Presidente da Orplana
Op-AA-31
Nesses últimos anos, assistimos, no setor sucroenergético, a um verdadeiro movimento de sobe e desce, que assusta qualquer cidadão com um conhecimento mínimo sobre planejamento, aplicável a qualquer negócio ou empresa. É um descontrole generalizado.
Até hoje ainda, iniciativa privada e governo não foram capazes de, ao menos tentar, organizar um setor e uma produção, que tanto têm contribuído para o País na geração de emprego, interiorização da produção, desenvolvimento e, principalmente, para a melhoria das condições ambientais, com a diminuição do uso de combustíveis fósseis.
A continuar da maneira como estamos hoje, certamente caminharemos para algo que não é de interesse do País e de sua sociedade: um cenário de grande volatilidade de preços e descontentamento em todos os setores.
Ora o governo agredindo produtores, acusando-os de falta de compromisso, esquecendo que boa parte da culpa pode ser atribuída a si mesmo, ora produtores acusando o governo de não disponibilizar recursos e provocar grande estrago no setor produtivo, gerenciar os preços da gasolina de forma distorcida, utilizando mecanismos tributários que prejudicam o etanol, já que não é possível trabalhar sem rentabilidade.
Nesse contexto, é impossível o consumidor não ficar confuso e descontente, restando-lhe argumentos de sobra para criticar. Porém, devo fazer algumas colocações voltadas, principalmente, à parte da cadeia produtiva que represento: a produção agrícola de produtores independentes. Como continuar firme na atividade, com eficiência, ganhos de produtividade e rentabilidade? Eis a grande questão.
Isso só será possível quando os envolvidos nessa cadeia traçarem um plano conjunto com o governo federal, que permita avançar de forma sustentável, contemplando os benefícios já citados da produção de etanol, permitindo uma convivência saudável com outras fontes de energia, e quando houver a clara visão da necessidade de renda aos produtores rurais.
E aí, experiências passadas são suficientes para nos mostrar que não adianta deixar o mercado por si só.
Falhas no processo produtivo ao longo dos anos, ou eventuais sobras, são problemas de todo mundo – produtores e governo –, desde que as ações sejam conjuntas. Vimos os Estados Unidos montarem um plano de produção de etanol que vem sendo cumprido à risca.
Sua produção aumenta vertiginosamente, cumprindo aquilo que foi planejado, independente da viabilidade econômica, usando dos mecanismos tributários para permitir esse desenvolvimento. Lá, é clara a visão de que o etanol é necessário para ajustes da matriz energética e resolução de problemas.
Se, comprovadamente, temos um combustível que é muito menos poluente, e é renovável, por que não incentivar essa produção e dar sequência a um trabalho que se iniciou na década de 1970?
Fazer política agrícola nesse setor é necessidade. É preciso tentar impedir que a quantidade produzida tenha variações bruscas e criar um modelo em que o produtor tenha rentabilidade. Assim, será possível permitir a sua continuidade na produção de maneira eficiente, minimizando o risco de grandes variações, como aconteceu nas safras 2008/09, 2009/10, 2010/11, quando os produtores receberam, pela produção, menos que o custo.
Os investimentos não foram realizados, o que diminuiu grandemente o nível de reforma dos canaviais.
Somando-se a esses fatores, tivemos um ano agrícola absurdamente atípico, com secas, chuvas em períodos inapropriados, geadas e alterações nas características fisiológicas da cana, promovendo alto índice de florescimento, consequente queda na produção e aumento de preços. Esse é um movimento mais que normal nas produções agrícolas, mas um plano bem feito poderia minimizar os efeitos de volatilidade, algo imprescindível.
Caberia ao governo estar ciente da situação, pois possui técnicos extremamente competentes (MAPA e CONAB), e não deixar para outros ministérios um posicionamento, muitas vezes de forma arrogante, e com propostas de caráter punitivo, como se essa fosse a solução.
Para que essa condição seja possível, é fundamental a participação do governo com a iniciativa privada, pois ele é o responsável pela confecção de nossa matriz energética.
É ele quem tem que definir o que é necessário para cada uma das áreas e como as empresas terão sustentabilidade para continuar produzindo no longo prazo. Isso definido, saberemos da real necessidade de produção de cana-de-açúcar para a produção de etanol, açúcar e, consequentemente, energia elétrica, cada vez mais necessária ao desenvolvimento deste País.