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Rogério Almeida Manso da Costa Reis

Vice-presidente da Brenco/CentroSul

Op-AA-21

Dutos para etanol: desafios e perspectivas

O mercado de etanol vem crescendo fortemente no Brasil desde a introdução dos veículos flex-fuel. A utilização das novas tecnologias e a evolução contínua desses motores, aliada às mudanças do comportamento mercadológico, contribuem para a consolidação do etanol como combustível preferencial para a frota de automóveis do país. No mercado internacional, cresce, também, o interesse pelo etanol puxado por sua baixa emissão de gases que causam o efeito estufa e demais características que o tornam combustível mais limpo que os fósseis e, quiçá, o único com viabilidade técnica e comercial amplamente comprovada.

A matriz energética brasileira, com 46% de fontes renováveis, é, hoje, uma referência para o resto do mundo; dada a eficiência na produção do etanol a partir da cana-de-açúcar, com flagrantes vantagens em relação às alternativas de produção a partir de outras culturas em outros países, essa liderança tende a aumentar. À medida que o consumo se expande, nossa capacidade produtiva acompanha a demanda.

Novas fronteiras para a cana-de-açúcar se abrem em regiões já antropizadas, consolidando novas áreas produtoras, ao mesmo tempo em que áreas já tradicionais também se tornam mais produtivas. O noroeste paulista tem sido o paradigma recente de aproveitamento de terras de pasto pouco produtivas pela cana-de-açúcar. Outras regiões, no Triângulo Mineiro, sul de Goiás, norte e sul do Mato Grosso do Sul e sudeste do Mato Grosso, já se qualificam, pela quantidade de novos projetos implantados e em implantação, como os novos polos de produção.

O desenvolvimento desses polos produtivos, em regiões cada vez mais interiores, implica a necessidade de vencer longas distâncias para escoar a produção de etanol para os grandes centros internos de consumo, assim como para a costa brasileira, rumo aos mercados internacionais. Isso é uma condição fundamental para a expansão tanto da produção quanto do mercado do etanol. Apesar dos esforços para viabilizar essa expansão, permanecemos com grandes desafios a vencer.

O crescimento da produção sem o respectivo avanço nos investimentos em infraestrutura vem acentuando a dependência de modais pouco eficientes para a movimentação de elevados volumes de combustíveis líquidos a longas distâncias, como é o caso do transporte rodoviário.
Isso é agravado pela baixa qualidade das estradas brasileiras, notadamente nas regiões interiores. Há poucas alternativas devido à reduzida cobertura da malha ferroviária e à inexistência de uma rede de dutos adequada.

Como já visto em outras commodities como o minério de ferro, torna-se condição necessária para o Brasil atingir a tão ambicionada posição de player mundial, vencer o desafio da construção de uma logística interna adequada, substituindo o oneroso e ineficiente sistema de transporte das áreas produtivas até os grandes mercados por um sistema confiável, de baixo custo e sustentável.

A solução dutoviária consolida-se hoje como a que melhor resolve essa demanda, seja pelas vantagens técnico-econômicas, ou pelos benefícios de confiabilidade, segurança e sustentabilidade.
É encorajador, portanto, ver que hoje três projetos dutoviários propostos por três empresas independentes, como o da Brenco/CentroSul Transportadora Dutoviária, PMCC Projetos de Transporte de Álcool e Uniduto Logística, proponham-se a enfrentar esse desafio.

Frutos de propostas amadurecidas desde o início da década e de complexos estudos multidisciplinares desenvolvidos ao longo dos últimos anos, seguem hoje todos os três as etapas regulatórias e de projeto necessárias para se viabilizarem no curto prazo como solução real para as necessidades decorrentes do crescimento da produção.

Cada um desses três projetos, pelo que foi exposto durante o Ethanol Summit, busca atender a diferentes necessidades e mercados, de forma que se pode vislumbrar até a possibilidade do desenvolvimento futuro de uma malha logística interligando os principais mercados e regiões produtoras. Assim, a PMCC prioriza o centro-leste de Goiás, Triângulo Mineiro e nordeste de São Paulo, com saídas pelo Rio de Janeiro e São Sebastião; a Uniduto, o nordeste de São Paulo, com exportação pelo Guarujá; e a Brenco/CentroSul, atendendo à produção na área de influência do sudoeste goiano e ao noroeste paulista, com exportação por Santos.

