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Beto Richa

Governador do Estado do Paraná

Op-AA-43

A energia da segurança

O que nos falta, hoje, é, principalmente, energia (leia-se vontade política) para, com planejamento, racionalidade, previsibilidade e sem arroubos demagógicos, determinar e cumprir uma política energética que atenda às demandas do País, evitando os atuais equívocos que, como frisam especialistas da área, comprometem seriamente o desenvolvimento socioeconômico brasileiro, prejudicando, em última análise, os contribuintes, responsáveis pela maior parte do financiamento de todo o sistema.

A energia que o Governo Federal não tem para essa  determinação desequilibra fortemente o perfil energético e prejudica o atendimento à população brasileira. O Governo Federal não assimilou os sinais de um iminente e grave problema no setor elétrico quando o País começou a enfrentar uma onda de “apagões”. Atualmente, a situação se apresenta absolutamente crítica, quase insustentável, reflexo do visível descaso das autoridades federais, além de seus erros frequentes, para uma questão estratégica e que não admite desleixo.

A Companhia Paranaense de Energia (Copel), mesmo com os danos causados por medidas para o setor tomadas pela presidente Dilma Rousseff, que provocaram corrosão na saúde financeira das empresas estaduais e inclusive da Eletrobras, com consequências ameaçadoras para todos, tem objetivos claros: contribuir para o progresso do País. Observando aspectos ambientais, operacionais e financeiros, a Copel tem definida uma política clara de produção, transmissão e distribuição de energia, visando atender aos paranaenses e aos brasileiros.

Trabalhando com várias fontes de energia, a companhia vive um dos momentos mais importantes de seus 60 anos, mesmo integrando o sistema nacional e amargando a sangria financeira provocada pelas decisões do Governo Federal. A responsabilidade ambiental da empresa e sua aposta no crescimento da geração da energia a partir de fontes alternativas fizeram com que se criasse, em 2013, uma subsidiária específica para gerir os negócios nesse segmento, a Copel Renováveis S/A.

Atualmente, essa subsidiária administra 28 centrais eólicas já concluídas, em instalação ou em projeto, reunidas em cinco grandes complexos no Rio Grande do Norte. Os complexos absorverão R$ 3 bilhões em investimentos e somarão, juntos, 700 MW de potência instalada, o suficiente para abastecer 2 milhões de residências. Um dos objetivos da Copel é ampliar a produção de energia eólica dos atuais 96 megawatts (MW) de potência instalada para 3 mil MW, até 2019, com um incremento de 3.000%.

Sabemos que a fonte renovável demonstra um custo-benefício cada vez melhor. Apesar de os investimentos iniciais de implantação serem altos, a não emissão de poluentes e o baixo impacto ao ambiente tornam prioritária, do ponto de vista ambiental, a chamada energia limpa. A produção dessa energia faz parte de um cardápio que tem altos investimentos, com a empresa presente em dez estados brasileiros (Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo, Mato Grosso, Minas Gerais, Goiás, Bahia, Maranhão e Rio Grande do Norte), com 4,3 milhões de clientes, 188 mil quilômetros de redes de distribuição e 350 subestações.

Em 2015, a Copel investirá R$ 2,47 bilhões e pretende manter esse patamar nos anos seguintes, exatamente para reforçar sua oferta e alcançar seus objetivos. Só em distribuição, a Copel investirá R$ 784 milhões para continuar a modernizar sua rede, reforçando a capacidade de fornecer energia, com mínimo possível de interrupções, consolidando sua posição de melhor distribuidora da América Latina.

A diversidade de atividades para cumprir seus objetivos, de forma programada, e a oportunidade de explorar hidrocarbonetos na região central de nosso estado nos levaram a liderar a criação, em setembro último, de uma sociedade de propósito específico, a Paraná Gás, que atuará em atividades de exploração e produção de petróleo e gás natural convencional em blocos da Bacia do Paraná.

