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Ricardo Albuquerque Rezende Filho

Vice-presidente da Alcopar

Op-AA-16

Logística: o nó górdio do setor sucroalcooleiro

Ao militarmos no setor sucroalcooleiro há décadas, já o vimos passar por diversas fases: desde crises profundas, até otimismos exacerbados. Entretanto, nos últimos tempos, com o advento da elevação constante dos preços do petróleo e dos biocombustíveis – que em minha opinião deveriam ser chamados de agrocombustíveis – passando a ser decantados em verso e em prosa, estamos observando uma grande quantidade de novos investidores, cuja experiência na área é muito baixa, ou nenhuma, aportarem aqui, com elevadas quantias de recursos, principalmente captados no exterior.

São fundos de investimentos ou mesmo investidores individuais, que iniciaram a implantação de diversas unidades fabris ou investiram em outras já existentes. Tal corrida, aliada aos preços dos insumos, que são atrelados ao petróleo, à apreciação do Real, assim como à busca de mão-de-obra e equipamentos específicos, levaram a efeito uma inflação setorial, que já está impactando sobremaneira os custos de produção.

Atualmente, produzir açúcar ronda os 13 cents de dólar, por libra peso. Ora, em produtos com baixo valor agregado, como é o caso dos derivados da cana-de-açúcar, quaisquer adições ao custo básico de produção têm um forte impacto e podem, inclusive, inviabilizar a produção. Como a maioria dos investimentos está sendo feita cada vez mais para o interior do país, com justa razão, pois é lá que está a maior parte das áreas disponíveis, a custos acessíveis, vemos que o aspecto logístico torna-se vital para o sucesso destes empreendimentos.

Somente para raciocinarmos, a cada 150 km que um projeto distancia-se do litoral, há um inexorável aumento no custo de fobagem, em torno de US$ 10 por tonelada de produto. Considerando-se os preços de hoje, com os quais estamos trabalhando sem margem, tal valor representa 3,5% de incremento de custos. Assim, temos assistido a uma grande corrida, no afã de construir usinas e implantar canaviais, sem que esteja havendo uma contrapartida na construção de estradas, ferrovias, dutos e portos.

Como e a que custo vai ser escoada esta produção? A quem cabe a responsabilidade de dotar todo este segmento de condições mínimas para embarcar todo este produto? Já começam a surgir os primeiros sinais de que o céu não é tão de brigadeiro, quanto parecia ser. As fontes, cuja origem são no exterior, têm apresentado os primeiros sintomas de que os recursos são finitos.


Talvez a crise do subprime tenha acendido uma luz vermelha para os investidores, que andam por aí com os bolsos cheios de dinheiro à procura de altas taxas de retorno. O valor das ações de empresas do setor na bolsa tem revelado esta preocupação. Muitos projetos já foram postergados ou mesmo definitivamente cancelados. Há ainda os que estão sendo negociados e provavelmente muitos outros trocarão de mãos nos próximos anos.

Certamente estaremos, em um futuro próximo, diante de um novo surto de fusões e aquisições. Prevejo que, sem sombra de dúvidas, vai haver uma sangria nos próximos tempos. Principal e fundamentalmente daqueles que não se preocuparam com o escoamento de sua produção. Uma rápida visita aos portos de Santos e Paranaguá teria salvado alguns milhões de dólares de investidores incautos. Nesta safra, estamos aumentando a moagem em 60 milhões de toneladas e ainda não sentimos os seus efeitos, porque todo este incremento está sendo absorvido pelo mercado interno.

Reduziremos as exportações de açúcar, e as de álcool terão um crescimento modesto, vis-à-vis os prognósticos de um passado nem tão remoto assim. Tínhamos uma demanda reprimida, que agora está aflorando, com as melhores condições econômicas do Brasil. Entretanto, não podemos ser ingênuos e pensar que tal ritmo perpetuar-se-á. Assim, quando o mercado interno abastecer-se e a frota que roda à gasolina for substituída pelos veículos flex, teremos que estar preparados para colocar todo o nosso excedente de produção no mercado internacional.

No Paraná, os produtores, agindo cooperativamente, e em consonância com o Governo Estadual, têm atuado fortemente, no sentido de construir uma estrutura mínima de logística, que lhes assegure um escoamento saudável do açúcar e do álcool, com custos reduzidos. Estas ações começaram em 2001, com a implantação de um terminal de açúcar a granel, o qual, na última safra, já embarcou mais de 2 milhões de toneladas.

Continuaram com a implantação de um terminal para exportação de álcool, que foi concluído em 2007, e prosseguem com estudos para implantação de um alcoolduto, ligando Umuarama ao Porto de Paranaguá. Tais atitudes, tanto no Paraná como em São Paulo, têm sido realizadas pelos produtores tradicionais e para atender à sua própria demanda.

Quando começarem a operar os novos empreendimentos, o que será feito da produção? Não se vê nenhuma atitude ou investimento sendo direcionado para o equacionamento desta problemática. Sem condições de exportar, provavelmente, o mercado interno será inundado por uma grande quantidade de produto, levando a agroindústria canavieira a uma nova crise, tão grave ou maior que aquela pela qual passamos em 1998, e que nos deixaram cicatrizes profundas.

Assim, entendo que, com a máxima urgência possível, todos os produtores, juntamente com os Governos Estaduais e o Federal, deveriam atacar, com celeridade, os principais pontos destes gargalos, que tenho a ousadia de enumerar:

1. Iniciar imediatamente a implantação dos alcooldutos, sobre os quais tanto se tem falado, mas que, por enquanto, se encontram apenas nos discursos;
2. Ampliar os portos, tanto no que se refere aos cais de atracação, quanto às retroáreas, de forma que haja espaço para construção de estruturas de armazenagem adequadas;
3. Provocar mudanças na carcomida legislação de navegação por cabotagem, de forma que este tipo de modal possa ser utilizado com eficiência econômica. Somente para se ter idéia, atualmente, em função dos custos envolvidos com impostos, taxas, obrigações tributárias e trabalhistas, é mais barato levar uma tonelada de álcool de Santos para a Europa, do que a mesma tonelada de Santos para o Rio Grande do Sul ou Bahia;
4. Melhorar a eficiência de todo o modal ferroviário, exigindo que os contratos de concessão sejam obedecidos, de forma que trechos desativados sejam reativados, assim como colocar em licitação novos trajetos, incluindo aí os anéis e desvios necessários;
5. Recuperar toda a malha rodoviária que está deteriorada, bem como pavimentar e adequar onde haja deficiência, e
6. Induzir a indústria automobilística a oferecer veículos de transporte e máquinas movidos a álcool, de forma que tantos os produtores sucroalcooleiros, como os demais agricultores do país, possam utilizar o seu produto; reduzindo a demanda por óleo diesel, que além de ser mais poluente, tende a ter sua produção/consumo desequilibrado.

Somente o atendimento destes, entre outros pontos de relevância, salvaguardará o setor de enormes turbulências, assim como nos garantirá uma acessibilidade ao mercado internacional, que está precisando dos nossos produtos, mas exige confiabilidade e segurança no fornecimento.