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Dib Nunes Junior

Presidente do IDEA - Instituto de Desenvolvimento Agroindustrial

Op-AA-28

É preciso obter o máximo das variedades

As empresas sucroenergéticas são frequentemente afetadas por crises de preços baixos, que as colocam em situação de graves dificuldades financeiras. O endividamento e a inadimplência levam muitas dessas empresas à transferência de controle acionário e até mesmo ao extremo de entrar com processos de recuperação judicial para evitar a falência.

Somente usinas e destilarias muito eficientes suportam períodos de crises, e, quando os preços melhoram, conseguem EBITDAs elevados que superam 30%. Para se preparar para essas turbulências, as empresas precisam buscar, continuamente, ganhos tecnológicos, operacionais e financeiros, dentro de altíssimos padrões de qualidade que lhes conferem competitividade, qualquer que seja a conjuntura de mercado.

A correta utilização das tecnologias disponíveis pode contribuir decisivamente para reduzir os impactos das crises. Uma das mais importantes tecnologias que proporcionam significativos ganhos às empresas são as variedades de cana-de-açúcar, que, se forem bem manejadas, dão muito lucro e sustentação nos períodos de dificuldades.

Isso não é tão simples de se conseguir, pois, no cotidiano das usinas, ocorrem muitos fatores que impedem o máximo aproveitamento do potencial das variedades cultivadas, tais como: falta de planejamento na alocação e na colheita, não respeitando as suas exigências e a sua maturação; falta de áreas demarcadas de colheita com variedades de características semelhantes; colheita antecipada ou demasiadamente atrasada, fugindo das características varietais; colheita de variedades de crescimento lento muito tarde; problemas externos prejudicando a melhor época de corte, como liberação de áreas para aplicação de vinhaça ou reforma, canaviais bloqueados por alienação em empréstimos bancários; fogo “acidental”; sacrifício de áreas para favorecer o início de safra ou a colheita mecanizada.

Enfim, são muitos os problemas que, certamente, reduzem os ganhos que as variedades podem proporcionar. Como reduzir esses problemas e maximizar o resultado econômico no manejo varietal? A resposta deve levar em consideração o conhecimento dos ambientes de produção e das características varietais e a integração com a área de logística para demarcar os blocos ou módulos de produção com as suas melhores épocas de colheita, além de um intensivo programa de seleção e validação de variedades no local.

A confrontação de novos cultivares com as variedades mais cultivadas e a introdução, em todos os anos, de novos clones são uma necessidade para as empresas não ficarem defasadas. Um trabalho de acompanhamento e checagem de resultados pode identificar, após as colheitas realizadas, quais variedades estão apresentando os melhores resultados.

Os registros de produção são ótimas referências para saber se  as variedades devem continuar em cultivo ou ser substituídas. Dessa forma, pode-se enquadrar o uso e o manejo de variedades dentro das metas estabelecidas de melhoria contínua de resultados, importantíssimo para que as empresas canavieiras se mantenham competitivas.

No decorrer dos últimos anos, as variedades seguraram a produção e aliviaram a crises do setor, apresentando ganhos contínuos de produtividade. Desde a década de 70, as variedades elevaram as médias agrícolas em mais de 30 toneladas por hectare no estado de São Paulo, responsável por quase 60% de toda a produção canavieira do Brasil.

Muitos são os obstáculos para se atingir produtividades economicamente viáveis, tais como ataques de pragas de solo, muitas áreas de produção em solos de baixa fertilidade, a recém-chegada ferrugem alaranjada, falta de variedades precoces para solos fracos, variedades com elevado tombamento, inadequadas à colheita mecanizada, teor de sacarose cada vez mais achatado pela longa extensão das safras, além de falta de variedades selecionadas exclusivamente para as novas fronteiras que são mais secas, mais quentes e onde florescem com maior intensidade.

Os programas de melhoramento existentes no Brasil, CTC, IAC, Ridesa e Canavialis, que são poucos para 10 milhões de hectares, atualmente cultivados com cana, têm todos esses desafios pela frente. Além de seus programas tradicionais, prometem variedades transgênicas para futuro muito próximo.

Todos os anos, são liberados novos cultivares para a realização de estudos de validação local, muito embora a maioria das usinas não esteja preparada para realização dessa fase final de confrontação com as variedades mais cultivadas na região. Essa é uma das atividades mais importantes, com maior relação custo-benefício para as empresas obterem informações para maximização do desempenho de suas variedades.

As empresas que negligenciam uma análise permanente de desempenho de variedades, ou não se interessam por ela, provavelmente terão, em futuro próximo, problemas de competitividade, pois os custos não param de subir. Somente as variedades melhoradas podem garantir produtividades agrícolas cada vez mais elevadas para proporcionar a competitividade desejada e enfrentar as dificuldades sempre presentes. Vale a pena investir nessa tecnologia!