Nos últimos anos, temos vivenciado eventos climáticos extremos como nunca: chuvas fortes e excessivas em algumas regiões e seca e calor em outras. Não restam dúvidas quanto ao aquecimento global e às mudanças climáticas. Nesse contexto, é essencial refletirmos sobre o papel do setor sucroenergético nessa nova era, em que as questões ambientais podem influenciar mais do que nunca o destino das gerações futuras.
Para essa análise, é necessário revisitarmos nosso passado e como tratamos a questão ambiental em nosso setor nos últimos anos. Vou me concentrar no passado recente, quando o etanol foi incorporado ao nosso processo produtivo, junto com o açúcar.
O etanol não surgiu em um ambiente de baixa pegada de carbono, muito menos em uma economia verde. É importante notar que o etanol nasceu como uma alternativa econômica durante uma crise de combustíveis, quando o preço da gasolina se tornou impraticável. Portanto, em sua origem, o etanol não tinha uma pegada ambiental sustentável. Na verdade, naquele momento inicial, até mesmo criamos um problema adicional ao lidar com a vinhaça, um resíduo que não tinha muitas aplicações.
Esse contexto pode explicar por que ainda hoje enfrentamos dificuldades para convencer a sociedade de que somos um setor ambientalmente sustentável. No entanto, ao longo do tempo, evoluímos como setor. As tecnologias e a conscientização mostraram que a cadeia sucroenergética poderia ser uma alternativa sustentável e ambiental para os novos tempos.
Aprendemos a lidar com nossos resíduos, que hoje são considerados subprodutos de nossa cadeia produtiva. Nossa indústria evoluiu tecnicamente com o uso de equipamentos de controle e eficiência operacional. O consumo de água em nossas operações industriais reduziu consideravelmente, a ponto de nos tornarmos um circuito fechado. Nossas emissões atmosféricas agora geram fertilizantes, e a energia que produzimos não apenas nos tornou autossuficientes, mas também criou oportunidades econômicas com a exportação para a rede de distribuição.
Na área agrícola, passamos por um processo de aumento da produtividade, associado às melhores práticas de uso e ocupação do solo. O manejo conservacionista de nossas terras tornou-se um processo produtivo natural. Nosso território foi reorganizado, com áreas de preservação ambiental e reservas legais recuperadas e incorporadas aos nossos ativos.
Então, por que ainda há dúvidas sobre a nossa sustentabilidade ambiental? A resposta é simples e direta: os tempos mudaram. Estamos na era da descarbonização total e da indústria do carbono negativo. Não podemos mais sustentar o discurso de que já fizemos a nossa parte para o ambiente ou que somos "verdes". Precisamos continuar aprimorando nossos processos produtivos e reduzir nossa pegada de carbono.
Não faz sentido aplicar tanta adubação nitrogenada ou consumir tanto combustível fóssil, apenas para citar dois exemplos. Sem falar em nossa cadeia logística na qual o diesel é que transporta quase a totalidade de nossa produção. Temos que avançar em toda nossa cadeia de fornecedores, importante agora monitoramos e acompanharmos tudo e, nos detalhes. Não basta cuidarmos apenas de nossos processos; precisamos entender toda a nossa cadeia, adotando o conceito "do berço ao túmulo".
Em resposta à pergunta inicial desse ensaio, o setor sucroenergético é, sim, sustentável do ponto de vista ambiental, pois produz um combustível renovável, gera energia limpa a partir de biomassa e é reconhecidamente mais eficiente na produção de açúcar do que outras formas. E o mais importante de todos os nossos produtos, somos uma máquina de retirada de carbono da atmosfera.
Todas essas características nos credenciam para a sustentabilidade ambiental. No entanto, estamos em uma era de informação imediata, em tempo real, acessível a toda a sociedade. Portanto, precisamos comunicar de maneira excelente e profissional todo o nosso compromisso ambiental. Neste novo contexto de mudanças climáticas, nosso papel é mostrar à sociedade nossa verdadeira vocação e sermos protagonistas proativos.