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Evandro Gussi

CEO da UNICA

OpAA79

SAF: oportunidade para o Brasil voar cada vez mais alto
Quando esteve em Brasília, em janeiro de 2024, o diretor-executivo da Agência Internacional de Energia (IEA), Fatih Birol, disse que o Brasil entrará em um período sem precedentes em sua história econômica e política. Visão essa que se evidenciou em suas palavras: “O tempo do Brasil chegou. A transmissão de energia limpa no mundo não está acontecendo, mas o Brasil tem músculos e lideranças para conduzir um desenvolvimento justo e inclusivo”.

A aposta da IEA no Brasil é extremamente relevante e reforça a vocação do País para liderar a transição para baixo carbono. Já temos uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, com 49% da energia proveniente de fontes renováveis.

O etanol, um biocombustível limpo e renovável, já é utilizado no transporte rodoviário há quatro décadas, numa bem-sucedida experiência de diversificação da matriz energética, ao mesmo tempo que reduz emissões de gases de efeito estufa. E podemos ir além, com respostas efetivas para outros setores com metas desafiadoras de descarbonização, como o transporte aéreo.

A aviação responde por 2% das emissões globais de gases de efeito estufa, podendo chegar a 5%, dependendo da métrica utilizada e dos gases considerados. Faz parte do grupo dos setores mais difíceis de descarbonizar. A boa notícia é que temos aqui no Brasil enorme potencial para entrar no mercado de Combustível Sustentável para Aviação (SAF).

O SAF é considerado a alternativa mais viável para descarbonizar o setor aéreo porque pode ser misturado ao querosene de aviação fóssil na proporção de até 50%. Além disso, é a solução drop-in, ou seja, pode ser utilizada com a infraestrutura de combustível existente hoje nos aeroportos, totalmente compatíveis com as aeronaves modernas.

De acordo com a IATA – Associação Internacional de Transporte Aéreo, o SAF poderia contribuir com cerca de 65% das reduções de emissões necessárias para a aviação atingir o zero líquido até 2050, meta negociada em 2022 no âmbito da ICAO – Organização Internacional da Aviação Civil, das Nações Unidas.

Até o momento, 11 tecnologias estão certificadas pelo American Society for Testingand Materials – ASTM, para produzi-lo. Uma das rotas mais promissoras é o ATJ –Alcohol-to-Jet, que usa o etanol como base. E é nesse ponto que a experiência brasileira na produção e no uso do etanol como combustível pode desempenhar um papel ainda mais relevante, acelerando a implementação do uso de biocombustíveis na aviação.

Brasil-Japão:

No final de 2023, tivemos a oportunidade de promover discussões sobre essa questão em workshop realizado em Tóquio, no Japão. O governo japonês estabeleceu mandato para uso de 10% de SAF em 2030, para voos internacionais em aeroportos japoneses. E estima que a demanda pode chegar a 1,7 bilhão de litros de SAF por ano.

Com matérias-primas disponíveis e a possibilidade de crescimento sustentável da produtividade de etanol, o Brasil tem grande potencial para contribuir nos próximos anos com a diversificação das fontes de energia no transporte aéreo do Japão e nas diversas geografias do mundo, incluindo o mercado doméstico.

Temos capacidade técnica e operacional para entrar nesse mercado por dois caminhos: seja fornecendo insumos, como o etanol de cana-de-açúcar e de milho, seja desenvolvendo o combustível sustentável para aeronaves.

Nesse sentido, os esforços brasileiros convergem para que esse potencial seja efetivado. De um lado, encontramos políticas públicas desenhadas para alavancar a agenda de SAF, como o Combustível do Futuro, que cria o Programa Nacional de Combustível Sustentável de Aviação (ProBioQAV).

Se há políticas públicas robustas e bem estruturadas, os investidores seguem o movimento natural de mercado, respondendo à altura da demanda. E o setor produtivo brasileiro já tem empresas bem-posicionadas no cenário internacional, com certificações para a produção de SAF.

Como se pode inferir desse movimento, os desafios da agenda ambiental trazem oportunidades incríveis para descarbonizar, ampliando os negócios. Seja na terra ou nos ares, vislumbramos um futuro brilhante para o etanol.