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José Eduardo Ribeiro

Superintendente de Energia da Dedini

Op-AA-15

A geração de excedentes comercializáveis já pode ser considerada um sucesso

A geração de energia elétrica em ciclos de cogeração é, de longe, a mais eficiente forma de produção de energia termelétrica em escala industrial, atualmente conhecida. É muito superior à eficiência dos mais modernos ciclos combinados a gás e das mais recentes e maiores usinas termelétricas a carvão ou óleo combustível.

Os mais significativos setores industriais que utilizam calor em larga escala em seus processos a utilizam extensivamente: papel e celulose, química e petroquímica, siderurgia, refinarias de petróleo e açúcar e etanol. Nenhum destes setores, contudo, tem o potencial de geração de excedentes comercializáveis de energia elétrica, que o segmento de açúcar e etanol apresenta.

A negociação destes excedentes de energia elétrica em leilões públicos, em que os fornecedores disputam entre si as oportunidades de venda de seus potenciais, aliada à possibilidade de venda de energia elétrica no mercado livre, estabeleceu um ambiente de mercado a estas negociações afastando, de forma definitiva, as injustificadas preocupações de favorecimento ao segmento de açúcar e etanol, que acreditamos ter sido a maior causa do fracasso do Proinfa.

A mudança do critério de remuneração do MWh gerado, que queremos acreditar, deu-se por excesso de zelo, foi decisiva para o insucesso do programa, especialmente para a biomassa. A Lei no 10.438 de 26/04/02, que criava o Proinfa, fixava, igualmente, para todas as fontes alternativas, um piso de 80% da tarifa média nacional de fornecimento ao consumidor final, como valor mínimo de compra da energia elétrica.

O Decreto nº 5.025 de 30/03/04, que regulamentou o Proinfa, alterou este piso para 50% para a Biomassa, 70% para as PCHs e 90% para as Eólicas. Além de não remunerar adequadamente a geração de energia elétrica excedente nas plantas de cogeração das usinas de açúcar e álcool, o novo piso desestimulou enormemente os empresários que, durante dois anos, haviam dedicado tempo e dinheiro a estudos de viabilidade, que levavam em conta os valores iniciais do programa.

Não obstante os percalços acima, a geração de excedentes comercializáveis de energia elétrica no segmento de açúcar e etanol já pode ser considerada um sucesso. A grande maioria das caldeiras e dos turbogeradores, atualmente em fornecimento para as novas unidades produtoras de açúcar e etanol e para as ampliações das unidades existentes, já foi adquirida, com a possibilidade de vir a gerar expressivos excedentes de energia elétrica.

Em tempos de petróleo a US$ 100 o barril, de indefinições no fornecimento de gás natural e de incertezas sobre a disponibilidade de energia hidrelétrica, a cogeração de energia elétrica, com a possibilidade de disponibilização de expressivos excedentes comercializáveis, que somente o setor de açúcar e etanol apresenta, deixa de ser apenas uma contribuição marginal à geração elétrica regional e uma simples questão de viabilidade econômica para os potenciais investidores, e passa a ser um importante tema de macroeconomia e uma vital questão estratégica no planejamento energético nacional.

Cabe-nos agora, indústrias, bancos e órgãos reguladores federais, estaduais e municipais, respaldados pelo sucesso sem exceções dos empreendimentos já consolidados, não só a missão de ajudar a viabilizar a iniciativa dos empresários mais arrojados e melhor estruturados, para enfrentar os intricados processos de obtenção de financiamentos, licenças ambientais e acessos a linhas de transmissão, mas também a missão de ajudar a viabilizar cada MW ainda disponível e não explorado nas indústrias em geral e nas usinas de açúcar e etanol em particular, dando procedimento e aperfeiçoando às já bem-vindas iniciativas destas entidades que, reconhecendo os inquestionáveis méritos ambientais, econômicos, sociais e estratégicos da cogeração, vem se empenhando para superar os obstáculos à sua expansão.

Com a nova dimensão que a cogeração está adquirindo nas indústrias de açúcar e etanol, é importante que não se perca de vista os cuidados em seu dimensionamento. Particular-mente, em relação aos parâmetros iniciais de pressão e temperatura, é importante lembrar que esta é o fator limitante, e não a pressão. Uma vez decidida a temperatura inicial do vapor que se pretende utilizar no ciclo de cogeração, deve-se decidir a pressão que se pretende para o vapor de processo e o eventual grau de superaquecimento a ele associado.

Com estes parâmetros definidos, a pressão do vapor principal do ciclo térmico irá depender, exclusivamente, da turbina que se venha a selecionar, ou mais especificamente, da eficiência termodinâmica desta turbina. Se, para uma dada temperatura de vapor, a pressão for muito baixa, teremos um vapor de processo excessivamente superaquecido e uma geração de energia elétrica abaixo do que seria possível, perdendo-se potencial de geração.

Por outro lado, se, para uma dada temperatura de vapor, a pressão for muito alta, teremos vapor saturado excessivamente úmido na contrapressão ou na extração da turbina, não atendendo adequadamente ao processo e onerando desnecessariamente o investimento, relativamente à pressão. Para que estes parâmetros sejam adequadamente balanceados, sugere-se que o processo de definição das pressões e temperaturas do vapor principal do ciclo térmico seja discutido simultaneamente com os fabricantes de caldeiras e com os fabricantes de turbinas, de tal forma que, tanto sob o ponto vista técnico, como sob o ponto de vista econômico, selecionem-se as melhores condições de operação para a planta de cogeração.