Em tempos de polarização crescente, em que a sociedade global vive uma profunda dicotomia, a busca por alternativas que garantam um futuro mais digno para as próximas gerações se torna cada vez mais urgente para alguns, enquanto, para outros, continua irrelevante.
Nem mesmo os evidentes efeitos de uma mudança climática catastrófica sensibilizam aqueles que criticam o que chamam de alarmismo exagerado. Argumentam que as variações de temperatura da Terra são cíclicas e naturais, e que o ser humano não seria capaz de influenciar esses ritmos.
Sem entrar nessa controvérsia, o que se constata hoje são as evidências de transformações perceptíveis no clima. Basta lembrar como as estações do ano eram bem definidas. Nossos avós se preparavam para o inverno, o tempo das secas, das chuvas e do verão. Hoje, enfrentamos estações atípicas, com ondas de calor intenso no inverno e friagens fora de época, no verão. A humanidade encontra-se em uma encruzilhada, alimentada por visões opostas, cujo desfecho poderá definir nossa sobrevivência como espécie.
É quase consenso que a Terra não será extinta, assim como não desapareceram as pedras na transição da Idade da Pedra. O que pode estar em risco é o modo de vida como o conhecemos. Mas quem se beneficia ao negar que estamos acelerando este processo, avançando em direção a um abismo colossal? Acreditando que as atividades humanas impactam o clima e o equilíbrio do ecossistema, torna-se indispensável tratar com seriedade o processo de descarbonização. Sobre esse tema, há também diferentes narrativas.
Recentemente, o braço das Nações Unidas responsável pelas mudanças climáticas (UNFCCC) declarou que a descarbonização representa a maior transformação econômica global deste século. Durante o Fórum de Investimento Sustentável, realizado em paralelo à Assembleia Geral da ONU, Simon Stiell, secretário executivo da UNFCCC, reconheceu que há muitos ventos contrários para a descarbonização. Segundo ele, políticas inconsistentes, altas taxas de juros e desafios na oferta dificultam o processo. Ainda de acordo com a ONU, é possível aproveitar as oportunidades nas áreas de energias limpas e infraestrutura para reduzir os custos das mudanças climáticas, lembrando que o fluxo financeiro destinado a ações climáticas já alcança US$ 1 trilhão.
Apesar da falta de consenso, a crise climática tem impulsionado o desenvolvimento de soluções que poderão ajudar a neutralizar as emissões de carbono até 2050. Nesse contexto, o Brasil destaca-se ao propor ao mundo uma solução para descarbonizar a matriz energética veicular, oferecendo uma alternativa à eletrificação a bateria, que se tem mostrado ineficaz em diversos países. A solução brasileira envolve motores híbridos flex, em que veículos, ao utilizar combustíveis renováveis, geram energia para suas baterias, operando com emissões quase nulas e autonomias adequadas para um país de dimensões continentais, como o Brasil.
No entanto, essa alternativa, tão natural para nós, enfrenta críticas de visões distorcidas. Para os países exportadores de petróleo, a demanda por combustíveis fósseis deve crescer 17% até 2050, passando dos atuais 102,2 milhões de barris diários (mbd) para 120,1 mbd. Com um poderoso lobby global, a OPEP afirmou recentemente que as previsões de redução de emissões são uma fantasia, desconectada da realidade. Em contraponto, com menos poder, está a Agência Internacional de Energia (AIE), que prevê um pico na demanda por combustíveis fósseis até o final desta década, seguido de uma redução impulsionada pelo aumento dos veículos elétricos e das energias renováveis.
A mensagem da COP28, realizada em Dubai, foi clara: abandonar os combustíveis fósseis e triplicar a capacidade das energias renováveis até 2030. O prazo pode parecer curto, mas a emergência climática exige ação imediata para evitar maiores riscos de catástrofes.
No Brasil, desde o início do ano, testemunhamos impactos extremos. No Rio Grande do Sul, chuvas devastadoras causaram prejuízos milionários. Agora, a seca severa no Centro-Sul compromete a produtividade agrícola, agravada por incêndios sem precedentes. Se tudo isso não for suficiente para nos alertar sobre a urgência da adoção de bioenergia como mitigadora dos gases de efeito estufa, temo que nada mais será. Continuaremos inertes, à mercê dos grandes lobbies e das economias petrolíferas, cujo objetivo sempre será manter o domínio econômico global? Que o exemplo brasileiro e nossa resiliência na defesa do etanol, com todos os seus benefícios, tragam à tona a importância da descarbonização. E que, como sociedade, sejamos capazes de reverter os danos já causados pelas mudanças climáticas.