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Mônika Bergamaschi

Secretária de Agricultura do Estado de São Paulo

Op-AA-29

O que falta é planejamento estratégico

O etanol brasileiro tem tido um crescimento extraordinário, com recordes não apenas na produção, mas também na demanda, especialmente do mercado interno, que consome mais de 85% da produção total. Os veículos com motores flex impulsionaram o setor, pois deram sustentação ao crescimento da oferta do produto e ao surgimento de novas plantas até 2008.

Com a crise mundial, o crédito ficou escasso e, somado ao endividamento decorrente de elevados investimentos e baixos preços de anos anteriores, houve aceleração do processo de concentração setorial. No entanto, a mais recente revisão da estimativa para a safra 2011/2012 de cana-de-açúcar, realizada pela Unica e pelo CTC, aponta para uma moagem no Centro-Sul de 533,5 milhões de toneladas, cerca de 6,6% menor do que o estimado em março passado, e queda de 4,2% em relação ao total moído na safra 2010/2011.

Vários fatores contribuíram para essa redução, como a idade avançada do canavial, menos plantios novos e menor renovação de áreas. Além disso, as áreas cultivadas receberam um menor pacote tecnológico no cultivo das soqueiras. Como resultado, queda de produtividade.

Os problemas não pararam por aí. O florescimento induzido pela combinação de diversos fatores, tais como temperatura, fotoperíodo e umidade, ocorrido em regiões produtoras nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Goiás, reduziu a concentração de açúcares nos colmos e o rendimento industrial da planta.

Não bastasse isso, algumas regiões canavieiras nos estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul e Paraná ainda sofreram os efeitos da geada no mês de junho. Fica o desafio de acelerar a renovação dos canaviais exauridos e retomar os tratos culturais naqueles ainda responsivos, principalmente cultivo e adubação, para revitalização das lavouras.

De concreto, o crescimento efetivo dos custos de produção e a política cambial, reduzindo a capacidade competitiva das exportações para o setor. Projeções relativamente conservadoras indicam que a demanda pelo etanol brasileiro, em 2020, será da ordem de 60 a 65 bilhões de litros. Para tal, a área com cana no Brasil deverá crescer dos atuais 8,6 milhões de hectares (1% do território brasileiro) para 12 milhões de hectares.

Vale acrescentar que o zoneamento agroambiental feito para a cultura indica que o Brasil possui mais de 64 milhões de hectares aptos para o cultivo, sem desmatamentos e crescendo sobre áreas de pastagens, geralmente subutilizadas ou degradadas, o que representa oito vezes a área hoje ocupada com canaviais.

A pesquisa e o melhoramento genético da cana têm contribuído muito para aumentar a produtividade (média de 1,5% ao ano). Aliás, essa é uma área em que, tradicionalmente, iniciativa privada e governo trabalham juntos, com excelentes resultados.

Do lado industrial, o Brasil domina a tecnologia, tanto para produção de etanol como também de veículos flex fuel. Porém, como a demanda por etanol será muito superior à do açúcar, o País deverá ter uma capacidade industrial instalada da ordem de 70 a 75% para produção de etanol e 25 a 30% para açúcar.

Tudo isso demanda investimentos e investidores, e a boa notícia é que eles existem, estão disponíveis e dispostos. O que falta é planejamento estratégico. Nem o Governo e nem o setor privado possuem definido um consistente plano de desenvolvimento para o setor sucroenergético.

Enquanto não existir isso e enquanto o etanol não for uma commodity, negociada em bolsa, com contratos futuros, não haverá, por parte dos novos consumidores de etanol, a segurança necessária para o fechamento de contratos de médio ou longo prazo. Eles serão a mola propulsora para gerar o novo ciclo de investimentos no setor.

Outro gargalo para a exportação do etanol é a infraestrutura logística das áreas produtoras para os terminais de escoamento, armazenamento e portos. Ainda que existissem excedentes no mercado interno e também se os Estados Unidos e outros importantes consumidores mundiais abrissem seus mercados para o etanol brasileiro, não teríamos condições de aproveitar a oportunidade no curto/médio prazos, pois a atual capacidade de exportação está limitada a menos de cinco bilhões de litros/ano.

São necessários vultosos investimentos, e a alternativa pode estar nas PPPs, inclusive com a participação de algumas das grandes companhias de petróleo e tradings, que já ensaiam os primeiros passos no setor.

A ANP poderia contribuir, e muito, na regulamentação dos protocolos, assegurando o cumprimento das metas e padrões estabelecidos, e também na equalização da curva de oferta e demanda, ajustando com maior velocidade e eficácia a mistura de anidro à gasolina, minimizando oscilações drásticas de preços, tanto por questões de sazonalidade, como também mercadológicas. Portanto, melhor do que o País ficar tentando prever o futuro do etanol brasileiro é arregaçarmos as mangas e ajudar a construí-lo!