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Ricardo Luiz Santos Carvalho

Anfavea

Op-AA-01

Nova era para o carro a álcool

Neste 2004 o carro a álcool completa 25 anos de seu lançamento. Instituído em 1979, no âmbito do Pró-Álcool, quando da crise do petróleo, velozmente ganhou confiança do público, e já na segunda metade da década de 1980, detinha a hegemonia de vendas, chegando mesmo a romper a barreira dos 90% de participação.

Ao longo da década de 1990, entretanto, quatro fatores adversos contribuíram para a queda de participação dos carros a álcool: uma certa perda de confiança do público no abastecimento (1990); a chegada ao mercado dos carros de mil cilindradas (1993), que jamais tiveram incentivo especial para as versões a álcool; perda de incentivos; e instabilidade de preços do combustível. Assim, o produto entrou em lenta agonia. Tanto que, em 1998, venderam-se irrisórias 981 unidades, representando 0,1% do mercado.

Mas o carro a álcool demonstrou sua capacidade de sobrepujar ambientes desfavoráveis. Por força de esforços tanto dos produtores de álcool como da indústria automobilística brasileira, que, diga-se, jamais deixou de ofertar o produto, lenta e gradualmente o carro a álcool veio recuperando seu espaço e encerrou 2002 com vendas de 47,3 mil unidades e participação no mercado de 4%.

Ao longo de 2003, a recuperação do carro a álcool continuou recebendo uma inovação tecnológica que está apenas nos seus primeiros dias. O carro a álcool é agora também disponível na versão combustível flexível, “flex fuel”. As vendas gerais de carros a álcool e flex fuel em 2003 foram de 84,5 mil unidades, representando 6,9% do mercado geral de veículos leves nacionais.

Boa parte dessa recuperação vem dos carros flex fuel - novíssima geração do carro a álcool, que já respondem por mais da metade das vendas totais de álcool e flex fuel. Formidável desempenho para seu ano de lançamento. Registre-se ainda, que, como se esperava, em janeiro de 2004 essa participação do álcool e flex fuel foi mantida: 14,9% do total de vendas de veículos leves, 16 mil unidades.

Diante dessa evolução histórica e das atuais condições favoráveis que cercam os combustíveis não fósseis, (ambiente externo favorável, Protocolo de Kyoto, consagração do álcool mistura, a nova tecnologia do flex fuel), a indústria automobilística brasileira vê boas, presentes e concretas perspectivas para o carro a álcool.

Especialmente na sua versão flex fuel, fica a critério do consumidor decidir, a cada abastecimento, o combustível ou a mistura que prefere. Essa possibilidade traz renovadas responsabilidades: à indústria, o contínuo aperfeiçoamento do produto automotor; ao setor sucroalcooleiro, manter-se competitivo e oferecer as melhores relações de custo-benefício ao consumidor, além de abastecimento permanente.

Há que se considerar, porém, que a adoção do flex fuel em maior escala levará ainda algum tempo, em razão do estágio diferenciado em que se encontram as empresas automobilísticas no desenvolvimento dessa tecnologia em seus motores e em suas linhas de produção. O carro a álcool, que de início mostrava apenas virtudes econômicas, quais sejam, as de garantir a locomoção com combustível alternativo em período de crise do petróleo, evoluiu e ganhou respeito ambiental.

Além disso, mostrou-se a ponta de toda uma formidável cadeia de agronegócio, que distribui emprego e renda a milhares de pessoas. Na novíssima geração, o flex fuel, poderá também abrir perspectivas de mercado externo, sabido que a mistura álcool-gasolina vem se consagrando em escala mundial, seja por razões econômicas, seja por motivações ambientais, ou ambas, melhor dizendo.

No mercado externo, o álcool combustível também ganhou espaço. Além da adição à gasolina em vários países, alguns mercados emergentes, como China e Índia, estão particularmente interessados na produção de álcool combustível e nos veículos com motores a álcool ou flex fuel. Certamente será mais um pioneirismo brasileiro a ganhar espaço no mundo.

Da parte da indústria automobilística, do alto de cerca de 6 milhões de unidades a álcool produzidas e vendidas e da produção de veículos aptos a rodar com mistura estável álcool-gasolina (carros a gasolina) e com qualquer mistura de álcool e gasolina (veículos flex fuel), temos a consciência do dever cumprido e também a clareza de que continuaremos investindo no produto, em atenção e respeito ao consumidor brasileiro.