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Henrique Penna de Siqueira

Diretor Técnico e Comercial da Jalles Machado

OpAA68

Até quando vai o ciclo de alta do NY11?
Essa é a pergunta de um US$ 1 milhão a que todos estão tentando responder. Avaliando todas as potenciais variáveis: posição dos fundos, fornecedor marginal, upside potencial, distribuição de histograma de cenários históricos, perspectivas de inflação, análise de sensibilidade, aspectos climatológicos, vacinação, efeito no petróleo da retomada. Uma coisa é certa, ninguém sabe a resposta! Se soubesse, estaria em casa faturando uma fortuna, operando o mercado.
 
Tendo em vista as incertezas, cabe a famosa frase de Warren Buffet: “Acerto e erro, mais importante é acertar muito mais do que errar”! De fato, a posição net long dos fundos especulativos vinha sendo reduzida toda semana, mas, na última informação divulgada de 15/abril, voltaram a ampliar. Mas qual seria o potencial de upside existente ainda nesse cenário de altos preços para quem está ampliando posição long nesse momento?

O Brasil é o maior player do trade flow, mas deixou de ser o fornecedor marginal. Depois de um forte swing do mix de volta ao max-açúcar, o Brasil não tem mais capacidade ociosa para produção de açúcar, e o setor ainda um pouco combalido não tem focado investimentos para ampliação. A Índia já foi o fornecedor marginal, mas também deixou de ser. Hoje, mais provavelmente, está com a Tailândia a tarefa de ampliar oferta ao trade flow, apesar de estarem lá também apresentando sinais de quebra de produtividade.

O petróleo, com a vacinação nos países desenvolvidos, especialmente os EUA, está mais fortalecido. A retomada da economia já dá sinais fortes, e os estoques de petróleo estão mais baixos. Ainda assim, as regiões mais distantes do porto continuam incentivadas a produzir açúcar, podendo o preço cair por volta de 10%, sem que o CS perca esse incentivo. Se isso ocorresse agora, com certeza o açúcar teria que subir para que essas regiões não virem o mix de produção para etanol. O que se traduz também em um forte suporte para o açúcar.

Uma grande preocupação no Brasil, definitivamente, é a inflação, que, no atacado (IGPM), passou de 30% nos últimos 12 meses, mas, segundo o levantamento do CEPEA, deve levar a um aumento de custo final de 11% nas usinas, em 2021/2022. No longo prazo, pode se transformar em um grande problema para nós produtores, pois precisaremos de um novo patamar de preços para permanecermos competitivos. Em contrapartida, o câmbio alto muito tem nos ajudado a manter a competitividade e, sem reformas fiscais estruturais no horizonte, somado a um governo hoje impopular, que entra em eleições em 2022, não existem sinais de fortalecimento do Real.

Fatores climáticos também estão apimentando o cenário mundial. O Centro-Sul passou por uma das maiores secas dos últimos anos 
em 2020, e o  que ainda não se recuperou está enfrentando também um abril com precipitação abaixo da média histórica. As chuvas de abril eram desejadas por muitas regiões como necessárias para restabelecer o canavial, ganhando mais 3 ou 4 semanas de desenvolvimento do canavial. Já temos casas respeitadas do mercado falando em quebra adicional de produção, uma delas dizendo que a produção de cana do CS pode chegar até a 530 milhões de toneladas de cana, cenário extremamente pessimista, com uma quebra de mais de 10% na produtividade, sem falar na quebra do ATR, que deve voltar aos 140 kg/t.
 
A geada da França também adicionou perdas do lado da oferta. O total de hectares atingidos nas sucessivas ondas podem ter impactado 10% da beterraba na França.

Pesando tantos aspectos positivos, fica claro por que estamos vivendo um período tão longo de preços altos. Ao levantar o histórico dos últimos 30 anos e inflacionando os valores até o presente, chegaremos à conclusão de que, em somente 5% de todo esse período, tivemos preços tão altos quanto os atuais. Aproveitando essa onda, o setor sucroalcooleiro nacional aproveitou as linhas de crédito com bancos para fazer hedge e antecipar as vendas, aproveitando os bons preços e garantindo boas margens para a futura produção de açúcar. Mas não podemos deixar de lembrar que as margens serão menores no futuro, já que o preço final em R$/t está muito próximo ao valor de hoje; porém a inflação vai aumentar o custo de produção. 
 
Como consequência do forte movimento de hedge, temos um recorde de hedge futuro do setor. Importante destacar que, por já terem hedgeado grande parte da produção futura, os produtores também retiram pressão futura de vendas do mercado.

Tudo parece realmente um céu de brigadeiro, e é justamente por isso que devemos nos preocupar! Quando temos tanto incentivo de produção por parte de várias regiões do mundo, é de se esperar um movimento muito forte de produção, com a conversão de muitas áreas para a produção de cana. Importante lembrar que a Tailândia já produziu, em anos passados, 15 milhões, e a Índia, 36 milhões de toneladas de açúcar, respectivamente, hoje estão com estimativas de 7,6 e 31 milhões de toneladas de açúcar na safra atual. Portanto podem adicionar mais 12 a 13 milhões de toneladas com a capacidade instalada, sem falar em novos investimentos que podem acontecer em qualquer região do planeta. Temos certeza de que, com tanto incentivo, o açúcar vai aparecer!
 
Como toda commodity, o ciclo de baixa virá! Enquanto isso, aproveitem para fazer hedge!