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Paulo Roberto Gallo

Diretor da Authomathika Sistemas de Controle

Op-AA-29

Hora de melhorar o ambiente corporativo no Brasil

Após trabalhar por quase trinta anos servindo o setor que hoje é conhecido como sucroenergético, enfrento o desafio proposto pela Revista Opiniões: tentar, neste espaço, traçar um prognóstico sobre esse mercado, em um horizonte de médio e de longo prazo. A primeira palavra que me vem à mente neste caso é: incerteza.

Muito se tem dito, nos últimos meses, com relação ao imenso potencial de mercado para o etanol (tanto anidro quanto hidratado), em termos domésticos e internacionais. As previsões mais otimistas chegam à casa da centena de bilhões de reais em investimentos, com a necessidade de dezenas de novos projetos (os greenfield), bem como a ampliação de unidades existentes.

Essas perspectivas partem da premissa de que há um constante crescimento da frota de veículos flex fuel no mercado nacional, e, consequentemente, do aumento da demanda pelo etanol hidratado. O próprio aumento da frota de veículos consumindo gasolina, no caso brasileiro, tenderia também a criar um aumento na demanda pelo etanol anidro, que, por lei, deve ser adicionado à gasolina na proporção de 18 a 25% do volume total.

À primeira vista, esse é um cenário de excepcionais oportunidades para a indústria fornecedora de produtos e serviços para o setor. No entanto, ao longo de décadas, temos visto corriqueiramente o mercado oscilar entre picos e vales com frequência alarmantes; no último “ciclo virtuoso”, pré-crise financeira do final de 2008, o setor crescia a taxas assombrosas, com inúmeros novos projetos – marcando uma nova fase do segmento, com consolidações e com a entrada de novos players no cenário de negócios.

Durante essa fase aquecida, ficaram claras as limitações tanto do setor produtivo, incapaz de atender à demanda nas quantidades e prazos então requeridos, quanto dos outros agentes envolvidos – os próprios investidores e os governos.

Nesse último ciclo, criou-se uma expectativa imensa em torno da demanda potencial pelo etanol, que seria, supostamente, estimulada pelo aumento de consumo interno, mas também (e talvez, principalmente) pelo aumento da demanda externa, decorrente de possíveis programas de adição do etanol à gasolina em diversos países, por conta dos impactos ambientais e da mitigação da emissão de gases do efeito estufa.

Na prática, o que se viu foi uma estimativa equivocada de demanda; pior: mesmo que a demanda externa houvesse crescido, haveria problemas graves com a produção de matéria-prima e com a logística para a movimentação e carregamento do etanol rumo aos mercados externos.

Surpreendentemente, após o pico da crise em 2009, a demanda interna de etanol manteve-se aquecida, graças aos incentivos governamentais destinados ao estímulo da indústria automobilística, que, combinada a fatores externos que elevaram os preços do açúcar, provocaram uma alta desenfreada nos preços do etanol, que, até então, mal remunerava o custo de produção, já que a quantidade de novas unidades que entraram em operação inundou o mercado com grande excesso de etanol.

Hoje, olhando à frente, o fornecedor de máquinas e serviços depara-se com uma difícil decisão: ampliar sua capacidade produtiva, investindo em equipamentos e recursos humanos, de modo a estar preparado para as possíveis oportunidades que virão, ou manter-se como está e correr o risco de deixar de aproveitar essas mesmas oportunidades? Se houver uma retomada forte de investimentos no setor, será algo momentâneo ou será duradouro? Será apenas mais uma “bolha” ou será um movimento sustentável?

Se o desenvolvimento do setor for sustentável (e queira Deus que sim), desde já é necessário se pensar nos desafios prementes à frente, que requerem ações de curtíssimo prazo, com resultados nem sempre rápidos: Como evitar desequilíbrios exagerados entre oferta e demanda? Como custear estoques reguladores? De que forma nós iremos prover mão de obra qualificada tanto para os fornecedores de máquinas, equipamentos e serviços quanto para a própria operação das plantas industriais? Como lidar com a legislação trabalhista arcaica, desenhada logo após a Segunda Guerra Mundial e que não vem se modernizando como deveria? De que forma se poderá adequar a gigantesca carga tributária incidente sobre as operações mercantis nesse (e em outros) setor a patamares menos predatórios?

Estudos do Banco Mundial realizados sobre um universo de 183 países classificam o Brasil apenas em 127º lugar em termos de facilidade para se fazer negócios - ou seja, em 126 países dentre 183 é mais fácil e seguro se fazer negócios que no Brasil.

Certamente, soluções que possam ser aplicadas ao setor sucroenergético poderão, além de qualquer dúvida, beneficiar os demais segmentos econômicos do Brasil. Sem profundas reformas estruturais, temo pela nossa capacidade de expandir setores econômicos estratégicos para o Brasil, como é o sucroenergético.

De modo geral, parece ser difícil ainda, para os que detêm o poder, compreender a necessidade imperiosa de se facilitar a vida daqueles que querem empreender, trabalhar, produzir, gerar e distribuir riquezas. Em 2010, dados do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário indicavam que, desde a promulgação da atual Constituição Federal, em 1988, foram editadas mais de 249.000 normas tributárias no Brasil, além da existência de aproximadamente 3.400 normas legais a serem cumpridas pelas empresas.

Tais números refletem a dificuldade de criar e manter negócios sustentáveis no Brasil. Se o negócio do etanol realmente se expandir como se espera, o maior desafio talvez não seja preparar as empresas para que atendam à demanda por equipamentos e serviços, mas sim superar o ambiente hostil ao empreendedorismo ora vigente.