Projetar cenários de setores da economia deveria ser um exercício de fixação de fundamentos cientificamente conhecidos com a atualidade e desenvolvimento das políticas públicas em vigor e a ação empresarial decorrente dessas políticas. Assim deve ser a reflexão sobre a análise e estratégias envolvendo a indústria crescente da bioenergia no conceito mais amplo desse segmento.
Nas variadas reflexões sobre essa matéria, independentemente do autor, está fundamentado que a indústria de bioenergia no Brasil tem um papel fundamental na transição para uma economia mais sustentável e na redução da dependência de fontes de energia fósseis. Com sua vasta extensão territorial, rica biodiversidade e avançada tecnologia agrícola no manejo sustentável das matérias-primas, o país apresenta um enorme potencial para se consolidar como líder mundial na produção e uso de bioenergia.
Contudo, esses cenários promissores encontram, ainda, desafios que precisam ser superados para alcançar todo o seu potencial. A trajetória exitosa dessa evolução setorial está ancorada no permanente aprimoramento empresarial na busca de otimização e o uso mais adequado e sustentável dos recursos naturais disponíveis:
• Existe disponibilidade territorial para ser cultivada em bases econômicas competitivas para a cana-de-açúcar sem agressão a nenhum bioma protegido, sem desmate e com a permanente busca genética de variedades que se adaptam ao melhor cultivo do ponto de vista de infestações danosas de origem animal e que melhor respondam a adversidades climáticas que subtraem produtividade fina, tanto agrícola como industrial;
• A permanente atualização do uso da mecanização agrícola de ponta que se desenvolve sem erodir prejudicialmente o solo;
• A racionalização do uso da fertirrigação, quer seja com uso adequado de fertilizantes químicos e da utilização dos resíduos industriais numa cadeia circular de uso desses resíduos que se transformam em insumos naturais, evitando o seu descarte sumário em solo e cursos d’Água;
• A manutenção, por iniciativa privada, de áreas importantes de reserva legal de mata atlântica, de recuperação de matas nativas, do repovoamento vegetal das matas ciliares e da manutenção e gerência de extensas áreas de RPPNs, relativamente expressivas, dentro do universo agrícola ocupado com a cana-de-açúcar;
• Fixação de um contingente na casa do milhão, de colaboradores no campo, assegurando renda e sustento para as suas famílias;
De forma simultânea, essa consolidada evolução se associa ao aperfeiçoamento dos processos industriais de transformação da matéria-prima em diversos produtos finais sustentáveis:
• O Brasil, como segundo maior produtor mundial do biocombustível etanol e com possibilidade de crescimento importante dessa produção, se afirma como o mais eficiente produtor desse combustível;
• A oferta de energia elétrica a partir da biomassa da palha da cana-de-açúcar e do bagaço, ainda que no patamar atual de 19,1% da oferta de energia nacional, vislumbra espaço de crescimento relevante e estratégico, quando consideradas as limitações ambientais atuais de aumento da constituição de lagos para aumento da oferta de energia a partir de hidrelétricas;
• A recente rota de produção de biometano a partir do biogás pelo aproveitamento dos resíduos industriais – torta de filtro e vinhaça – se configura como um viés importante para a oferta de gás para a indústria e para a substituição do óleo diesel na mobilidade urbana;
• O etanol, como alternativa para o fornecimento de combustível para a aviação, e o gás, como combustível sustentável e adequado para a navegação marítima, além da oferta de energia elétrica a partir da biomassa da cana-de-açúcar, estão na ponta do elenco de alternativas viáveis e com vasto mercado para esses combustíveis;
Isso faz com que, atualmente, o Brasil se apresente como um dos principais produtores de bioenergia no mundo com uma das maiores produções globais de etanol de cana-de-açúcar, com um setor sucroenergético bem estabelecido no conceito da sustentabilidade. Além disso, a produção de biodiesel a partir de óleos vegetais também tem ganhado força, impulsionada pela legislação brasileira que determina a adição obrigatória de biodiesel ao diesel fóssil, a mistura obrigatória de etanol anidro à gasolina na proporção de 27% e o gerenciamento da eficiência energética das unidades produtoras, no capítulo da redução das emissões de CO2, através da Política Nacional de Biocombustíveis – Renovabio.
A produção e oferta dessas alternativas de bioenergia, às quais o biocombustível está inserido com destaque, tem que estar transversalmente conectadas com a produção de veículos a serem utilizados na mobilidade urbana e otimizadores perfeitos do uso do biocombustível, quer seja na motorização simultânea de veículos elétricos a bateria – os veículos híbridos – quer seja na futura motorização a hidrogênio diretamente capturado do etanol mediante conversão através de células de combustível.
Como se verifica, esse cenário real reúne eficiência energética com sustentabilidade do nosso setor de bioenergia com baixa pegada de carbono, interligando com outras cadeias industriais importantes e mantendo o importante e significativo apelo social da empregabilidade, muito relevante para o Brasil, nos posicionando de forma inclusiva nos Cenários Futuros:
Etanol Hidratado e Anidro: Retomada do desenvolvimento e expansão da oferta de Etanol hidratado e anidro a partir da nacionalização do seu consumo em todos os estados, com o correspondente aumento da oferta de CBIOs e a consequente subtração da emissão de CO2 na atmosfera.
Expansão do Etanol Celulósico: A produção de etanol, a partir de biomassa celulósica, como restos de colheita, palha e bagaço, representa um cenário promissor para a indústria. Avanços em tecnologias de conversão de biomassa e investimentos em pesquisa podem tornar o etanol celulósico uma realidade comercial de larga escala, aumentando a eficiência do setor.
Biocombustíveis Avançados: O desenvolvimento de biocombustíveis avançados, como o bioquerosene para aviação e o bioetanol para uso em motores de alta performance, pode impulsionar ainda mais a indústria de bioenergia. Parcerias entre o setor público e privado podem ser essenciais para estimular a pesquisa e o desenvolvimento dessas tecnologias.
Biometano e Hidrogênio Verde: O aproveitamento do biogás e sua purificação para produção de biometano, bem como a produção de hidrogênio verde a partir de fontes renováveis, representam oportunidades significativas para diversificar a matriz energética do país. Investimentos em infraestrutura e regulação adequada serão essenciais para viabilizar essas alternativas. Torna-se necessário, então, superar os desafios e obstáculos que impedem de estabilidade no ambiente regulatório e na adoção de políticas públicas aderentes a esses cenários setoriais positivos num horizonte de tempo compatível com a consolidação dos investimentos necessários.
Políticas Públicas: Políticas governamentais claras e estáveis são necessárias para estimular os investimentos no setor, marcos regulatórios e incentivos adequados, quando necessários.
Sustentabilidade: Garantir a sustentabilidade da produção de bioenergia é essencial para evitar impactos negativos ao meio ambiente. As políticas públicas devem estar rigorosamente apoiadas no conceito do “ciclo de vida” onde sejam mensuradas as emissões de CO2 desde a origem do energético/combustível até o uso final.