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Frederico Ozanan Machado Durães

Chefe Geral da Embrapa Agroenergia

Op-AA-28

A reforma e o sorgo

A atividade canavieira no Brasil tem sido modernizada continuamente, por exigências de competitividade dos mercados. Há uma busca contínua por eficiência, produtividade e sustentabilidade. Em todas as etapas do processo de produção da cana-de-açúcar, são requeridas governança empresarial, aplicação de conhecimento técnico-científico e ações cooperativas focadas em resultados e impactos.

A reforma periódica da lavoura de cana é uma atividade complexa e implica prática agronômica obrigatória, atrelada à lógica da indústria processadora, e varia com os requerimentos contínuos de resultados econômicos.

Pragas e doenças de planta e infestação dos solos com plantas invasoras, bem como a oportunidade de novos arranjos produtivos, melhoria da qualidade de solos, aproveitamento de adubos residuais, quebra de ciclo de patógeno ou redução de fonte de inóculo, acrescidos a critérios econômicos que expressam a relação benefício/custo da atividade de rotação de culturas ou mesmo o custo da terra, são práticas relevantes, dentre os fatores que determinam a escolha de época e operações para a reforma de canaviais.

Para isso, não há uma fórmula única, embora se busquem, como propriedade, e se observem em escala regional, alguns procedimentos preferenciais de reforma de canaviais. Oleaginosas (amendoim, girassol, soja) e adubos verdes (Crotalaria juncea L.) são espécies comuns em áreas de reforma.

Estudos sobre reforma de canaviais têm demonstrado a complexidade de critérios para a definição do estágio de interrupção do ciclo produtivo. A produtividade em cada corte por talhão tem sido utilizada como indicador de reforma. Genericamente, produtividades observadas entre 135 a 55 t/ha de cana, entre o 1º e o 6º ano do ciclo produtivo, indicam 60 t/ha e o 6º ano como críticos para substituição do canavial.

A reforma requer definição prévia de estratégia e práticas para implantação de novas atividades agrícolas. A competitividade do setor sucroenergético tende a maximizar o uso das terras com aumentos de produtividade e relações de critérios técnico-econômicos.

A ampliação da oferta de novos cultivares modificados, com características de especificidade e precocidade nas relações genótipo-ambiente, tende a reduzir o ciclo produtivo da lavoura, e alternativas de reforma tomarão caminhos para novos arranjos produtivos, de interesse agrícola e industrial, na escala regional.

Uma das alternativas para reforma ou substituição de canaviais, por certo, buscará incorporar a cultura de sorgo aos sistemas produtivos para alimentos e energia. A cultura do sorgo terá expansão assegurada em áreas canavieiras e não canavieiras de diversas regiões do Brasil.

O sorgo sacarino, um tipo de Sorghum bicolor (L.) Moench, com alto potencial forrageiro, apresenta colmos com caldo semelhante ao da cana, rico em açúcares fermentescíveis e pode servir para a produção de etanol na mesma instalação utilizada pela cana-de-açúcar.

Trata-se de uma espécie de ciclo rápido (quatro meses), cultura totalmente mecanizável (plantio por sementes, tratos culturais e colheita), alta produtividade de biomassa verde (60 a 80 t/ha), com altos rendimentos de etanol (3.000 a 6.000 l/ha), com bagaço utilizável como fonte de energia ou forragem para animais, contribuindo para um favorável balanço energético.

Adicionalmente, o sorgo sacarino produz grãos (2 a 5 t/ha) que apresentam características nutricionais similares às do milho, podendo ser utilizados na alimentação humana ou animal. Dados técnicos demonstram possibilidades de produção de etanol de sorgo sacarino durante a entressafra da cana-de-açúcar.

Plantios realizados no início do período chuvoso (out/nov) tornam possível a antecipação de 2 a 3 meses do período de moagem das usinas, com colheitas a partir de fevereiro e março, reduzindo, assim, o período de ociosidade das destilarias, que varia de 3 a 5 meses, com impactos na geração de renda.

A equipe da Embrapa Milho e Sorgo desenvolveu a cultivar BRS 506, que apresenta boa adaptação a diversas condições edafoclimáticas do Brasil. Também descreveu as características da cultivar e definiu os critérios agronômicos, técnicos e econômicos das boas práticas de manejo da espécie.

Parcerias públicas e privadas desenvolvem ações buscando-se otimizar os sistemas de produção do sorgo sacarino, principalmente em áreas de canaviais em renovação e, também, avalia-se o seu rendimento industrial. Observam-se resultados de 50 a 77 litros de etanol por tonelada de massa verde com ATR (açúcares totais recuperáveis), variando de 80 a 127kg de açúcar extraídos por tonelada de massa verde, utilizando-se a mesma tecnologia aplicada nas usinas. Ainda se verifica que é possível ajustar a mesma estrutura para colheita e processamento da biomassa utilizada para a cana.

Em síntese, do ponto de vista agronômico e industrial, a cultura do sorgo sacarino apresenta grande potencial para a reforma de canavial. Os estudos demonstram que se buscam opções para a reforma de 10-15% de área anual de cana-de-açúcar, que possam amortizar cerca de 30-40% do custo de implantação de um novo canavial. A rotação de culturas na reforma melhora em até 20% a produtividade do canavial. E a seleção de espécies de expressão econômica deve contribuir para atender aos interesses de produção de alimentos e energia.