Para refletirmos e olharmos para o futuro, temos que fazer a seguinte pergunta: a agroindústria é sustentável sob os cenários de preço de açúcar, etanol e energia atuais e futuros? A resposta pode vir de formas distintas, mas certamente três temas centrais estarão presentes: aumentar a produtividade agrícola, reduzir custo de produção (com maior a eficiência) e aumentar receitas (novos produtos e mercados).
A alta de produtividade agrícola passa por ações como melhoramento genético e biotecnologia, com as novas variedades, maior capacidade de produção, perfilhamento, brotação de soqueira, adaptação a mecanização e solos do cerrado, somado ao início da transgenia. Essas evoluções serão suficientes para mudarmos os patamares de produtividade de cana-de-açúcar na velocidade necessária? Qual o nível de investimento que esses programas de melhoramento recebem?
Sabemos que o desenvolvimento de uma nova variedade de cana-de-açúcar leva um período muito maior que o melhoramento de culturas como soja e milho e que, após produzida, a nova variedade leva um tempo maior para alcançar áreas comerciais. Esses são desafios importantes a serem superados, para que se aumentem os investimentos de forma a gerarmos continuamente genética de elevadas produtividades.
As práticas agrícolas seguem em evolução. Temos destaque para a adubação orgânica, com o sistema de aplicação de vinhaça localizada, que agora atinge todas as áreas agrícolas, e a utilização da torta-de-filtro no plantio, práticas associadas às tecnologias que aumentam a atividade microbiológica do solo. Outro importante elemento de prática agrícola é a proteção de cultivos, que deve priorizar o desenvolvimento de novos herbicidas, inseticidas, fungicidas e outras tecnologias de proteção e produção utilizando produtos biológicos.
O avanço tecnológico em máquinas agrícolas, principalmente na colheita, deve continuar, para garantir cada vez mais uma operação que não reduza a produtividade dos canaviais. Por exemplo, hoje a colheita não pisa mais sobre a touceira de cana devido à integração com sistemas de GPS, de forma que o canteiro em que está plantada a cana permanece sem compactação, aumentando a produtividade e a longevidade do canavial. As pesquisas devem continuar buscando alternativas que diminuam o trânsito de máquinas sobre o talhão e a consequente compactação e buscar colher mais linhas ao mesmo tempo, por exemplo.
O aumento da eficiência operacional e redução de custos (R$/t) se divide em: a) custo da terra (arrendamento e parceria); b) custo de produção (plantio/tratos); c) custo de CTT (Colheita, Transbordo e Transporte); e d) custo industrial. Começando com o custo da terra, este é estreitamente relacionado com a região e com o ambiente de produção, de forma que reduzir esse custo está relacionado a buscar terras em locais onde a demanda não seja muito grande, desde que não avance em locais de ambientes de produção muito restritivos.
Com base nisso, um aprendizado importante que tivemos nos últimos anos foi sobre a adaptabilidade de produção da cana-de-açúcar no cerrado, desde que respeitados alguns itens básicos de manejo, como a correta correção da acidez desses solos por meio do uso de corretivos (calcário/gesso/fosfato), uso de sistemas de irrigação plena ou semiplena (para canas de terço final de safra) e salvamento para as canas de meio de safra. Vale destacar que a entrada da cana-de-açúcar nas fronteiras de cerrado diminui o custo da terra, mantendo ou até aumentando a produtividade agrícola quando comparada a regiões tradicionais.
Seguindo para os custos mais relacionados à operação, o custo de produção (plantio/tratos) ganhou eficiência através de uma associação de técnicas que merecem destaque. O preparo reduzido diminui custos e interfere menos na estrutura natural dos solos, gerando melhores condições de produção. Com o plantio em sistemas de meiosi, temos um menor consumo de mudas e consequente redução significativa com transporte de muda.
Podemos mencionar também a receita adicional com a produção de leguminosas, como soja e amendoim, uso intensivo de torta-de-filtro e vinhaça para adubação em substituição à compra de fertilizantes minerais e aumento da longevidade dos canaviais, proporcionado por uma série de melhorias nas condições da produção, resultando em menor taxa de reforma, possibilitando mais colheitas de um mesmo plantio.
Novas tecnologias de plantio estão sendo desenvolvidas buscando criar a “semente” de cana, para padronizar as dimensões das estruturas de propagação vegetativa (gema) e, assim, revolucionar a eficiência dessa operação. O CTT ganhou em eficiência e redução de custo com auxílio de elementos como sistematização, blocagem e aumento dos tiros médios, programas de treinamento e monitorias a campo, sistemas de acompanhamento de colheita em tempo real, através de computadores de bordo, telemetria e demais tecnologias.
Assim como no agrícola, a indústria vem aumentando sua eficiência operacional e reduzindo custos com treinamentos, gestão em tempo real de indicadores via sistemas, adoção de novas tecnologias industriais e, principalmente, contínua automação de seus processos.
Aumentar a receita das unidades produtoras é um fator de grande importância quando estamos refletindo sobre o nosso futuro; dessa forma, algumas merecem destaque:
• A rotação de cultura com leguminosa no plantio de meiosi, normalmente soja ou amendoim, gera uma receita extra para o produtor;
• A torta-de-filtro e a vinhaça podem ser comercializadas em substituição ao fertilizante mineral ou ser usadas em uma planta de biogás, e este biogás pode ser utilizado na própria operação ou comercializado;
• A palha da cana pode ser utilizada como fonte de biomassa para que as caldeiras produzam vapor e consequentemente energia elétrica adicional;
• Na indústria, podemos agregar receita das mais diferentes formas, utilizando levedura e bagaço para fabricação de produtos para alimentação animal, ou aproveitar a celulose, açúcar e etanol como matéria-prima de uma infinidade de novos produtos que podem ser produzidos em fábricas anexas;
• Indo adiante, temos novos projetos e novas tecnologias surgindo, como a produção de cana de biomassa, seja para aumentar a produção de energia elétrica, seja para a produção de etanol através da celulose ou do milho.
Dessa forma, as opções são muitas, cabe a cada unidade produtora entender seus potenciais, suas limitações, o contexto em que estão inseridas e, uma a uma, buscar as opções que façam mais sentido. Nosso futuro estará na nossa capacidade de lidar com nossos desafios como setor, principalmente no aumento da produtividade agrícola, na redução do custo de produção (aumento da eficiência) e no aumento de nossas receitas.
Nosso País tem enorme aptidão agrícola, nossas instituições e empresas de pesquisa serão cruciais para o desenvolvimento das novas tecnologias e precisam receber investimentos. As políticas do País com o setor, através de estratégias de crescimento econômico em conjunto, a exemplo do RenovaBio, serão muito importantes, traçando planos de longo prazo para que o investidor tenha segurança em colocar seu capital nesse plano de longo prazo.
Um setor que produz alimento, combustível e energia limpa, sustentável, gerando empregos no campo e na indústria, empregos esses que impulsionam a economia do interior e o crescimento sustentável do País. Uma produção que respeita o meio ambiente, que aduba sua lavoura com seu próprio subproduto industrial, que reaproveita tudo. Ao analisarmos todos esses fatores, concluímos que o negócio de cana-de-açúcar é bom para o País e para o mundo e que, com alguns ajustes de rota, importantes, o nosso futuro tem lugar reservado.