Ex-Ministro da Agricultura, Minas e Energia, e Indústria e Comércio
Op-AA-19
Com 851 milhões de hectares, usando apenas 7,4% da área com lavouras anuais e perenes, abundância de água, tecnologias de ponta, extraordinária classe de produtores, temperaturas amenas, economia estável e uma democracia bem desenvolvida, o Brasil é a última fronteira agrícola do mundo. Nenhum outro país possui este conjunto de condições naturais, aliadas a condições econômicas, jurídicas e políticas que geram um ambiente favorável ao desenvolvimento e às práticas comerciais.
Portanto, precisamos de políticas comerciais externas, que sejam capazes de valorizar e explorar o nosso potencial e a nossa vocação agrícola. Sempre trabalhei com energia, para colocar o Brasil no cenário econômico internacional. Até recentemente, a estratégia utilizada partia do princípio de uma negociação em bloco com outros países, com o objetivo de estimular a ampliação do comércio internacional e superar as barreiras protecionistas, através da redução de tarifas e subsídios.
Estes acordos multilaterais, que levaram anos para terem suas bases construídas, provaram estar distantes do sonho de alinhar os interesses dos diversos países participantes. O fracasso da Rodada de Doha demonstrou claramente que os países desenvolvidos – e alguns emergentes - continuam resistentes à abertura dos seus mercados aos nossos produtos agrícolas, favorecendo um pequeno grupo que, sem a ajuda de subsídios, não conseguiria competir.
A dificuldade de alinhar interesses, mesmo entre países que estavam do mesmo lado da mesa de negociação, indica que devemos ampliar as negociações bilaterais e setoriais e tentar estabelecer novos acordos para acessar os mercados, sobretudo os emergentes. Não devemos abandonar as negociações multilaterais, mas elas não são mais a resposta que necessitamos.
Apesar da expectativa de mudanças na política externa pelo novo governo dos EUA, do democrata Barack Obama, é bom lembrar que seu partido sempre teve um comportamento protecionista. Portanto, não devemos esperar mudanças que possam levar a uma maior abertura comercial entre Brasil e EUA. No caso da Europa, a situação não é muito diferente. Os agricultores europeus encontram no governo dos seus países uma grande proteção dos seus interesses e, consequentemente, dos seus mercados.
Ouvi várias vezes a seguinte resposta às propostas de abertura comercial: “é difícil porque vocês são competitivos”. Ora, então para que esse discurso do livre comércio? Com o desenvolvimento dos países emergentes, surgem novos mercados, que poderão ser desenvolvidos para os nossos alimentos e biocombustíveis. Em 2008, as exportações de etanol do Brasil, tendo como destino países emergentes, aumentaram 117%, em relação ao ano anterior.
Aliás, o crescimento das exportações dos produtos do agronegócio é muito maior nos mercados emergentes do que na OECD. Uma grande oportunidade para o Brasil, por exemplo, são os países africanos, que atualmente passam por grandes transformações, em busca de maior estabilidade política e econômica.
Estes países poderiam começar a produzir o etanol, com a ajuda de tecnologia, know-how e investimento de empresas brasileiras, ajudando o Brasil a criar um mercado mundial para o etanol, à medida que outros países também começariam a produzi-lo e vendê-lo. Não dá mais para falar só em vender, é preciso investir também nos novos mercados. Aliás, o que sempre fizeram os europeus, americanos e japoneses no mercado brasileiro.
A importância do desenvolvimento de novas relações comerciais passa pela busca da redução de custos de produção, que possam dar sustentabilidade e competitividade aos nossos produtos no mercado mundial. Esta redução de custos pressupõe a análise de todo o processo e suas respectivas etapas na cadeia de produção. Assim, como novas tecnologias geram aumento de produtividade, novos métodos de colheita, transporte e manejo podem reduzir o custo do produto final.
Observar atentamente todo o processo logístico e procurar aprimorá-lo através de investimentos em terminais portuários mais modernos e eficientes e de desenvolvimento de novos corredores, como o uso da malha ferroviária ou em construção de dutos, pode viabilizar a abertura de novos mercados internacionais, à medida que se gera o conforto necessário aos nossos clientes, com a redução no risco de desabastecimento, fruto de gargalos no processo logístico interno.
O Brasil já ocupa hoje um papel de destaque no mercado internacional de açúcar e etanol, com uma produção de 31,7 milhões de toneladas de açúcar em 2008, das quais 19,5 milhões de toneladas foram exportadas, representando, aproximadamente, 40% do mercado livre internacional de açúcar. No caso do etanol, a produção do Brasil atingiu o recorde de 28 bilhões de litros produzidos, com um volume de exportação também recorde de 4,7 bilhões de litros exportados.
Mesmo com custos de produção mais baixos, o Brasil enfrentou forte competição de outros países, que se beneficiam por estarem mais próximos dos mercados consumidores e por terem melhor malha logística. O preço do frete internacional, representado pelo Índice Baltic, chegou a atingir o pico de 11.500 pontos, em meados de março do ano passado, ante os atuais 850 pontos, em janeiro de 2009.
O brutal aumento dos fretes internacionais em 2008 fez com que os nossos produtos, principalmente o açúcar, afetado também pelo excesso de oferta, sofressem pressão para redução de preços, ocasionando perda de rentabilidade. Líder do setor no Brasil, a Cosan destaca-se não somente pela sua dimensão, com moagem de 44,2 milhões de toneladas de cana-de-açúcar atingida nesta safra e produção de 3,3 milhões de toneladas de açúcar e 1,7 bilhão de litros de etanol, mas também por ser referência como único player integrado em toda a cadeia de produção, desde o plantio da cana-de-açúcar, até a venda dos seus produtos finais aos consumidores de açúcar e etanol.
Com dois terminais portuários, um para açúcar e outros grãos e outro para etanol, a Cosan busca uma contínua redução de custos, a partir de investimentos no processo logístico, que geram maior eficiência e competitividade. Através de uma iniciativa pioneira, novos contratos foram estabelecidos com empresas ferroviárias para o transporte de etanol, assim como o desenvolvimento, em conjunto com outras empresas do setor, de projetos de transporte de etanol através de dutos.
Iniciativas como estas, de empresas líderes, mostram que o Brasil está criando bases sólidas para demonstrar ao mercado mundial que pode assegurar oferta de produtos agrícolas, com qualidade e eficiência no cumprimento dos contratos. O desafio do agronegócio brasileiro hoje é vender, investir e melhorar a logística.