Todos estão esquadrinhados com base em soluções que atendam à demanda de transporte em direção aos mercados da Grande São Paulo, além da alternativa de exportações internacionais.
Certamente, uma das grandes conquistas do Ethanol Summit foi ter colocado, pela primeira vez, os três projetos em um único painel para avaliação por uma plateia bem informada e representativa dos interesses do setor, a qual incluiu produtores de etanol e derivados de petróleo, investidores, transportadores, operadores logísticos e distribuidores de combustíveis, e não se furtou a questionar pontos importantes dos projetos expostos.

Durante as apresentações, foi interessante notar a convergência de enfoques dos projetos, principalmente na preocupação com uma abordagem correta e efetiva das questões ambientais e regulatórias.
Já em fase de licenciamento ambiental, os três projetos dutoviários buscaram demonstrar de que forma estão desenvolvendo soluções de baixo impacto social às comunidades da sua área de influência e substituindo pesado tráfego e emissões do transporte por caminhão por uma solução mais limpa e de baixo consumo energético.

Além disso, preocuparam-se em sinalizar, também, como as propostas garantem benefícios econômicos e desenvolvimento social às regiões que influenciam e onde, certamente, contribuirão para maior geração de emprego e rendas, através do estímulo ao desenvolvimento de produção do etanol.
Como se podia prever, foi inevitável que a plateia se mostrasse curiosa sobre a possibilidade de integração entre os projetos.

Ainda que cada empreendedor defendesse a individualidade e as vantagens de seus modelos, não houve qualquer manifestação destes que demonstrasse a impossibilidade de algum nível de conexão entre os sistemas. Muito ao contrário, houve manifestações de que redundâncias deveriam ser evitadas. A interligação de sistemas de dutos e terminais - redes independentes que se complementam, já é uma realidade em mercados mais maduros, o que só reforça a possibilidade de o sistema, de alguma forma, caminhar para uma rede de projetos com algum nível de integração.

O Brasil ainda tem muitas oportunidades de desenvolver sua rede de dutos. Uma simples comparação de nossa malha de transporte de combustíveis líquidos com a norte-americana mostra oportunidades de desenvolvimento expressivas. Dispomos de apenas, aproximadamente, 5,3 mil km, enquanto os EUA detêm mais de 146 mil km e possuem diversas empresas privadas em operação.

Se voltarmos ao ponto de que o desenvolvimento do sistema dutoviário, mais do que um objetivo em si, será alicerce fundamental do crescimento da produção brasileira de etanol e de sua colocação no mercado internacional, de forma estrutural, com baixo custo, elevada confiabilidade e sustentabilidade, entenderemos melhor a importância do debate dessas alternativas de desenvolvimento.

Afinal, o etanol é uma commodity e, como tal, compete predominantemente via custo e garantia de fornecimento. Deslocando produtos fósseis, depende também de um sistema de baixa emissão para adequadamente atender à demanda por produtos mais sustentáveis. Restaram, porém, algumas questões latentes a ser respondidas.

Exatamente, quando estarão disponíveis esses sistemas e quanto custará o transporte via duto e a operação de novos terminais portuários? Como se comparam essas tarifas com o transporte por modais alternativos hoje e no futuro? Mais importante do que falar de uma integração conceitual dos projetos é que eles se desenvolvam em bases rentáveis e que possam de fato beneficiar a indústria e os consumidores. São todos bons temas para uma segunda rodada de debates.

Quem sabe, antes disso, já não teremos algumas soldas sendo realizadas e alguns trechos de alcoodutos enterrados? Produtores e consumidores comemorarão. E os brasileiros terão mais confiança na possibilidade desse nosso combustível abastecer o nosso e outros mercados, contribuindo para um mundo mais limpo e seguro.