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Sergio Tamassia Barreira

Diretor Executivo de Açúcar e Álcool da Dedini

Op-AA-11

A indústria do Brasil está pronta para endossar o etanol como uma commodity internacional

O Brasil produz a cana-de-açúcar e o açúcar desde o século 16. Já o etanol, somente nas primeiras décadas do século passado é que ganhou espaço, representando uma destinação mais nobre para o então “subproduto” melaço. Na época, as destilarias eram importadas da Europa - França, Alemanha e Tcheco-Eslováquia, já que não havia tecnologia nacional, nem empresas habilitadas a fabricarem essas plantas industriais no Brasil.

No início dos anos 40, em função da necessidade de reparos nas unidades instaladas, a indústria brasileira, em especial a piracicabana, começou a se interessar pelos equipamentos e processos. Começava a se desenvolver conhecimento que habilitasse a projetar e a fabricar equipamentos e plantas. Uma contribuição especial veio da Esalq – Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, USP, através do professor Jayme Rocha de Almeida, que foi um precursor na introdução dos conhecimentos das operações unitárias, envolvidas no processo, fosse na fermentação, fosse na destilação.

Com o respaldo desse trabalho inicial da indústria, em 1975, quando o Proálcool foi criado, o parque industrial brasileiro demonstrou ter suficiente tecnologia e capacitação, para atender ao desafio e à demanda do programa. A prova foi o número expressivo de unidades implantadas em uma década, permitindo um salto na produção de etanol de 750 milhões de litros, em 1975, para 12 bilhões de litros, 10 anos depois.

Desde então, não mais paramos, apesar da crise dos anos 80 e 90. Na safra que está se encerrando (2006/07), a produção bateu a casa dos 16 bilhões de litros. A perfeita integração entre os produtores de etanol e os fabricantes de equipamentos possibilitou uma revolução nos processos, equipamentos e plantas, com eficiências dignas de registro – afinal, o setor sucroalcooleiro nacional é o mais competitivo do mundo.

Mesmo a sazonalidade das operações, que requer um planejamento adequado das manutenções e paradas, foi muito bem assimilada pela indústria de equipamentos, que atende à demanda com qualidade e prazos requeridos pelo setor. Como a manutenção em determinadas áreas da produção implica quase que em reposição completa dos equipamentos, nesta oportunidade, mais uma vez, o produtor e a indústria uniram-se, possibilitando revampings e retrofits, que não somente substituem o equipamento anterior, mas agregam novas tecnologias e eficiências. Resultado: ganhos de produção, maiores eficiências e manutenções mais espaçadas.

Ao parque industrial brasileiro, cabe o mérito de ter atendido, de estar atendendo a essa demanda, através de sua verticalização, na produção de plantas e equipamentos. Produzimos desde o minério de ferro, a chapas de aço carbono e inoxidável, moendas, caldeiras, turbinas, bombas, válvulas, etc. Em momento de globalização, a indústria brasileira sente-se orgulhosa de ter equipado o parque produtor brasileiro de etanol e açúcar, com recursos internos, evitando evasão de divisas e dando uma conotação mais nacionalista ao etanol brasileiro, que encanta o mundo.

Não podemos deixar de dar o devido crédito à indústria automobilística, que também deu seu quinhão, desenvolvendo os primeiros carros movidos a puro etanol e, mais recentemente, os motores flexíveis. Hoje, com segurança, podemos afirmar quenosso pioneirismo na produção do etanol em larga escala, que trouxe um conhecimento ímpar do processo, associado às condições territoriais e edafoclimáticas do país e ainda à capacidade industrial brasileira, permitem-nos apoiar qualquer iniciativa de transformar o etanol numa commodity internacional, bem como atender à demanda mundial por este biocombustível.

De forma complementar, destaca-se ainda o grande impacto provocado pelo recente Relatório da ONU sobre as alterações do clima, o que favorece sobremaneira a consolidação do bioetanol como combustível para todo o mundo. Para definir um produto como commodity internacional, é necessário que preencha alguns requisitos básicos, como: disponibilidade em larga escala e padronização de sua qualidade. No que se refere à disponibilidade, o Brasil tem as condições de atender essa exigência.

Já no caso da qualidade, estudos mais ampliados devem definir a especificação que sirva a todos os países, levando em consideração as características locais de controle de emissões e clima. Mais do que produzir etanol com grande eficiência, a indústria brasileira sabe aproveitar a cana-de-açúcar – matéria-prima completa e pronta para produção do etanol, na geração de excedente considerável de bagaço, que se transforma em bioeletricidade ou, num futuro próximo, também em etanol.

Também é possível visualizar que a indústria brasileira, associada às universidades, estará pronta para atender demandas tecnológicas de produção de etanol, utilizando outras matérias-primas. Disto, não temos dúvidas, e já estamos nos preparando! Para a indústria brasileira de equipamentos, transformar o bioetanol em commodity internacional é considerado um desafio já superado.

Cabe somente, aos investidores, darem seqüência aos projetos e estudos existentes, e aos governos, fazerem sua parte, implantando infra-estrutura suficiente e dando o devido tratamento tarifário a este produto, que possibilitará ao Brasil tornar-se o maior fornecedor mundial de bioetanol. Da parte da indústria, estamos prontos para construir um novo cenário de biocombustíveis, em sinergia com crescimento sustentável.