a preços bem mais remuneradores em relação ao produto convencional, que também não está ao alcance da quase totalidade do setor, mas estamos muito confiantes no futuro de longo prazo deste produto.
 
Outra coisa que coloca muita esperança para o futuro do etanol é a questão de seu uso na produção de Combustível Sustentável de Aviação (SAF), dado os compromissos das empresas aéreas de reduzirem seus níveis de emissão. Dado os volumes de combustíveis SAFs que serão exigidos, esperamos uma participação do etanol de cana-de-açúcar que podem envolver volumes bem significativos. 

Mas, fundamentalmente, mesmo reconhecendo muitas evoluções nas práticas agrícolas conseguidas pelas usinas nos últimos anos com melhorias sensíveis na qualidade das operações agrícolas, manejo varietal, um intensivo e crescente uso de tecnologia, aumento significativo do uso de bioinsumos, aguardamos ansiosamente por acontecimentos de grande impacto que podem mudar de maneira significativa a forma de se produzir cana-de-açúcar, como a cana semente que muitos benefícios trará às empresas do setor. 

Enfim, não são poucos os desafios e cada vez em níveis de complexidades infinitamente maiores, o que torna o sucroenergético cada vez mais interessante.