Me chame no WhatsApp Agora!

Álvaro Sanguino

Consultor da Asas - Alvaro Sanguino Assessoria e Planejamento

Op-AA-56

Atenção com as doenças da cana-de-açúcar
A maioria das doenças da cultura da cana-de-açúcar tem sido negligenciada pelos produtores, e os motivos dessa conduta podem ser explicados pelo costume adquirido no passado recente, quando as variedades utilizadas possuíam alta resistência genética para as principais doenças, que exigiam mínimos cuidados com as plantas no campo. Além disso, o controle do potencial de inóculo de fungos, bactérias e vírus era e é exercido pelo fogo usado nas colheitas e na queima de restos.
 
O crescimento dos canaviais e das usinas nos mais diferentes locais do território brasileiro, motivado por incentivos ou pelos preços dos produtos da cana-de-açúcar no mercado, foi feito, em sua grande maioria, sem um planejamento adequado dos plantios, principalmente no que se refere à qualidade das mudas.
 
A necessidade de grandes quantidades de mudas para atender aos milhares de hectares de novas áreas a serem plantadas na primeira década do século XXI fez com que canas com até cinco cortes fossem usadas como mudas. Além da baixa qualidade e vigor das gemas, o uso de mudas de canaviais antigos resultou numa grande disseminação de doenças sistêmicas, como o carvão, a escaldadura, o raquitismo da soqueira e o vírus do mosaico.
 
Infelizmente, esse anseio na execução rápida dos trabalhos de plantio, gerou, em sua maioria, canaviais de baixa produtividade e curta longevidade, sem levar em consideração que, na maioria dos casos, esses canaviais, nos seus primeiros cortes, serviram de fontes de mudas para novas áreas, perpetuando as baixas condições dos canaviais no futuro.

Doenças sistêmicas como a escaldadura e o raquitismo-da-soqueira provocam o entupimento dos vasos do xilema nas plantas infectadas e, portanto, interferem na condução de água e de nutrientes das raízes até as folhas, prejudicando a produtividade do canavial. Como essas doenças, na maioria dos casos, não apresentam sintomas externos nas plantas afetadas ou apresentam poucos sintomas, que não são reconhecidos nas observações de campo, o uso de mudas infectadas, associadas à transmissão mecânica pelas colheitadeiras e pelos equipamentos de cultivo, são um rápido meio de disseminação e de introdução dessas doenças em novas áreas. 
 
O carvão da cana, doença sistêmica bastante conhecida e responsável no passado por grandes prejuízos na lavoura canavieira, continua sendo negligenciado. Novas variedades, cuja reação ao fungo do carvão pouco ou nada se sabe, têm apresentado reações de suscetibilidade no campo e sido multiplicadas sem nenhum cuidado, como o tratamento térmico ou inspeções de roguing, permitindo que, em alguns locais, o carvão já se encontre em situações de até 3.000 touceiras infectadas por hectare, situação esta só reversível pela erradicação da área, acompanhada de um tempo de pousio e plantio de uma variedade resistente à doença.
 
O vírus do mosaico tem aparecido com frequência em algumas variedades em cultivo, e praticamente nenhuma medida tem sido tomada para sua erradicação ou controle. A falta de equipes especializadas em operações de roguing e a não execução dessa operação em áreas reservadas para uso como mudas têm sido o principal motivo para seu aumento.

Como o vírus do mosaico ataca os cloroplastos das plantas infectadas, a capacidade fotossintética da planta é reduzida, interferindo diretamente no processo produtivo. Além de ser um vírus sistêmico e disseminado pelas mudas, ele também é disseminado por pulgões, principalmente pelo pulgão do milho.

A manutenção de canaviais infestados e próximos de plantações de milho ou sorgo, que também são hospedeiros do vírus e dos pulgões, pode propiciar um rápido aumento de plantas doentes e também favorecer o surgimento de novas variações do vírus do mosaico que poderão atacar variedades que eram resistentes. 
 
O uso de mudas de canaviais comerciais infectados por doenças sistêmicas, onde a qualidade e sanidade das gemas são deixadas em segundo plano, poderá resultar em grandes e irrecuperáveis perdas de produtividade dos canaviais. Com o advento da colheita mecânica em canaviais sem queimar, numerosos patógenos secundários tiveram sua manifestação aumentada e, em condições especificas, provocam grandes prejuízos aos canaviais. 
 
Esses patógenos crescem nos restos de cultura mantidos no campo e podem atacar folhas e colmos, provocando grandes perdas se não forem controlados. Doenças como a antracnose, causada pelo fungo Colletotrichum falcatum, e as estrias vermelhas, causadas pela bactéria Acidovorax avenae, têm provocado, sobre algumas variedades, níveis de 20% a 35% de colmos industrializáveis mortos.

Essas duas doenças necessitam de desenvolvimento de tecnologias para o seu controle, que, sem dúvida, envolverão maiores gastos com a lavoura, visando manter melhores produtividades. Não se tem, até o momento, metodologias para o controle dessas doenças de modo eficiente e econômico. Estudos de metodologias de controle com o uso de produtos químicos, agentes biológicos e variedades resistentes devem ser priorizados pela pesquisa e pela indústria, de modo a resolver a questão da concentração de inóculo, que, antigamente, era resolvida pela queima da cana. 
 
Na nossa opinião, apesar do potencial produtivo das variedades, não atingiremos os três dígitos na média da produtividade de cana enquanto não se der a devida importância para as doenças da cana-de-açúcar e não houver um planejamento de viveiros de mudas para a produção de gemas viáveis, vigorosas e livres de doenças sistêmicas, associados a um perfeito controle das doenças secundárias.