O consórcio da Copel arrematou quatro dos onze blocos e centralizará estudos em dois deles com perspectiva de gás convencional, na região de Pitanga. Se for confirmado o alto potencial produtivo da região, a exploração pode gerar uma nova fonte de energia e a consequente frente de desenvolvimento econômico. Outra preocupação do Paraná é favorecer a instalação, por outros empreendedores, de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), usinas com capacidade menor que 30 megawatts e que não dependem de leilão para serem concedidas, apenas de autorização da Aneel e do governo do estado.

São investimentos que variam de R$ 100 milhões a R$ 300 milhões e geram até 500 empregos na obra. Depois de prontas, as PCHs, além de reforçarem o sistema nacional com energia mais barata, serão importantes fontes de receitas para os municípios sedes, que chegam a arrecadar R$ 1 milhão por ano de impostos com a usina. Paralelo a tudo isso, a conclusão da Usina Mauá, em Telêmaco Borba, e a construção de outra em Colíder, no Mato Grosso, consolidaram o retorno da Copel aos grandes empreendimentos hidráulicos desde a inauguração da Usina Salto Caxias, há 15 anos.

Entre obras em construção e projetos em carteira, a Copel possui duas hidrelétricas e 28 centrais eólicas. Em Colíder, a empresa estará presente na última fronteira de expansão da geração hidrelétrica no Brasil, a região amazônica. Com 300 MW de potência, suficiente para atender a 850 mil pessoas, a usina está sendo erguida no rio Teles Pires e deve começar a operar, comercialmente, neste ano.

Na transmissão de energia, a participação em leilões promovidos pelo Governo Federal desde 2012, com a chinesa State Grid como principal parceira na maioria deles, somará, nos próximos anos, 2.507 quilômetros aos 2.471 quilômetros em operação, dobrando os ativos da empresa nesse segmento. Sabemos que o Brasil tem um enorme potencial hídrico, porém a ausência, nos últimos doze anos, de investimentos adequados e bem programados em infraestrutura acabou condenando o País a uma realidade constrangedora no cenário internacional.

Isso se reflete, claro, no setor energético. Os equívocos se somam à – mais constrangedora ainda – situação da Petrobras, fonte de escândalos e de escárnio internacional. O fato, indiretamente, nos remete à atividade sucroalcooleira. No final da última década, quando a atividade sucroalcooleira, apesar da crise global iniciada em 2008/2009, vislumbrava ainda um futuro promissor para seus produtos e atraía capital externo, especialistas afirmavam que o conjunto das usinas brasileiras poderia representar, em volume de cogeração, uma capacidade semelhante à de uma Itaipu Binacional – simplesmente uma das maiores hidrelétricas do mundo.

Mas o que se viu foi o desestímulo ao setor sucroenergético e o desperdício do grande potencial das unidades sucroenergéticas. Essas, por meio da cogeração, produzem a energia elétrica que consomem em sua atividade, na fabricação de etanol, açúcar e outros itens, e comercializam o excedente. Porém, ao desonerar e dar preferência à gasolina importada, em detrimento do etanol brasileiro, Dilma não só desestimulou o segmento e fez com que os empresários deixassem de lado projetos para ampliar suas estruturas de cogeração (que utilizam uma matéria-prima extremamente barata e abundante, o bagaço da própria cana-de-açúcar), como manteve, por muito tempo, por razões demagógicas/eleitorais, o preço artificial da gasolina, que era revendida no mercado interno a um valor mais baixo que o custo de importação.

Assim, contribuiu ainda mais para corroer as finanças da Petrobras, já extremamente combalidas pela corrupção. A energia que nos falta se chama, em síntese, segurança. O governo, se tivesse direção, teria segurança para definir o que pretende, diante das demandas do País e com amparo técnico, para o setor. Com isso, proporcionaria segurança às empresas estatais e privadas, aos investidores e, fundamentalmente, aos contribuintes de todo o País.