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Eugênio César Ulian

Gerente de Relações Científicas da Monsanto

Op-AA-17

Brasil: liderança histórica da biotecnologia aplicada à cana-de-açúcar

O Brasil é pioneiro no desenvolvimento da biotecnologia de cana-de-açúcar no mundo. Em meados da década de 80, a Copersucar, em colaboração com o Hawaiian Sugar Planters Association - HSPA, dos Estados Unidos, financiou o primeiro projeto, com o objetivo de utilizar marcadores moleculares para o mapeamento genético da espécie Saccharum spontaneum, uma das ancestrais das variedades comerciais atuais.

Do interesse mundial despertado por esta pesquisa, nasceu o Consórcio Internacional de Biotecnologia de Cana - ICSB, um grupo formado por instituições de mais de 15 países. Ao longo dos anos 90, o ICSB financiou estudos científicos, que permitiram acumular conhecimentos que hoje fazem uma grande diferença, especialmente com o papel que a cana assumiu como a principal cultura para a geração de bioenergia.

As descobertas dos cientistas financiados pelo ICSB permitiram entender melhor a genealogia da cana e, por conseqüência, a constituição genética dos híbridos comerciais. Do ponto de vista empresarial, foi um grande negócio, uma vez que traduzir o genoma da planta significa (entre outros benefícios) explorar a possibilidade de diminuição do tempo para obtenção de novas cultivares – hoje, de 12 a 15 anos.

Nesse sentido, a biotecnologia moderna reflete-se de diferentes modos na indústria canavieira. O uso de marcadores moleculares em programas de melhoramento molecular pode adiantar o processo de produção de novas variedades convencionais, diminuindo pela metade um procedimento longo e dispendioso. Estas novas variedades são úteis em pesquisas de transformação genética, produzindo versões transgênicas com diversas características.

Dentre elas, vale citar a resistência a insetos (Bt) e a tolerância a herbicidas (RR). Pioneira no desenvolvimento da biotecnologia agrícola, a Monsanto tem avançado com as pesquisas das primeiras versões de cana transgênica Bt e RR no Brasil, cujo objetivo é a obtenção de maior produtividade, com maior preservação ambiental.

O projeto está sendo elaborado em parceria com a Alellyx/CanaVialis - empresas subsidiárias do Grupo Votorantim. A variedade vem ao encontro da demanda mundial por novas matrizes energéticas sustentáveis e renováveis – e o etanol é o que melhor responde às expectativas. De acordo com o relatório “Avaliação Econômica das Políticas de Apoio aos Biocombustíveis”, publicado em julho, pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OCDE, o etanol de cana produzido no Brasil permite reduzir as emissões de CO2 na atmosfera em até 80%, em relação aos combustíveis fósseis.

A título de comparação, o etanol de milho reduz as emissões apenas entre 20% e 50%. A organização afirma que a produção mundial de biocombustíveis deve dobrar nos próximos dez anos. O primeiro impacto significativo da cana Bt será o seu uso como uma nova alternativa para o controle da broca da cana (Diatraea saccharalis), uma praga tradicionalmente administrada pelo uso de controle biológico, com a vespinha Cotesia flavipes.

Como se sabe, esta técnica, apesar de eficiente, demanda grandes investimentos na logística, na manutenção de laboratórios, equipes para monitoramento e liberação no campo. A cana geneticamente modificada - GM, por sua vez, terá resistência à broca 24 horas por dia, nos sete dias da semana, e permite prever níveis de infestação zero de broca, nas áreas onde for plantada.

A cana tolerante a herbicidas permitirá ao agricultor uma facilidade no manejo de ervas daninhas, nunca antes imaginado. Toda a logística envolvida na renovação da lavoura e em áreas de soqueira, o uso de diferentes moléculas com controle muitas vezes ineficiente e inadequado, a fitotoxicidade e o prejuízo intangível que ela provoca, as reboleiras de mato, que precisam ser “catadas” à mão, as altas infestações de tiririca e grama-seda...

Tudo isso tornar-se-á uma lembrança do passado, quando a cana tolerante a herbicidas, como o glifosato, estiver disponível. Uma segunda geração de cana GM trará mudanças na forma como conhecemos a cultura hoje. Serão mudanças com implicações profundas na produção canavieira, pois envolverão aumento no teor de sacarose, mudanças na arquitetura da planta, no perfilhamento (e, por conseqüência, na produtividade), no teor de fibras (com implicações na moenda), na precocidade (com conseqüências no planejamento de safra) e no comportamento em relação aos diferentes estresses.

Cultivares resistentes à seca terão produtividade muito maior em áreas importantes para a expansão da cultura no Centro-Oeste. Variedades tolerantes a geadas permitirão o avanço da cultura, com segurança, para geografias onde, hoje, o prejuízo é inevitável e variedades resistentes a doenças complementarão o excelente trabalho já desenvolvido pelo melhoramento tradicional nesta área.

A terceira geração trará modificações que permitirão 100% de aproveitamento na usina. Esta cana terá processos metabólicos que, durante a colheita, serão ativados e iniciarão o processamento enzimático da fibra, ainda no caminhão. Aliada aos avanços no desenvolvimento de processos químicos e enzimáticos, para a degradação da celulose, que vem recebendo grande aporte de recursos em todo o mundo, a biotecnologia tornará a cana uma planta totalmente processada, para a produção de bioenergia, em um futuro já não tão distante.

O Brasil é, sem dúvida, o líder no desenvolvimento de cana GM. É o único país do mundo com empresas privadas e pelo menos três instituições públicas de alta tecnologia (Ridesa, IAC e Embrapa), desenvolvendo variedades geneticamente modificadas. O recente lançamento do programa Bioenergia, da Fapesp, em colaboração com entidades dos dois setores, também vai perseguir tais objetivos. Este cenário, que só tende a evoluir nos próximos anos, reflete o quanto é estratégico para a economia do país o fomento à pesquisa em biotecnologia e ao desenvolvimento tecnológico da indústria canavieira.