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Dib Nunes Junior

Diretor do Grupo IDEA

OpAA78

A cana-de-açúcar e a onda da sustentabilidade
Desde 1972, quando as mudanças climáticas foram denunciadas em Estocolmo, em uma das primeiras conferências sobre o Clima, a ONU abraçou essa causa, pois percebeu ser um tema de alta relevância que afetaria todos os países do mundo. Desde então, já foram promovidas muitas convenções e assinaturas de protocolos de intenções sugerindo procedimentos para elaboração de políticas socioambientais com  apoio de mais de 170 países. Houve inúmeras campanhas para mitigação de emissão de GEEs, Gases do Efeito Estufa, tendo como bandeira as enormes catástrofes ambientais que o aumento da temperatura causaria ao planeta.
 
A partir daí, uma onda se criou e, como um enorme Tsunami, foi arrastando todos os setores da sociedade, como a saúde, a educação, a mobilidade urbana, o meio ambiente, a infraestrutura, o agronegócio, etc. Aos poucos, recebeu a adesão de muitos países e dos conglomerados financeiros que dominam os principais ramos de atividades em todo o mundo.

Uma palavra passou a dominar todos os ramos de atividades: sustentabilidade. De fato,  se transformou em um novo conceito de gestão de negócios. Com o conceito de sustentabilidade, vieram dezenas de “filhotes” que passaram a fazer parte do cotidiano das empresas, causando profundas mudanças nos processos produtivos. Pela velocidade com que estão sendo adotadas, elas demonstram um poder sem igual para fazer uma grande revolução.  

Os conceitos que envolvem a sustentabilidade são maravilhosos, pois propõem, acima de tudo, reverter e evitar a destruição dos recursos naturais pelo próprio homem, dando ênfase à preservação das florestas, dos rios e da biodiversidade. Eles obrigam as empresas a tratar dejetos, cuidar da água e despoluir o ar, além de fazer a difícil transição energética para substituir os combustíveis fosseis por fontes de energia limpa e renovável. 

Como não poderia deixar de ser, a cana-de-açúcar, com seus quase 10 milhões de hectares de cultivo e uma produção de 660 milhões de toneladas, tem dado sua contribuição. A cana, essa fonte renovável de energia, voltou a ganhar importância, pois, juntamente com o milho, são matérias-primas para produção do etanol combustível, cuja emissão de gases é quatro vezes menor que a de veículos a gasolina. Uma relação da ordem de 37 gramas de CO2 por km rodado contra 155 g/km da gasolina pura. 

O setor sucroenergético poderá ampliar sua contribuição, uma vez que se provou que a gaseificação do etanol é uma das melhores fontes de produção do hidrogênio combustível, o H2V - o hidrogênio verde, que é totalmente limpo e poderá ser produzido e exportado em grande escala. Na produção do H2V, há alta demanda por energia elétrica produzida através do bagaço da cana. O setor se tornou um exemplo perfeito de um circuito fechado de uma economia circular, em que nada se perde e tudo se transforma.

Haverá uma grande demanda de investimentos da ordem de bilhões de dólares em equipamentos, mão de obra especializada, insumos, infraestrutura, etc. O Brasil precisa também da regulamentação de procedimentos para evitar distorções e consolidar as exigências do IPCC.

Entretanto, há, ainda, muitos exageros por parte de ambientalistas na busca pela redução de emissões de GEE. Por isso, o agronegócio corre sérios riscos de ser penalizado, caso não se dê a devida proteção à segurança alimentar. Por exemplo: como evitar a emissão de gases pela flatulência do gado ruminante? Como evitar as emissões de CO2 a partir da fermentação do caldo da cana? Quando será possível substituir os altos volumes de óleo diesel das máquinas nas operações agrícolas e no transporte da produção de cana? Tudo isso tem sido questionado e as soluções virão, porém, gradativamente. 

