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Fernando Eduardo Amado Tersi

Diretor de Operações Agroindustriais da Cerradinho Bioenergia

Op-AA-52

Os desafios e as evoluções operacionais da área agrícola
O sistema brasileiro de produção agrícola  de cana-de-açúcar apresentou inúmeros avanços tecnológicos e forte modificação nos últimos 20 anos. Novos tratores e equipamentos providos de localização geográfica, que monitoram a aplicação de insumos em taxa variável e em tempo real, propiciaram maior eficácia no uso de corretivos, fertilizantes e defensivos agrícolas.  

Outras evoluções importantes percebidas referem-se ao aumento da disponibilidade da informação, do volume de congressos, eventos técnicos, boletins, periódicos – muitos deles on-line –, com informações de técnicas relacionadas a novas variedades, preparo de solo, nutrição de plantas e controle de plantas daninhas, compactação de solo durante a colheita mecanizada, entre outros assuntos específicos, estão fartamente divulgados e discutidos, sendo que a grande maioria das empresas possibilita e estimula, de forma intensiva, que seus funcionários participem e tenham acesso a toda essa nova fronteira de conhecimento.

Apesar de todas essas novas possibilidades tecnológicas disponíveis no mercado, poucas usinas ainda conseguem obter elevada produtividade agrícola nos canaviais  – acima de cem toneladas por hectare –, a um custo competitivo. Fazendo uma análise das principais causas dessas dificuldades, entendo que os principais fatores estão relacionados ao preparo primário, à nutrição, ao controle de pragas, ao manejo das plantas daninhas, ao direcionamento do tráfego e à taxa anual de reforma.  
 
O preparo primário do solo é o passo mais importante do conjunto de operações que devem acontecer na implantação inicial ou na reforma do canavial. Esse procedimento é o alicerce para o desenvolvimento da cultura. Nesse começo, os principais problemas que, eventualmente, são verificados referem-se ao baixo nível de investimento nas operações de preparo primário, principalmente na necessidade de utilização de doses adequadas de corretivos e fertilizantes minerais, adubos verdes, material orgânico ou plantio de leguminosas durante esse fundamental processo de melhoria do solo antes da implantação da cana-de-açúcar. 
 
Com isso, o que parecia inicialmente ser uma economia de custos evitada por utilizar um menor volume de insumos, máquinas e mão de obra, poderá limitar o potencial de desenvolvimento do canavial ao longo do ciclo dos cinco ou mais cortes da cultura, o que somente poderá ser modificado no próximo ciclo de implantação no momento da reforma para renovação do canavial. 
 
Na reforma do canavial, é fundamental a correção do solo do ponto de vista químico e físico, mas também a utilização de rotação de cultura deve ser considerada prática obrigatória para a obtenção de elevada produtividade agrícola, de forma sustentável ao longo dos futuros cortes do canavial.
 
Ocorreu uma grande evolução das máquinas utilizadas na implantação, no cultivo e na colheita da cana-de-açúcar. Na área de plantio, as novas plantadoras são providas de sistema de imagem diurna e noturna que balizam a qualidade da operação em tempo real. Essas máquinas estão disponíveis para o plantio da cana em toletes, apesar de ainda terem elevado consumo de cana-de-açúcar por hectare, têm possibilitado um estande inicial de plantas suficiente para alta produtividade, desde que a qualidade esteja sendo bem acompanhada e com um bom sistema de controle da confiabilidade da qualidade do serviço executado. Seguindo altos princípios de qualidade, o plantio mecanizado de toletes tem tido desempenho equivalente ao plantio de mudas pré-brotadas, que é realizado de forma bem mais individualizada. 
 
Com o canavial implantado, o monitoramento da fertilidade do solo e dos teores de macronutrientes e micronutrientes nas folhas é bastante importante. A baixa quantidade de micronutrientes, ou mesmo a sua não utilização durante o plantio e nos tratos culturais, além da padronização exagerada das doses de corretivos, gesso e macronutrientes, principalmente nitrogênio, fósforo e potássio, após os cortes, tem causado redução do potencial produtivo em vários canaviais; essa queda pode ser melhorada através de um programa nutricional que leva em conta os diferentes tipos de solo, o potencial de cada idade, a variedade e o ajuste nas doses de nutrientes de acordo com as diferenças encontradas.

O controle de pragas deve ser efetuado no momento correto, quando as mesmas forem encontradas numa região, área ou talhão, sendo definidas, primeiramente, através da implantação de um sistema de informação do nível de dano econômico de dada praga ou doença e seu monitoramento, com a ajuda de uma auditoria técnica que possa acompanhar a qualidade e o momento em que esses controles estão sendo efetuados. O atraso nesse processo de controle das pragas e doenças pode causar danos significativos à produtividade e à soqueira.
 
Com relação ao manejo das plantas daninhas, além do controle com o herbicida correto definido através de um levantamento prévio no bloco, o momento do controle também deve ser considerado, o atraso na utilização de herbicidas e outras formas de controle das plantas daninhas podem ocasionar elevado prejuízo à produtividade e também dificuldade na capacidade operacional das colhedoras no momento da colheita. O custo do controle dessas plantas pode ser considerado baixo quando comparado com as outras atividades dos tratos culturais do canavial, tais como aplicação de corretivos e fertilizantes, o que não deveria explicar eventual atraso no seu manejo, ou mesmo a utilização de herbicidas inadequados, com baixo percentual de controle das ervas daninhas presentes em uma determinada área ou talhão. 
 
A melhoria da técnica de colheita de cana mecanizada é uma área nas usinas com elevado potencial de ganhos em produtividade, principalmente relacionada ao não direcionamento do tráfego de máquinas, ocasionando o pisoteio da soqueira de cana e a compactação do solo. O carregamento mecanizado sem a utilização do devido controle da bitola dos tratores ou dos caminhões ainda causa elevada perda de produtividade devido ao pisoteio da soqueira de cana e à compactação do solo em algumas usinas, destruindo parte dos benefícios que foram obtidos através de um preparo primário de solo de qualidade, realizado anteriormente. 
 
Uma das formas de minimizar os efeitos do pisoteio e a compactação tem sido a utilização de tratores e caminhões com bitola adequada e a utilização de máquinas de colheita de duas linhas, que, apesar de ainda gerarem uma maior perda de cana no campo na operação, quando comparada às máquinas de linha simples, o que ainda necessita de maciço investimento em desenvolvimento e incorporação tecnológica pelos fabricantes de colhedoras para redução dessas perdas, mas que possibilitam uma redução expressiva da área compactada, o que poderá aumentar a produtividade e a longevidade do canavial ao longo do tempo.
 
Muitas atividades que não forem executadas corretamente na implantação do canavial  somente poderão ser corrigidas depois de cinco ou seis anos após uma nova reforma. A formação de equipes internas com a capacidade de realizar toda essa análise e correção dos pontos que estão limitando a produtividade e que precisam ser melhorados na condução operacional da área agrícola tem sido um dos principais gargalos das usinas hoje. As oportunidades de melhoria são muito grandes. 
 
O equilíbrio entre o conhecimento, o custo do que precisa ser feito e o retorno de cada ação executada é o que irá determinar quais serão as empresas que conseguirão um maior retorno do investimento realizado em cada atividade na implantação e condução do canavial, o que poderá ser decisivo na manutenção da lucratividade, principalmente em anos de safra de baixos preços do açúcar, etanol e/ou energia.