Presidente da Agrícola Rio Claro
Op-AA-28
É notória a crescente necessidade do uso de energia nas diversas atividades da sociedade, assim como a preocupação em utilizar energia limpa em substituição às fontes geradoras de poluentes, como carvão mineral, petróleo e outras. A cana-de-açúcar surge novamente como uma boa opção nesse segmento, pois, com o crescente aumento das áreas com cana e a privilegiada localização dos canaviais em relação aos grandes centros consumidores de energia, associados a outros fatores que catalisam esse processo, vemos claramente uma opção viável na cultura canavieira.
Com a legislação ambiental impedindo a queima da palha da cana para colheita e o uso maciço de colhedoras, temos um grande volume de matéria-prima que necessita ser estudado e trabalhado da melhor forma, tanto para condução da lavoura como utilização desse potencial energético.
Atualmente, após a colheita de cana crua efetuada pelas colhedoras, sobram de 12 a 15 toneladas de palha por hectare, variando com época de corte, estágio do canavial, variedade da cana, etc. Essa atividade traz vantagens e desvantagens regionais, de acordo com o período da colheita.
Existe, por exemplo, maior dificuldade de brotação da soqueira, em locais de temperatura mais baixa nos meses de maio, junho, julho e meados de agosto, em parte de SP, PR e MS, com quedas de produtividade por atraso na germinação. Nesse período, notamos até 15ºC de diferença na temperatura do solo nas áreas com e sem palha, nas quatro primeiras horas do dia.
Pragas como cigarrinhas, que aparecem com maior intensidade, dificuldades de cultivar, possibilidades de fogo na soca e outros fatores levaram a novas técnicas. O tráfego na lavoura para manejo da palha é ponto negativo que deve ser observado. Podemos dizer que há vantagens em deixar parte da palha no solo, como alteração na biologia e na química de solo, melhor conservação da umidade, variações na utilização de herbicidas etc.
Buscando alternativas que possam ser viáveis, tanto para lavoura, com receita nesse novo produto, quanto para indústria, estamos há cinco safras em parceria com a Zilor, em um projeto pioneiro para geração de energia, recolhendo parte dessa palha, misturada ao bagaço da cana. Fazemos esse processo no campo, através de aleiramento, após 7 a 10 dias da colheita, quando a umidade da palha está próxima de 13%.
Normalmente, recolhemos de 60 a 70% do volume por hectare, para permitir ganhos com umidade no solo e menor impureza mineral nos fardos. Após aleiramento, estamos trabalhando com enfardadoras, que fazem fardos redondos e quadrados, com vantagens no quadrado, pois o rendimento operacional é maior.
São fardos de 400 kg, contra 120 a 160kg dos redondos; nos quadrados, o processo é de prensagem, já nos redondos, “amarração,” tendo este último maior dificuldade em desenfardar para trituração e perdas em densidade de carga no transporte por acomodação destes na carroceria e carretas. Acredito que o sistema de recolhimentos por fardos e a trituração, com mistura no bagaço na indústria, são atualmente mais viáveis. Trabalhamos com material de baixa umidade, tendo uma matéria-prima com mais de 3.200 kg cal/ kg, contra o bagaço com umidade de 50% a 1.800 kg cal/kg.
Na safra de 2010, a Agrícola Rio Claro recolheu 12.300 toneladas, utilizando, para aleiramento, um trator de 70cv em período parcial; para enfardar no sistema redondo, três tratores de 75 a 90cv, ou um trator acima de 140cv; para enfardadora no sistema fardos quadrados, uma carregadora de cana e um caminhão com quatro carretas.
A venda da palha tem proporcionado um lucro no final da atividade, para o produtor e, principalmente, para a indústria com geração de energia. Estamos também estudando outros produtos para utilização da palha in natura, como briquetes e pellets.
A baixa umidade conseguida naturalmente no campo dispensa a secagem artificial, que é necessária e agrega custos em outros materiais, como madeira ; a dificuldade está na trituração, e ainda estamos procurando melhor opção, extrusar ou prensar para utilização no processo escolhido é “fácil”, acreditamos em mercado e boa remuneração devido a facilidades de sua utilização em caldeiras, queimadores e fornos.