É importante, nesse momento, ficar atento aos conhecidos oportunistas de plantão, que se aproveitam da situação para entrar nessa onda, distorcendo os princípios originais da sustentabilidade em benefício próprio ou de alguma ideologia política. Corre-se o risco de usar o clima como cortina de fumaça para esconder velhos problemas socioambientais e, até mesmo, aumentar impostos. 

Devido à forte pressão internacional sobre o agronegócio, produtores rurais passaram a ser assombrados com possibilidades de desapropriações de terras, multas ambientais, corte de financiamentos, além de proibições de exportação de seus produtos. Pode haver ainda um claro desvio de finalidade e uma evidente distorção das boas intenções protocoladas na COP92 e referendadas na última convenção do clima. 

No Brasil, o Estado deseja aproveitar a oportunidade de dominação para criar o Selo Verde e o Selo Amazônia para ditar regras socioambientais aos produtores e exportadores de produtos do agro, sem ter qualquer condição de auditar processos, mesmo não sendo competência do ramo. Essas medidas mitigadoras de GEE e protetoras de meio ambiente não podem se transformar em uma irresponsável trava ao desenvolvimento do país. 

A interpretação de leis e medidas socioambientais, frequentemente distorcida pelo judiciário e pelo mau uso devido a interesses políticos, já tem atrasado a conclusão de várias obras, como rodovias, estradas de ferro, barragens, a exploração de grandes reservas de potássio, por se encontrarem em reservas indígenas, e impedimento da exploração de novos poços de petróleo em áreas protegidas, dentre outras. 

Estão também na esteira dessa onda do politicamente correto e da mitigação de emissões de GEE as políticas ESG (acróstico para Environmental, Social and Governance) nas empresas. 

Trata-se de mais uma proposta apresentada pela controversa ONU em 2004, reforçando os conceitos do Globalismo. São princípios de gestão que prometem trazer mais bem-estar aos funcionários, respeito aos princípios de preservação do meio ambiente e, ainda, garantir a lucratividade dos negócios. Assim, uma nova onda de ajustamento de conduta foi disparada, só que ainda não se sabe qual é seu o verdadeiro impacto sobre os custos de produção das empresas. Muitas delas apressaram-se a obter certificações e a adotar o ESG para constar em seus balanços para ter acesso garantido a financiamentos bancários. 

O sistema ESG seria outro modismo como muitos outros que já passaram pelas empresas nos últimos anos? E o agronegócio já não está enquadrado o suficiente? Seria muito prudente que o sistema ESG, antes de ser exigido, tivesse um desenvolvimento especial para o agronegócio, pois não se deve esquecer que o produtor rural gosta, antes de tudo, de terra, ar, sol e chuva. 

O setor canavieiro do Brasil tem revisto e aprimorado todas as suas práticas agrícolas, visando à máxima mitigação das emissões de GEE. Novas tecnologias e grandes mudanças foram implantadas, até o momento, as quais contemplam os seguintes objetivos: revisão de práticas de conservação de solo, redução de operações agrícolas que utilizam muita energia, plantio direto sobre restos de cultura, desenvolvimento de equipamentos multifuncionais, utilização de resíduos orgânicos de origem animal para substituição parcial do adubo nitrogenado, utilização de variedades mais agressivas de fechamento rápido de entrelinhas para redução do uso de herbicidas, maximização do uso de resíduos industriais, utilização de práticas regenerativas de solo, rotacionando com mix de plantas de cobertura e leguminosas, uso de bioinsumos à base de microrganismos benéficos para o controle de pragas e doenças, racionalização do uso da água na irrigação, colheita de quase 100% da cana sem queima prévia, manejo adequado ou recolhimento de palha para produção de energia e, finalmente, busca contínua por melhorias nos processos agroindustriais não emissores de gases. 

Espera-se que isso tudo promova grandes mudanças na gestão e uma significativa melhoria na eficiência dos processos produtivos, com a conversão desses ganhos em certificados de descarbonização, em aumento de produtividade agroindustrial e, consequentemente, em dividendos financeiros para as empresas. Não está bom?